Rico, mas triste.

    Avançando no Tempo Comum e a cada domingo vamos caminhando e conhecendo Jesus. O Evangelho deste 28º. Domingo do Tempo Comum traz uma realidade que devemos ter cuidado. Não se apoiar em nossas riquezas e em nossas falsas seguranças. Quando Jesus saiu com os seus discípulos, a caminho de Jerusalém, apareceu um jovem que se ajoelhou diante d’Ele e lhe perguntou: “Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?” O Senhor indica-lhe os Mandamentos como caminho seguro e necessário para alcançar a salvação. O jovem, com grande simplicidade, respondeu-lhe que os cumpria desde a infância. Então Jesus, que conhecia a pureza daquele coração e o fundo de generosidade e de entrega que existe em cada homem e em cada mulher, “olhou para ele com amor” e convidou-o a segui-Lo, pondo à parte tudo o que possuía.

    À pergunta, voluntariamente insidiosa, Jesus responde com simplicidade absoluta: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, toda a tua alma e todo o teu espírito. Este é o maior e o primeiro Mandamento” (Mt 22,37-38). Com efeito, a exigência principal para cada um de nós é que Deus é esteja presente na nossa vida. Como diz a Escritura, Ele deve imbuir todas as camadas do nosso ser e enchê-las completamente: o coração deve conhecê-Lo e deixar-se tocar por Ele; e assim também a alma, as energias do nosso querer e decidir, bem como a inteligência e o pensamento. É poder dizer como São Paulo: “Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).

    Neste texto podemos situar dois casos: do jovem rico que não vende tudo para seguir Jesus e dos apóstolos que, ao invés abandonam tudo para segui-Lo. A tônica deste trecho evangélico não é “vender tudo”, mas “vem e segue-me”; ele não fala em primeiro lugar da pobreza voluntária, mas da suprema riqueza que é possuir Jesus. Pode-se aproximar esta passagem do Evangelho à parábola do homem que descobriu um tesouro no campo e vende tudo para comprá-lo, e do homem que cede toda uma coleção de pedras preciosas para adquirir a pérola de grande valor (Mt 13, 44-46).

    Como gostaríamos de contemplar esse olhar de Jesus! Umas vezes, imperioso; outras, de pena e de tristeza, por exemplo ao ver a incredulidade dos fariseus (Mc 2,5); outras, de compaixão, como à entrada de Naim, quando passou o enterro do filho da viúva (Lc 7,13). É esse olhar que comunica uma força persuasiva às palavras com que convida Mateus a deixar tudo e segui-Lo (Mt 9,9); ou com que se faz convidar a casa de Zaqueu, levando-o à conversão (Lc 19,5). Mas o jovem prefere a “segurança” da riqueza e recusa o convite de Jesus!

    Ao recusar o convite, diz o Evangelho: “ quando ele ouviu isso, ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico” (Mc 10,22). “A tristeza deste jovem deve fazer-nos refletir. Podemos ter a tentação de pensar que possuir muitas coisas, muitos bens neste mundo, pode fazer-nos felizes. E no entanto, vemos no caso deste jovem do Evangelho que as muitas riquezas se converteram em obstáculo para aceitar o chamamento de Jesus. Não estava disposto a dizer Sim a Jesus e não a si próprio, a dizer Sim ao amor e não à fuga!

    O amor verdadeiro é exigente. O amor exige esforço e compromisso pessoal para cumprir a vontade de Deus. Significa disciplina e sacrifício, mas significa também alegria e realização humana. Não tenhais medo a um esforço honesto e a um trabalho honesto; não tenhais medo à verdade. Queridos jovens, com a ajuda de Cristo e através da oração, vós podeis responder ao Seu chamamento, resistindo às tentações, aos entusiasmos passageiros e a toda a forma de manipulação de massas.

    A reflexão da passagem bíblica sobre o jovem rico leva-nos a entender o uso dos bens materiais. Jesus não os condena por si mesmos; são meios que Deus pôs à disposição do homem para o seu desenvolvimento em sociedade com os outros. O apego indevido a eles é o que faz que se convertam em ocasião pecaminosa. O pecado consiste em “confiar” neles, como solução única da vida, voltando as costas à divina Providência. São Paulo diz que a ganância é uma idolatria (Cl 3,5). Cristo exclui do Reino de Deus a quem cai nesse apego às riquezas, constituindo-as em centro da sua vida, ou melhor disto, ele mesmo se exclui. Quem é esse jovem do Evangelho?

    Posso ser eu. Pode ser você… São muitas pessoas que observam os Mandamentos e até desejariam fazer mais…, mas quando Deus pede algo mais… se retiram tristes, porque estão apegadas a muitas coisas, que prendem o seu coração e impedem de dar esse passo a mais. As vezes são medíocres, querem ficar satisfeitas apenas com o mínimo necessário!

    E a este ponto Jesus dá aos discípulos – e a nós hoje – o seu ensinamento: “Como é difícil, para aqueles que possuem riquezas, entrar no Reino de Deus!” (v. 23). Ouvindo essas palavras, os discípulos ficaram desapontados; e ainda mais quando Jesus acrescentou: “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus”. Mas, vendo-os admirados, disse: “Aos homens é impossível, mas a Deus não; pois a Deus tudo é possível”. (Mc 10, 24-27).

    Assim comenta São Clemente de Alexandria: “A parábola ensina aos ricos que não devem descuidar a sua salvação como se fossem já condenados, nem devem abandonar a riqueza nem a condenar como insidiosa e hostil à vida, mas devem aprender de que modo usar a riqueza e conquistar a vida”. A História da Igreja está cheia de exemplos de pessoas ricas, que usaram os próprios bens de modo evangélico, alcançando também a santidade. Pensemos apenas em São Francisco de Assis, em Santa Isabel da Hungria ou São Carlos Borromeu, etc.

    Que a Virgem Maria, a Senhora de Aparecida, Sede da Sabedoria, nos ajude a acolher com alegria o convite de Jesus, para entrar na plenitude da vida.

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