Raízes da violência

    Por força das ideias revolucionistas de Darwin, um preconceito se instalou: a violência humana passou a ser considerada um retorno à animalidade. A clássica definição aristotélica: homem animal racional, foi enfocada dando-se ênfase ao aspecto biológico. Entretanto, a bioetologia que estuda a maneira de ser dos animais, ao fazer comparações entre as diversas espécies, analisando o comportamento através da série zoológica, veio revelar o engano da tese darwiniana. Os atuais estudos científicos indicam que as reações bruscas do homem não são nunca uma regressão ao estado selvagem. Lorenz, autor da obra L’histoire naturelle de l’agression; Portman, notável zoólogo; Goustard, célebre etólogo e fisiólogo foram os pioneiros a mostrarem um novo ângulo sob o qual se deve abordar o problema da conduta destrutiva. No animal, por incrível que pareça, não existe propensão radical para a agressão, ou seja, um procedimento irreversível ataque. A agressividade animal é instintiva, não há dúvida, mas nunca se constatou que vise diretamente matar um dos congêneres. O animal não age jamais por um princípio de morte. Quando agride dentro da própria unidade biológica é unicamente para proteger a vida. Os franceses dizem que “les lions ne se mangent pas entre eux”. Os cientistas puderam inclusive verificar que quanto maior é a capacidade de um animal ferir o adversário, maior sua possibilidade de se afastar de uma luta. A função combativa dos animais está a serviço da conservação e não da destruição da espécie. Caram afirma: “os animais nunca matam sistematicamente por ódio, vingança, sadismo ou mesmo por rancor, posição social ou glória”. É mister uma reformulação embasada na Ciência: “não é o animal que está projetado na violência do homem; é o homem que, numa espécie de álibi antropomórfico, projeta sua violência no reino animal”, como atesta o Dr. Henri Ey, médico-chefe dos Hospitais Psiquiátricos franceses. Por ser o homem dotado de livre arbítrio é que o problema da violência pode e deve ser reavaliado. É uma dimensão ontológica do homem. Trata-se simplesmente de direcionar impulsos. O homem pode ser contra ou pelos outros. A conquista de um ideal, a chegada à perfeição, a irradiação de gestos de fraternidade, a construção de um mundo melhor supõem posicionamento decidido de oposição ao terrível incitamento do mal. Campanha sem tréguas, integrando-se o rancor e o ódio na liberdade humana, usada com responsabilidade no respeito diuturno da Razão e da Consciência. Cumpre à sociedade favorecer o reto agir, controlando os conflitos, pois o desequilíbrio social gera a insegurança; esta, o medo; este, o pânico; este, a repressão; esta, a revolta com toda a gama de hostilidades que desonram a estirpe humana. Que a Campanha da Fraternidade deste ano produza frutos opimos visando a superação da violência, pois em Cristo somos, de fato, todos irmãos.

     

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