Setembro, mês da Bíblia

    O mês de setembro, para nós cristãos católicos, é um dos meses temáticos. Neste mês, em nosso caminho de encontro com Deus, somos convidados a dar mais atenção a um importantíssimo instrumento de comunhão com Deus colocado à nossa disposição: estamos falando da Palavra de Deus, no mês que é conhecido como mês da Bíblia. Este mês recebe este título pela celebração da memória de S. Jerônimo, Bispo e Doutor da Igreja do século IV e que dedicou grande parte da sua vida a traduzir a Bíblia para o Latim e comentar os textos das Escrituras. Vale lembrar que neste ano de 2020 celebraremos os 1.600 anos de seu descanso eterno.

             Somos então convidados a renovar nosso fervor ao entrarmos em contato com a Palavra de Deus e lê-la com mais frequência, não como livros meramente humanos, mas movidos pelo mesmo Espírito pela qual elas foram escritas. Para auxiliar nossa vivência deste mês temático, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) todos os anos indica um livro específico da Bíblia para que possa ser aprofundado e meditado de forma especial, juntamente com um lema que direcione a aproximação a este livro. Neste ano de 2020, o livro indicado é o Livro do Deuteronômio, livro que pertence ao Pentateuco (os 5 primeiros livros da Bíblia), trazendo como lema: “Abre tua mão para o teu irmão” (Dt 15,11).

             O Livro do Deuteronômio pode parecer um livro de certa forma difícil e complexo quando olhamos para ele pela primeira vez. Temos neste mês da Bíblia uma grande oportunidade de vencermos esta barreira. Vale lembrar que enquanto cristãos, lemos o Antigo Testamento à luz de Cristo, Plenitude da Revelação e que todo o antigo Testamento deve ser visto como manifestação da Pedagogia Divina, de Deus que ia aos poucos formando e conduzindo seu povo no caminho de fidelidade à aliança e de reconhecimento ao Senhor como único Deus até a vinda e Cristo, que veio para levar a Lei à sua plenitude. A palavra Deuteronômio vem do grego e significa literalmente segunda lei. Este nome vem do fato de que o livro recolhe os discursos de Moisés que trarão normas e preceitos de sum importância para a constituição de Israel como um povo.  O Deuteronômio quer mostrar as características principais do povo de Israel: um povo, um Deus, uma terra, uma lei e um Templo. Deus escolheu o seu povo; essa escolha faz de Israel o povo de Deus, com quem Deus estabelece uma aliança de amor. Este povo escolhido é uma comunidade estruturada que vive em uma terra e é uma assembleia convocada por Deus no Horeb (5,22; 9,10; 10,4). Esta comunidade tenta viver a fraternidade, tendo no seu meio o juiz, o rei, o sacerdote-levita, o profeta (16,18-18,22). A Lei se torna o princípio desta vida em comunidade: a Torah deve estar no coração, o Nome de Deus nos lábios e um só santuário nacional constituem o ideal do Deuteronômio. A temática da unidade e da comunidade estão muitas vezes presentes no Livro e é exatamente baseado nisto que temos o lema específico para este mês da Bíblia, que serve como que uma chave de leitura para nos aproximarmos do Livro.

             O Lema escolhido para este mês da Bíblia – “Abre tua mão para o teu irmão” (Dt 15,11) – remete à questão da solidariedade e do cuidado com os mais necessitados no meio do povo, em especial do estrangeiro, do órfão e da viúva, citados pelo menos 11 vezes ao longo do livro. A Aliança com Deus e a identidade de povo de Deus tem como característica o cuidado com o outro, a dimensão da solidariedade, do cuidado do bem comum, da justa distribuição dos bens e na vivência fraterna em todas as dimensões da vida. Se Israel tinha vindo de uma situação e opressão, penúrias e escravidão ao estar no Egito, a nova realidade de povo de Deus traz a característica da fraternidade e do cuidado de todos para com todos.

             Sobre a importância de deixar-se interpelar pela Palavra de Deus, assim nos recorda o Papa Francisco: “A Palavra divina examina os pensamentos e os sentimentos. A Palavra da vida também é a verdade e sua palavra faz a verdade em nós, dissipando falsidades e duplicidades. As Escrituras nos desafiam constantemente para redirecionar nosso caminho para Deus. Deixar-se ‘ler’ pela Palavra de Deus nos permite tornar-nos ‘livros abertos’, reflexões vivas da Palavra que salva, testemunhas de Jesus e anunciadores de sua novidade[1]. Neste contexto especial de pandemia que estamos vivenciando, quantas oportunidades novas surgem para que possamos estender a mão, abrir a mão a tantas novas necessidades corporais e espirituais que se apresentam. Que o mês da Bíblia renove a sensibilidade em nossos corações para com as necessidades que urgentemente se apresentam.

    Não deixemos de lado este grande tesouro espiritual que nos foi confiado! Bebamos continuamente desta fonte da Revelação como caminho seguro e eficaz para nos encontrarmos com Deus e para renovar nossa vida de fé. Assim como Maria, que guardava todas as coisas meditando-as em seu coração, que Ela no eduque neste caminho de interiorização da Palavra de Deus. E que pela intercessão de S. Jerônimo, deixemos que a Palavra de Deus possa tornar-se Vida da nossa vida.

    [1]CF. http://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2018/october/documents/papa-francesco_20181031_american-bible-society.html. Acesso em 07/09/2020.

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