Sal da terra, luz do mundo

    Jesus, grande pedagogo, empregou duas imagens significativas para caracterizar seus seguidores: “Vós sois o sal da terra […] Vós sois a luz do mundo” (Mt 5, 13-16). Já no antigo mundo bíblico o sal era apresentado como um produto precioso, por dar gosto aos alimentos, sendo importante agente de conservação. Ao empregar esta imagem, Cristo quer que seus discípulos deem ao mundo o gosto e o ardor difundido pelo seu ensinamento, conservando sempre a plenitude da verdade que Ele veio proclamar ao mundo. Assim sua doutrina se torna desejável, porque salvífica. Além disto, a Bíblia mostra que se utilizava o sal para concluir um pacto, uma aliança. Lemos no Levítico: “Toda oblação que ofereceres será temperada com sal, e não deixarás faltar em tua oblação o sal da aliança com o seu Deus” (Lev 2,13).  O cristão selou com o Criador uma aliança e, por isto também, se faz sal da terra, anunciando a amigável união do Senhor com seu povo redimido. Aliás, o Antigo Testamento já falava de uma “aliança de sal”.  Deus disse a Aarão: “Todos os tributos das coisas sagradas que os filhos de Israel oferecem ao Senhor, dou-os a ti, a teus filhos e a tuas filhas por direito perpetuo; é um pacto  inviolável, pacto de sal,  eterno diante do Senhor contigo e por ti com os teus descendentes” (Num 18,19). Por causa da fidelidade ao pacto divino, o cristão, sal da terra, deve ser fiel, leal, a seu Senhor. Trata-se de uma relação permanente. Grande então a responsabilidade dos batizados. É por isto que se canta num dos hinos penitenciais: “Quem não te aceita quem te rejeita, por não crer por ver cristãos que vivem mal. Cristo piedade!”. Jesus alertou: “Se o sal se tornar insípido, com que se lhe há de restituir o sabor”?  Eis porque o aludido cântico acrescenta: “Hoje se a vida é tão ferida, deve-se a culpa e indiferença de tantos cristãos”. Um sal saudável como aquele que proporcionou a Jesus uma excelente metáfora do fervor de seus discípulos, supõe, porém, toda sua vitalidade. Seus seguidores deveriam ostentar sempre total constância, respeitando uma aliança, um pacto firme com Ele de acordo com as promessas batismais. Aos colossenses São Paulo aconselhava: “Que a vossa linguagem seja sempre cortês, temperada com sal, de modo que saibais como deveis responder a cada um” (Col 4,6). Apenas assim é que o cristão se torna ao mesmo tempo também luz do mundo, iluminando a todos que estão a sua volta. De fato, as duas imagens do sal e da luz se articulam admiravelmente uma com a outra. Será, contudo, sempre Jesus que comunicará a todos o sabor, o elã, a vida e a luz verdadeira. A luz dissipa as trevas, ela aclara tudo que ela toca, Cabe aos fiéis difundir por toda parte a luz que vem do alto, combatendo as penumbras do mal e do pecado causados pela ignorância, pela ambição, pelo egoísmo, pelo hedonismo. Entretanto, quanto mais o cristão volta seu olhar para Jesus, mais luminosidade recebe e é transfigurado por Ele. Deste modo, a ordem do Mestre divino se cumprirá: “Brilhe a vossa luz diante dos homens, a fim de que, vendo as vossas boas obras glorifiquem vosso Pai que está nos céus”. Para tanto é preciso a sinceridade de um coração identificado com Ele. É deste modo que o cristão afasta a escuridão da decepção, da fadiga, da indiferença, do temor e dos desentendimentos mútuos. Torna-se um clarão luzente em casa, no trabalho, nos lugares de diversão, enfim, onde quer que esteja. Por seus gestos, por suas atitudes os epígonos de Cristo são chamados a exercer uma influência lucífera neste mundo. Do contrário, seriam eles inúteis, lâmpadas debaixo do alqueire, e não sobre o candelabro das boas obras para clarear a todos. Pelo seu testemunho de vida o fiel comunica de maneira vital a beleza da história da salvação e os conteúdos da fé da Igreja. Para que isto aconteça não há necessidade de notáveis carismas. Basta que se façam de maneira extraordinária as tarefas ordinárias da vida numa união profunda com Aquele que é a Luz que veio a esta terra envolver a todos na sua iluminação. Desta maneira, se revela ao mundo os segredos da sabedoria divina, a qual, segundo São Paulo, “está envolta em arcano, sabedoria escondida, antes dos séculos” (1 Cor 2, 7). Em síntese, para ser sal da terra e luz do mudo o cristão deve viver em função da graça de Deus, desta vida interior recebida no Batismo, desenvolvida pela prática das virtudes, defendida pela oração, fortificada pelos sacramentos. Torna-se assim sal da terra e luz do mundo.

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