Repartir o Pão da Vida que é Jesus e o pão de cada dia!

    A liturgia do 17.º Domingo do Tempo Comum dá-nos conta da preocupação de Deus em saciar a “fome” de todos os seus filhos e filhas. Convida-nos a ver os bens que Deus põe à nossa disposição como dons para todos; propõe que abramos os nossos corações à partilha, à fraternidade, à responsabilidade pela “fome” dos nossos irmãos. Jesus é revelado como o Pão da Vida, o Pão de Deus, o Pão dos pobres! Exortados pelo Papa Francisco, comemoramos hoje o 4º. Dia Mundial dos Avós e da Pessoa Idosa. Celebremos e manifestemos a nossa gratidão aos nossos avós e à experiência de vida que as pessoas idosas compartilham com nossa sociedade e nossas famílias.

    Inegável o paralelo que se estabelece entre a primeira leitura e o Evangelho de hoje.

    Na primeira leitura – 2Rs 4, 42-44 –, o profeta Eliseu manda distribuir pelas pessoas que o rodeiam os pães que lhe foram oferecidos. O “profeta” é um sinal vivo de Deus no mundo dos homens. O seu gesto é uma lição de Deus: ensina a partilha, a generosidade, a solidariedade. Eliseu alimenta cem pessoas com vinte pães de oferenda. Esses pães que ao Profeta foram oferecidos são as primícias – que pertenciam a Deus. Frutos do trabalho e a da bênção divina, o alimento é multiplicado e as pessoas são saciadas.

    No Evangelho – Jo 6,1-15 –, Jesus oferece aos discípulos e à multidão o “sinal” da multiplicação dos pães e dos peixes. O seu gesto “abre os olhos” dos discípulos e fá-los perceber que só a lógica da partilha, da gratuidade, do dom generoso, do serviço humilde pode multiplicar o “pão” que sacia a “fome” do mundo. São cinco pães e dois peixes, totalizando sete, formam o número bíblico perfeito. Jesus pede que os discípulos façam a multiplicação acomodar-se na relva. É um banquete sem mesa, pois o que Jesus fará sem seguida é saciar a fome da multidão, tornando-se ele mesmo a mesa em torno da qual o povo se reúne para celebrara vida da nova aliança com Deus. É esta lógica que permite passar da escravidão dos bens à liberdade do amor; é esta lógica que fará nascer um mundo mais humano, mais solidário, mais fraterno.  Uma multidão seguia o Senhor, pois estava sedenta de Deus e via “os sinais que ele operava”. Surge, então, o desafio de alimentar tantas pessoas. Jesus faz as pessoas se assentarem, depois abençoa e multiplica os pães e os peixes: todos se alimentam e se fartam. Nessa cena, o Senhor se apresenta como o Profeta, maior que Eliseu, que, por Dom de Deus, sacia a multidão. Contudo, este sinal apenas prefigura um outro alimento que será dado por Jesus – a Santa Eucaristia.

    É dever da Igreja, bem como de toda a sociedade, denunciar as injustiças e as irresponsabilidades no trato com o que é necessário para o povo. O Evangelho reforça a lição da primeira leitura: quando se partilha e não se desperdiça, ocorre o milagre da multiplicação do alimento, todos são alimentados e ainda sobra.  O problema da fome pode ser superado em três atitudes fundamentais: partilha, organização do povo e não desperdício. Esse relato é o fundamento do “discurso do pão da vida”, do capítulo 6 de São João, que será desenvolvido ao longo dos próximos domingos.  Jesus celebra a Páscoa alimentando o povo faminto. Portanto, a Páscoa se realiza quando as pessoas têm acesso ao que é fundamental para uma vida respeitada em sua dignidade.

    Na segunda leitura – Ef 4,1-6 –, Paulo lembra aos crentes algumas exigências da vida cristã. Recomenda-lhes, especialmente, a humildade, a mansidão e a paciência: são atitudes que não se coadunam com esquemas de egoísmo, de orgulho, de autossuficiência, de preconceito em relação aos irmãos. Paulo conclama os cristãos para que vivam a unidade, elemento essencial da comunidade. Ungidos pelo Espírito Santo no batismo, tornamo-nos um em Cristo. As dificuldades comunitárias devem ser enfrentadas juntos, como membros de uma mesma família. O autor propõe os meios para alcançar essa unidade: humildade, mansidão, paciência e tolerância.

    Repartir o Pão da Vida que é Jesus e o pão de cada dia! A nova Páscoa, que o Mestre vai inaugurar com a sua morte e ressurreição, é a celebração de Jesus que se doa a si mesmo para a vida eterna. Jesus se dá a cada um de nós. O pão e os peixes multiplicados relembram que em cada missa é o próprio Jesus que se dá a nós – Jesus Eucarístico – para que nós possamos, de maneira solidária, repartir o pão da vida. Deus abençoe a todos os que repartem, particularmente nossos avós, que nos ensinaram a sempre repartir o pão de cada dia e viver em comunidade Eucarística!

    + Anuar Battisti

    Arcebispo Emérito de Maringá, PR

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