O tempo do Natal se encerra com a Festa do Batismo do Senhor, e no dia seguinte começa o Tempo Comum durante o ano. Para nós aqui no Rio de Janeiro é tempo da trezena de São Sebastião, quando a cidade e a Arquidiocese preparam a grande festa do seu padroeiro. Caminhamos para os 450 anos de fundação da cidade e os 60 anos da celebração do, até agora, único Congresso Eucarístico Internacional realizado no Brasil. No ano passado vivemos com toda a Igreja o “Ano da Fé”, com os temas desenvolvendo o “discipulado”, a “Igreja” e a “juventude”. Neste ano, como já anunciado, iremos abrir, no dia 20 de janeiro, o “Ano da Caridade” que deve ser o “ano da defesa e da promoção da vida”.
O Papa Francisco nos recorda na “Evangelii Gaudium” que “o conteúdo do primeiro anúncio tem uma repercussão moral imediata, cujo centro é a caridade” (177). Ele acrescenta: “confessar um Pai que ama infinitamente cada ser humano implica descobrir que ‘assim lhe confere uma dignidade infinita’”. (178)
Por isso, neste último domingo do tempo do Natal, quando celebramos com imensa alegria o mistério da Encarnação, o “Verbo de Deus que se fez carne e habitou entre nós”, tornando-se assim próximo de nós, somos chamados a aprofundar o dom do Batismo. Se para Jesus foi o momento de sua manifestação como “Filho de Deus” e início de sua vida pública, para nós é tempo de redescoberta das consequências batismais em nossa vida pessoal e as consequências sociais.
No Antigo Testamento, por várias vezes o Céu se abriu para que o Senhor intervisse, com seus sinais, na vida do povo eleito com a finalidade de instruí-lo. Para nós, o batismo de Jesus no rio Jordão por João Batista foi mais uma vez a “abertura do Céu”. Ato voluntário de Jesus que, por ser de condição Divina, e por ser o Messias esperado, não necessitava ter se submetido ao batismo de João, que era destinado aos pecadores e aos que se preparavam para a chegada do Salvador (cf. Mt 3, 11-15). No entanto, em atitude de aniquilamento e para manifestar-se ao mundo, assim o faz. E quando o faz, o Céu se abre e sobre Ele vem o Santo Espírito em forma de Pomba, e a voz do Pai que O revela como seu próprio Filho.
Jesus não precisava ser batizado, mas ele se humilhou recebendo o batismo de João, um batismo de conversão para demonstrar que pela sua paixão, morte e ressurreição todos nós receberíamos a salvação.
Assim sendo, é importante neste final do Tempo do Natal e início do Tempo Comum, dentro da trezena de São Sebastião, aprofundar as consequências de nossa vida de batizados. Pelo batismo, somos mergulhados nas águas que comunicam o Espírito Santo. Por isso, na Festa do Batismo do Senhor revivemos a nossa consagração batismal, pela qual fomos incorporados a Cristo “para sermos interiormente transformados por Ele”, é o que pedimos na oração do dia da missa.
Em virtude do batismo, somos chamados a ser discípulos e missionários de Jesus Cristo. Ensina o Documento de Aparecida, em seu nº 209, que: “Os fiéis leigos são os cristãos que estão incorporados a Cristo pelo batismo, que formam o povo de Deus e participam das funções de Cristo: sacerdote, profeta e rei. Realizam, segundo a sua condição, a missão de todo o povo cristão na Igreja e no mundo. São homens da Igreja no coração do mundo e homens do mundo no coração da Igreja.” “Enquanto batizado, o homem deve sentir-se enviado pela Igreja a todos os campos de atividade que constituem sua vocação e missão, para dar testemunho como discípulo e missionário de Jesus Cristo…” (nº 460 do DdAp).
Nós formamos a assembleia de batizados, proclamamos, pela Eucaristia, as maravilhas Daquele que nos chamou das trevas à sua luz, e aceitamos ser mergulhados com Cristo no mistério de sua entrega filial ao Pai. Acolhemos em piedosa oração, particularmente em nossa Arquidiocese participando da trezena de São Sebastião, o Espírito que nos é entregue e, na voz do Pai, recebemos a confirmação de sermos seus filhos amados, com a missão de ser luz para as nações e alegres anunciadores da boa-nova do Reino. Celebrando a Eucaristia, vivemos o núcleo da vida batismal, entrando em comunhão com Deus, com os irmãos, plenificando de sentido pascal à vida. Ouvindo Jesus, o Filho amado, prolongamos no mundo sua missão de serviço à justiça com coração manso e humilde, “fazendo o bem e curando a todos”, para que todos vivam de fato como filhos amados de Deus.
Os que recebem o sacramento do Batismo tornam-se partícipes da morte e ressurreição de Cristo, iniciam com Ele a aventura jubilosa e exaltante do discípulo. A liturgia apresenta-a como uma experiência de luz.
Por ocasião do batizado é entregue a cada um uma vela acesa no círio pascal. Neste significativo gesto litúrgico, a Igreja afirma: “Recebei a luz de Cristo!” Sob esta luz deverão caminhar por toda a vida os batizados que, seguindo o exemplo de seus pais, padrinhos e madrinhas, serão sempre iluminados pelo Cristo, luz que se manifestou ao mundo, como celebramos na Epifania comemorada domingo passado.
Por isso, é sempre oportuno lembrar aos pais e padrinhos que estes, primeiramente, deverão comprometer-se a alimentar com as palavras e com o testemunho da sua vida as chamas da fé dos que trilham o catecumenato e recebem o batismo, para que possa resplandecer neste mundo a levar a luz do Evangelho, que é vida e esperança. Esta é a fé da Igreja. E nós alegramo-nos por professá-la em nosso Senhor Jesus Cristo.
O Papa Francisco, em sua recente Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”, já a partir dos sacramentos, cujas portas, disse, não “se deveriam fechar por uma razão qualquer”. O princípio se aplica em especial ao Batismo, mas também à Eucaristia, que “não é um prêmio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos”.
Sendo assim, quero convidar os meus arquidiocesanos, a redescobrirem, cultivarem e testemunharem o dom da fé no Ressuscitado, vivendo a beleza e a alegria de sermos cristãos, aderindo a Cristo, princípio e fim da vida humana.