Refugiado eritreu no Sudão: “Com minha fé, posso aguentar qualquer coisa”

Católicos eritreus celebrando a Santa Missa em Cartum, Sudão Católicos eritreus celebrando a Santa Missa em Cartum, Sudão

O Sudão – estamos falando da República do Norte, oficialmente a República do Sudão, que desde 2011 foi desmembrada do país separatista: Sudão do Sul – não é mais um país cristão. Na verdade, hoje 90% da população é muçulmana. Nos últimos anos, no entanto, o pequeno grupo cristão do país aumentou – embora involuntariamente – por dezenas de milhares de eritreus.

Eles estão buscando refúgio aqui, já que não conseguem mais viver em seu país de origem. “O regime na Eritreia está forçando as pessoas a servirem durante anos, e às vezes até décadas, no exército sob serviço militar obrigatório. Durante este tempo eles não recebem praticamente nada e estão totalmente à mercê do regime. É uma situação que cada vez menos pessoas estão dispostas a aceitar”, explica um dos voluntários católicos que cuida dos refugiados eritreus na capital, Cartum. Vamos chamá-lo de Joseph, já que não podemos revelar seu nome real.

Normalmente o Sudão, tanto a oeste como ao norte, serve apenas como primeira parada em uma “rota clandestina” rumo a Europa. Do Sudão para a Líbia, a viagem custa cerca de 1500 euros, e de lá para a Itália o mesmo novamente. Mas muitos refugiados não têm dinheiro para fazer a viagem e acabam presos no Sudão. Muitas vezes passam anos presos. “Qualquer pensamento de um retorno à Eritreia é inimaginável. Lá, a perspectiva é pior”, explica Joseph, enquanto ele nos mostra os arredores de uma escola nos limites de Cartum. “Mas, enquanto isso, a vida deve continuar. Especialmente as crianças: os anos que passam aqui não devem ser desperdiçados. Na verdade, muitas até mesmo nasceram aqui no país”.

Escola católica no Sudão, dirigida por frades capuchinhos, atende a crianças eritreias refugiadas.

Esta é apenas uma das razões pelas quais a Fundação Pontifícia ACN – Ajuda à Igreja que Sofre – apoia a escola, que é frequentada por cerca de 1200 crianças, até o 8º ano. “As pessoas querem que seus filhos tenham uma educação sólida. Querem também que sejam criados e instruídos na fé cristã. Desta forma, as crianças correrão menos risco de perderem suas raízes religiosas e, ao mesmo tempo, terão a possibilidade de um futuro”, explica Christine du Coudray-Wiehe, chefe da seção de projetos da ACN para o Sudão. “Os refugiados eritreus no Sudão passam por um momento muito difícil. Eles fugiram de um regime totalitário em seu país de origem e acabam vivendo sob um regime islâmico. Queremos apoiá-los, auxiliando seus filhos e ajudando-os a crescer na fé católica”.

A ACN está auxiliando com o custo dos livros escolares e dos salários dos professores, bem como com a alimentação dos próprios alunos. Na maioria das vezes essas famílias têm muito pouco dinheiro para ajudar na educação dos filhos. Os empregadores dão prioridade aos sudaneses, então a maior parte dos eritreus ganha a vida trabalhando informalmente. Eles economizam cada centavo possível com a esperança de poder pagar pela viagem à Europa ou a alguma outra nação ocidental. Pois nenhum deles quer continuar no Sudão. “Nosso povo tem tanto medo da polícia…”, acrescenta Joseph. “Nós, cristãos, somos impotentes, estamos à mercê deles”. E é bem verdade que muitos refugiados são frequentemente vítimas de opressão pela polícia. “Às vezes, a polícia prende alguém do nosso povo e só o liberta mediante o pagamento de um resgate”. E ele nos diz que, quando isso acontece, as pessoas juntam voluntariamente o pouco dinheiro que têm para ajudar seus irmãos e irmãs que precisam. “Nosso povo tem uma fé sólida, que dá a força necessária para suportar tudo o que acontece aqui”.

Isaías, refugiado eritreu no Sudão, com sua filha.

Sem dúvida, essas famílias de refugiados têm que enfrentar um grande desafio. Perto da igreja eritreia, em um dos subúrbios mais pobres da cidade, visitamos a família de Isaias, que vive em um pequeno quarto dentro de um “barraco”. Aqui, neste cômodo, vivem todos os cinco membros desta família. “Aqui é onde dormimos, onde cozinhamos, comemos, e onde nossos filhos brincam”, explica o pai de família. Nos oferecem limonada e doces, uma generosidade típica – fazem questão de compartilhar o pouco que têm. O pai desta família serviu durante anos o exército da Eritreia antes de decidir, alguns anos atrás, em deixar sua terra natal, pois já não via ali nenhuma esperança para ele ou para seus filhos. “Nós gostaríamos de ir para o Canadá”, ele explica. Perguntado se ele não tem medo de viajar para esta terra estrangeira distante, ele responde energicamente: “Com minha fé e minha Igreja não tenho medo de nada!”

A ACN apoia uma série de projetos no Sudão.

 

Fonte: ACN

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