Regional Sul 4 promoveu seminário sobre a CF 2017: “Fraternidade: Biomas Brasileiros e defesa da vida”

Mata Atlântica poderá desaparecer com desmatamento e aquecimento global

A maior biodiversidade da América do Sul está presente no Bioma Mata Atlântica, ainda que restem apenas 6%, da floresta original, ensinou a professora Josiane Teresinha Cardoso, da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), no Seminário Regional da Campanha da Fraternidade (CF) 2017, realizado de 04 a 06 de novembro, realizado em Lages (SC), pelo Regional Sul 4 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

O evento preparatório da próxima CF, cujo tema é “Fraternidade: Biomas Brasileiros e defesa da vida”, focou na Mata Atlântica, o único bioma que ocorre em Santa Catarina. Ele está presente em outros 16 estados, do Piauí ao Rio Grande do Sul. De acordo com dados apresentados pela doutora em Ciências Biológicas, professora Josiane, vivem na Mata Atlântica 20 mil espécies de plantas (7,2% do total mundial), 263 espécies de mamíferos (5,2%), 963 espécies de aves (9,5%), 475 espécies de anfíbios (8,6%), 306 espécies de répteis (3,7%) e 350 espécies de peixes de água doce (3,1%). Com reservas apenas em Santa Catarina, que possuiu 29% da sua área original, Paraná e São Paulo, este é o segundo bioma mais ameaçado do mundo. Há perda de anual de 1% da área existente devido ao desmatamento e expansão das cidades.

— Será que a gente precisa retirar o que resta para poder garantir a nossa sobrevivência? Eu acho que não. As vantagens de se manter são maiores do que se retirar completamente, pois a retirada completa compromete a nossa qualidade de vida —, ponderou a professora. Segundo ela, além da manutenção da qualidade do solo, da água e do clima há “vantagem direta sobre produtos da biodiversidade, que podem ser utilizados como fonte de renda, principalmente para as populações tradicionais”. No entanto, os ciclos econômicos do agronegócio e a expansão das cidades, associado à flexibilização das licenças ambientais, colocam em risco direto a floresta. “Mesmo depois da tragédia de Mariana, está mais fácil abrir uma empresa do pondo de vista ambiental. O lobby é muito grande por parte de empresários e do agronegócio”.

Iluminação teológica

O padre Marlo Tessaro, Coordenador Diocesano de Pastoral de Chapecó (SC), apontou que as narrações da Criação no livro do Gênesis contêm, na sua linguagem mítica, “sugerem que a existência humana se baseia sobre três relações fundamentais intimamente ligadas: com Deus, com o próximo e com a terra”. Neste primeiro livro bíblico, “cultivar” quer dizer lavrar ou trabalhar um terreno, “guardar” significa proteger, cuidar, preservar, velar. “Isto implica uma relação de reciprocidade responsável entre o ser humano e a natureza”, explicou o Tessaro.

A Doutrina Social da Igreja saiu de um elemento específico — a criação pertence a todos (“Rerum Novarum”, 1891) — e abriu cada vez mais o leque até chegar no auge na contribuição do papa Francisco com o conceito de ecologia integral, explicado na encíclica “Lautado ‘si” como “uma ecologia que, nas suas várias dimensões, integre o lugar específico que o ser humano ocupa neste mundo e as suas relações com a realidade que o rodeia”. — Aquilo que Deus criou pertence a todos. E sobre isso que ele criou, pesa uma função social —, ponderou o padre.

Aquecimento global ameaça biomas

O desmatamento também intensifica o aquecimento global, como alertou Francisco Eliseu Aquino, professor adjunto do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). “O desmatamento intensificando o aquecimento global, muda o padrão das chuvas. Pode provocar estiagem ou trazer chuvas severas”, indicou. Para minimizar o impacto da ação humana nos biomas é necessário a modificação do modelo de produção agrícola. “Vamos ter que convencer o grande agricultor que mudar práticas não significa ter prejuízo”. Bovinos, por exemplo, criados em áreas de mata nativa com espaçamento adequado entre as árvores, vivem à sombra e com mais água. O animal fica menos estressado, por isso, tem carne de melhor qualidade, enquanto a floresta equilibra a quantidade de CO2, que causa o aquecimento global. “O produto ganha mais qualidade e mais mercado. É bem possível manter ou ampliar o mercado produzindo muito mais em uma área menor, isso é com certeza um cenário para a próxima década”, previu o Aquino.

Com a recuperação da floresta nativa também há melhoria no regime de chuvas, na nebulosidade, na temperatura o que é mais adequado para inúmeros cultivares. “De modo geral, há benefício para ambos os lados”. Para o geógrafo, o modelo produtivo do último século baseado em predar e destruir levou ao aumento dos eventos climáticos extremos. “Não existem registros na natureza que expliquem essa escala de tempo muito curta e muito rápida se comparada com o passado da terra”, explicou Aquino. Na cidade, a redução da poluição promovida pelo uso excessivo do transporte individual ainda é um desafio, mas o consumidor está ficando mais exigente. “Se uma empresa não tem certificação verde, não tem uma ação socioambiental associada à sua marca, o consumidor não gosta. Porque o consumidor já entendeu que isso é necessário. É proteção dele e do seu núcleo familiar. Então isso melhora todos os circuitos da economia de uma nação”, apontou.

Com informações da ascom do Regional Sul 4 da CNBB

 

Fonte: CNBB

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