REI DOS REIS

                A arte cinematográfica estava apenas começando, quando, em 1927, se produziu o primeiro filme bíblico com o título de Rei dos Reis. Era uma versão com cenários bem-produzidos, mas ainda mudo. Só em 1961 é que o diretor Nicholas Ray usou o carisma do ator Jeffrey Hunter para representar Jesus Cristo no mais sofisticado longa metragem sob o mesmo título, em quase três horas de ação e emoção. Esse segundo filme conquistou um público universal, tornando-se a película épica de maior audiência na história cinematográfica. Até hoje é visto como obra prima inigualável não só pela beleza do enredo, como também pela fidelidade de sua trama aos Evangelhos.

                Passados quase cem anos desde a primeira versão, o título original continua assunto polêmico e universal. Afinal, existe ou não um Rei dos reis capaz de governar o mundo com seu cetro de poder e glória? O próprio Cristo tentou acalmar os ânimos daqueles que o perseguiam, dizendo: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue…” (Jo 18, 36). Mesmo assim o condenaram e crucificaram, temendo alguma subversão aos poderes constituídos no reino dos homens. Nesse assunto, nunca é bom arriscar, pagar um custo desconhecido. Poder é poder, sempre foi!

                “Mas o meu reino não é daqui”. Porventura, existiriam domínios desconhecidos, longínquos, que os tentáculos de Roma ainda não tivessem alcançado? Se não é daqui, donde será? Eis a questão que a lógica dos poderes terrenos não conseguiu e nunca consegue penetrar. A realidade dum reino além daquilo que vemos, tocamos, conferimos com nossos olhos e sentidos carnais não combina com a utopia de um reino invisível.

                Mesmo assim, Jesus ainda responde: “Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto…” De nada adiantou a preocupação dos reis desse mundo, para se preservar seus reinados. A verdade continua límpida e bem evidente: os poderes que a humanidade julga possuir em nada altera o poder de Deus sobre tudo que Ele criou. Até mesmo sobre os maiores impérios e dominações conquistadas pelos poderes humanos. Aqui nada nos pertence. Daqui nada levaremos. Só mesmo a certeza de que nossas conquistas serão filtradas sob o peso da verdade de Cristo, o único Rei dos reis com autoridade de avaliar, ponderar, julgar tudo o que amealhamos neste mundo. Separar o joio do trigo, o que poderemos ou não levar para o outro lado, o Reino Definitivo. Lá, sim, teremos oportunidade de nos sentirmos soberanos, senhores e diretores das verdadeiras riquezas aqui conquistadas, aquelas que nos farão herdeiros universais, filhos do Rei.

                Então um novo ciclo terá início. Então as muralhas desse reino ilusório e passageiro cairão como cascatas borbulhantes e nos apontarão um novo horizonte, uma nova realidade. Um novo tempo na liturgia da vida! Virá então não o príncipe desse mundo, mas o verdadeiro Rei, o Herdeiro Universal, entronizado em sua cátedra de poder e glória, com seu cetro de amor e paz: “Este é meu Filho amado, ouçam-no”! E, sorrindo, o Rei dos reis nos dirá: “Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18, 37).  Essa é a Verdade!

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