SÃO JOSÉ: “ARTESÃO QUE FORMOU JESUS NA HUMANIDADE”

“José (Yosef) – Artesão de humanidade – Homem justo, esposo e pai” é o novo livro da Edições CNBB em parceria com a editora Canção Nova. Na última sexta-feira, 19, quando a Igreja celebrou a Solenidade de São José, esposo de Maria, foi transmitida pelas redes sociais a live de lançamento da obra com a participação de um dos autores, o frei Bruno Varriano, sacerdote franciscano da Ordem dos Frades Menores (OFM) e guardião e reitor da Basílica da Anunciação, em Nazaré. Na conversa, frei Bruno destacou a figura paterna de São José e seu papel na formação humana de Jesus.

Artesão de humanidade – Homem justo, esposo e pai

Conduziu a live o subsecretário adjunto de Pastoral da CNBB, padre Marcus Barbosa Guimarães, que iniciou motivando frei Bruno a partilhar sobre o porquê do título que, além da relação familiar em esposo e pai, destaca o Padroeiro da Igreja como artesão de humanidade e homem justo. Frei Bruno buscou no grego a tradução para a profissão de José, tradicionalmente ligada à carpintaria no Brasil. A palavra grega está relacionada a artesão. Da descendência de Davi, perseguida por Herodes, foi viver em Nazaré e ali exerceu sua profissão.

Artesão de humanidade, portanto, porque José favorece a experiência humana de Jesus, a experiência do trabalho junto com o pai putativo.

“E o artesão ele ouve, ele tem que dar tempo para as pessoas, tem que ver as possibilidades econômicas das pessoas. Era uma cidade onde viviam judeus e romanos. E ali Jesus, com José, aprende a abertura aos irmãos, a abertura àqueles que não eram da mesma religião. José é o educador do filho de Deus, este artesão que formou Jesus na humanidade. Jesus aprendeu com São José o amor pelos mais frágeis, o amor por aqueles que necessitavam, o respeito pelas mulheres, pelos trabalhadores.

Homem justo

A característica de homem justo está relacionada à escolha feita enquanto estava prometido em casamento a Nossa Senhora e a encontrou grávida. “Ele tinha confiança em Maria, amava Nossa Senhora. Se ele dissesse, o Filho não é meu, ela seria apedrejada. Para assumir o filho, ele não estava entendendo, então ele recorreu à Torá, Provérbios e Levítico, onde o homem, durante o erussim [uma espécie de noivado no casamento judeu] poderia, sem dizer a razão, renunciar ao casamento. Ele teria que deixar Nazaré, e toda mancha num povoado pequeno cairia sobre ele. Então, ele aceitou isso, estava aceitando isso, ser mal falado e salvar Maria. Nesse momento ele é chamado homem justo”, contou frei Bruno.

Sendo homem justo, confiou no plano de Deus, como narrado no “Anúncio do Anjo”, no Evangelho de Mateus, que, segundo frei Bruno, “compara José do Egito com José da Galileia: Aquele do Egito sonhou e salvou o Egito. Um outro José sonha aqui em Nazaré – acolhe essa paternidade que Deus o confiou sendo homem justo, se torna esposo e pai. Essa justiça irá se transformar, em Jesus, em misericórdia”.

Propósito do livro

Perguntado sobre o propósito do livro, frei Bruno destacou que a intenção dele e do frei Frédéric Manns era de apresentar um “São José humano, bíblico, um José que fosse entendido, que o silêncio do evangelho da infância fosse rompido não somente como os apócrifos, mas de tentar trazer São José com o Evangelho de Mateus, com o Evangelho da infância, com a explicação exegética do padre Frédéric Manns”, um grande estudioso da sagradas escrituras.

O livro, segundo frei Bruno, tenta construir como era a vivência de São José com o Filho de Deus e com Nossa Senhora na cotidianidade. “São Bernardo dizia que São José vivia a palavra vivente, ele lia o verbo que se fez carne. E depois, com os últimos pontífices e com a ajuda das ciências humanas, eu procurei trazer São José para perto de nós”, revela.

Nasceu num momento de pandemia

Nascida num tempo de pandemia, a obra busca ainda ajudar as pessoas: “vamos oferecer aquele que conhece a dor humana, aquele que conheceu, por ter que fugir para o Egito, por ser perseguido por um rei Herodes, ele que conheceu a dor também das doenças que tinham aqui no primeiro século, ele que conheceu a ocupação romana, a política, por isso são josé é um artesão de humanidade que neste momento de pandemia pode nos ajudar, nos acompanhar para vivermos da nossa fé”, pensou frei Bruno ao escrever o livro, que também traduz a transmissão de São José a Jesus da “irmandade universal” quando trabalhavam na casa daqueles que não eram judeus.

A relação com o Ano de São José e a Carta Patris Corde

“Vimos como uma confirmação do nossos trabalho. Ainda não sabíamos da proclamação do ano”, falou frei Bruno sobre a relação da obra com a convocação do Ano de São José, em 8 de dezembro de 2020. E o texto também destaca o “Coração de pai”:

“Trabalhamos tentando  apresentar um São José com um coração de pai. Como diz a Gaudium et Spes, 22, que Jesus pensou com a mente humana, trabalhou com as mãos humanas, amou com um coração humano. Queríamos apresentar que este amor ele aprendeu com seu pai São José. Queríamos apresentar um pai de ternura e o Papa Francisco nos surpreendeu com o Ano Josefino. O pontificado do Papa Francisco e a carta Patris Corde vêm ao encontro do nosso livro. Jesus experimentou a ternura de Deus em São José. Isso realmente é o que nós tentamos totalmente no nosso livro, queremos falar de paternidade”, partilhou frei Bruno.

Ele também explicou sobre a Paternidade putativa: “é jurídica, não é um pai adotivo, o que temos que evitar. É bonita a adoção, os pais que adotam o filho, é um grande amor, mas são os pais que escolhem o filho que adota. Aqui não. José foi escolhido para exercer a paternidade de Deus para com seu filho, por isso a paternidade vicária”.

Amor experimentado na família

“Jesus, segunda pessoa da Santíssima Trindade, experimentou o amor de Deus na família”. A reflexão neste ponto emociona frei Bruno ao imaginar Jesus experimentando esse amor no seio familiar de José e Maria.

“Vamos rezar para que as famílias aprendam com São José. O nosso livro é uma ajuda para os educadores, para as famílias, para os pais, que temos que viver com responsabilidade a nossa paternidade. São José nos ensina isso. Ele, na sua paternidade vicária, nos ensina que os filhos que nos são confiados – filhos biológicos, filhos adotivos, filhos espirituais, filhos na educação, filhos na formação da vida religiosa – são filhos de Deus. Toda paternidade é vicária, ensina São José”.

A escolha pela forma original Yosef

“Queríamos que os leitores do Brasil, de Portugal e de outros países de Língua Portuguesa pudessem experimentar esse cheiro da Terra Santa, esse cheiro de genuinidade, de origem. Por isso, sim, Yosef Ben Yacob”, justifica a insistência em referir-se a São José pelo termo sem a tradução para o Português.

“O nosso livro, porque nasceu aqui nesse contexto bíblico, é um livro que tem uma graça do seu lugar santo. Aqui nós temos essa originalidade, por isso aproximar de São José. Nós queríamos que o leitor crescesse nessa intimidade e nessa originalidade. Falar de São José é falar da origem de Jesus, é falar da infância de Jesus”.

Martírio da vida cotidiana

A doação de José e sua paternidade são ensinamentos, segundo frei Bruno: “São José nos ensina o martírio da vida cotidiana. Ele assumiu a paternidade trabalhando todos os dias, todos os dias. Nós precisamos hoje de mártires da cotidianidade. Nós estamos vivendo uma crise do ‘para sempre’, do sacrificar. A paternidade é sacrifício, é sacrificar pelo outro. Por isso o casamento virginal de São José, sim ele acolheu o casamento virginal, ensina que todo o casamento, toda a vida deve ser na oblação. Até a sexualidade tem que ser vivida na oblação”.

Urgência Educativa em todos os âmbitos

No livro, frei Bruno também destaca a figura de São José  como “um ícone da educação”, reflexão que pode contribuir para o estudo da CFE 2022: “De educar a autodeterminação interior, educar ao bem-comum, São José nos ajuda a respondermos à urgência educativa. José ensina, como educador, que paternidade e masculinidade não é algo que tem que ser vencido na sociedade, não. Deve ser conquistado, porque paternidade é cuidar, é ser responsável, é não abandonar, é se sacrificar, ser pai é nutrir, é deixar o filho na liberdade”.

O livro José (Yosef) – Artesão de humanidade – Homem justo, esposo e pai pode ser adquirido no site da Edições CNBB:

 

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