Serviços de escuta terapêutica salvam vidas durante a pandemia

Duas experiências de “Escuta Terapêutica” foram compartilhadas na live “É Tempo de Cuidar”, organizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pela Cáritas Brasileira e mediada pela assessora de Comunicação da Conferência, Manuela Castro, na tarde desta terça-feira, 21 de julho.

O pároco da catedral de Tubarão, padre Eduardo Rocha, falou da experiência da Escuta Terapêutica. Foto: reprodução.

O assessor do Setor de Ensino Religioso da CNBB, padre Eduardo Rocha, falou da experiência de escuta terapêutica organizada na paróquia da Catedral de Tubarão, onde é presbítero, na diocese de Tubarão, no sul do estado de Santa Catarina.  Na região, é a segunda vez que estão atravessando o processo de “lockdown”, o fechamento total de atividades para garantir o distanciamento social necessário para impedir o avanço do novo coronavírus.

Segundo ele, desde o primeiro “lockdown”, no dia 18 de março, a paróquia começou a articular alguns trabalhos que se fizeram necessários e organizou sua ação em três linhas: a) arrecadação de alimentos; b) Organização de compra para idosos com os  jovens da paróquia e c) experiência da escuta. A catedral de Tubarão, informou o padre, é localizada numa área urbana, cercada por prédios. “Ano passado, quando foi feita uma experiência de visitação, percebemos uma realidade que desconhecíamos: muitas pessoas idosas vivendo sozinhas”, disse.

Na catedral de Tubarão, o padre informou que desde o dia 18 de março foram abertas três linhas fixas de telefone e um número de celular que funcionam de segunda a segunda com um grupo capacitado de padres, religiosos, psicólogos e voluntários para atender às pessoas. “Neste tempo, a procura tem sido muito grande”, disse o padre.

O religioso informou que, no início, o serviço foi mais buscado pelos idosos, partilhando seus medos de serem infectados,  sua impaciência de ficar confinados e de não poder ver seus parentes. Com o tempo, segundo o padre, outro grupo de pessoas começou a procurar a escuta, os empreendedores, com suas dificuldades em tocar seus negócios e manter os empregos. “Muitos ligam chorando, não conseguem pagar os vencimentos, rescisões de contrato, dificuldade de acessar o crédito do governo federal”, disse.

“Essas pessoas encontram na Igreja este espaço de acolhida, de conversa fraterna, aconselhamento e também espaço para rezar. Alguns querem ser ouvidos, outros entram em contato e pedem uma palavra de esperança. A gente oferece uma palavra que parte de uma experiência de fé e animadora para as pessoas que estão sendo afetadas por este momento que estamos vivendo”, disse.

Escuta esperançosa, atenta e organizada

Adriano Leitão, agente da Cáritas diocesana de Crateús (CE).

Quem também compartilhou sua experiência foi o agente da Cáritas diocesana de Crateús (CE), Adriano Leitão. Segundo ele, a necessidade de uma escuta atenta e organizada é muito importante para orientar a ação evangelizadora da Igreja porque “escutar é um ato evangelizador acima de tudo”.

Ele lembrou que o Estado do Ceará é o terceiro com mais pessoas infectadas pela Covid-19 atualmente. “Na diocese de Crateús, desde sua fundação, em 1964, temos planos de pastorais que buscam assegurar o cuidado com a vida. Na Cáritas diocesana, desde o dia 18 de março, estamos na luta constante de apoio e prevenção contra a Covid-19”, disse.

A metodologia do serviço de escuta da diocese de Crateús, que fica a 350 quilômetros de Fortaleza, é inspirada na passagem bíblica do livro do Exôdo 3,7-14, que afirma que Deus viu, ouviu a aflição de seu povo e desceu para libertá-lo.

O agente da Cáritas informou que já fazem três anos que estão organizando momentos de formação e cuidados para os agentes pastorais para que possam cuidar dos outros. “Hoje contamos com 50 terapeutas comunitários em parceria com a Pastoral da Saúde e buscamos resgatar a medicina caseira”, disse. Em Crateús, a Cáritas criou o Espaço Bem Viver, um local de escuta acolhedora, cuidado com a vida, integração com o meio ambiente que oferece terapia comunitária e práticas integrativas complementares.

Além da pandemia, o Estado do Ceará também foi acometido por enchentes. “A partir disso, a Cáritas diocesana readequou a sua ação. A gente precisa estar onde a vida está ameaçada. A gente se uniu com organizações, paróquias, com a diocese e com as regiões pastorais e fizemos um diagnóstico da situação”, disse. Eles também organizaram uma campanha solidária com arrecadação de mais de 51 mil quilos de alimentos distribuídos às famílias.

“Muitas pessoas querem um ouvido atento e fraterno para escutá-las. Na medida do possível, encaminhamos para a rede de proteção composta por padres, psicólogos, religiosas, terapeutas, entre outros. Os casos que precisam de acompanhamento médico são encaminhados para a Secretaria de Saúde. A escuta tem sido um espaço de muita qualidade e precisa ser feita sem julgamento e preconceito, mas com esperança, para salvar vidas e devolver a dignidade das pessoas”, disse.

A live seguiu com perguntas dos internautas de diferentes partes do país que provocaram a Igreja para pensar na necessidade de criar, em nível nacional, a Pastoral da Escuta.

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