Temos a graça de celebramos o Quinto domingo da Quaresma. Daqui a exatamente uma semana, celebraremos a entrada de Jesus em Jerusalém, ou seja, Domingo de Ramos e início da Semana Santa. Somos convidados nesta liturgia a enxergar o Senhor Jesus. No domingo de ramos concluiremos também a Campanha da Fraternidade e faremos a coleta da solidariedade.
Na primeira leitura – cf. Jr 31,31-34 – o povo de Deus é convocado pela profecia de Jeremias àquilo que pode verdadeiramente propiciar uma reconstrução: a aliança. No pacto entre Deus e o seu povo, a recordação do êxodo, feita por Jeremias, tem uma finalidade importante: lembrar que Deus vai fazer algo maior que fizera outrora no Egito e no deserto. O conhecimento de Deus, anuncia Jeremias, será tão disseminado, que todos, do menor ao maior, buscarão a Deus.
Na segunda leitura – cf. Hb 5,7-9 – a carta aos Hebreus é um grande tratado sobre o fim do sacerdócio veterotestamentário, que se organizava por dinastia e tinha contornos e fundamentos exteriores e ritualistas. Em Hebreus vemos o sacerdócio de Cristo, que não igual ao sacerdócio do Antigo Testamento, mas, a ênfase em seu caráter espiritual: é pela solidariedade com a humanidade, pelo sofrimento e obediência, que Cristo é estabelecido como sacerdote.
No Evangelho – cf. Jo 12,20-33 – Jesus estava no interior do Templo de Jerusalém, no pátio interno, chamado Pátio de Israel. Ali, nenhum pagão podia entrar, sob pena de morte. Pois bem, dois gregos, dois pagãos, aproximaram-se de Filipe, que certamente estava na parte mais externa, no chamado Pátio dos Gentios, até onde qualquer pessoa podia chegar. Dois gentios, que procuravam com fervor o Deus de Israel, tanto que “tinham subido a Jerusalém para adorar durante a festa”. Com humildade, eles pedem: “Gostaríamos de ver Jesus!” Eles não podiam entrar no Templo, não poderiam ver Jesus, a não ser que este saísse e viesse aonde eles estavam. Filipe, então, foi a Jesus e lhe relatou o pedido dos gregos. Jesus, então, afirmou, de modo misterioso: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado!”
Jesus mostra que desejam vê-Lo: É o caminho da Cruz, o caminho da obediência a Deus, o caminho da semente lançada à terra, que não fica só, mas, morrendo, produz muito fruto. É chegada a hora de Jesus. Trata-se de sua Paixão e Ressurreição, pela qual Ele se lança totalmente no plano do Pai e realiza plenamente sua vontade. Um grupo de gregos (os estrangeiros à raça judaica), que estavam em Jerusalém para celebrar a Páscoa, pedem: “Queremos ver Jesus!”, isto é, conhecê-Lo em profundidade. Não se dirigem diretamente a Jesus, mas aos discípulos. Servem-se de dois mediadores: Felipe e André. Diz Jesus: “Se o grão, que cai na terra, morre, produzirá muito fruto”. A fecundidade da vida se manifesta na morte. Jesus vai morrer e nascerá a Igreja. O caminho para ver Jesus é a Cruz: “Quando Eu for elevado da terra (na Cruz), atrairei todos a Mim”. É o caminho para todo o discipulado.
Ao ser pregado na Cruz, Jesus é o sinal supremo de contradição para todos os homens! “Cristo, Senhor Nosso, foi crucificado e, do alto da Cruz, redimiu o mundo, restabelecendo a paz entre Deus e os homens. Jesus Cristo lembra a todos: “quando Eu for elevado da terra, atrairei todos a Mim” (Jo 12,32), se vós Me puserdes no cume de todas as atividades da terra, cumprindo o dever de cada momento, sendo Meu testemunho naquilo que parece grande e naquilo que parece pequeno, tudo atrairei a Mim.
Contudo, eis o mistério: para que os pagãos vejam Jesus, isto é, para que o contemplem com os olhos da fé, para que nele creiam e nele tenham a vida, é necessário que Jesus seja glorificado pela cruz e pela ressurreição! É necessário que Jesus, grão de trigo, que se faz Eucaristia, morra de dê fruto – e este fruto é toda a humanidade, judeus e gentios que nele acreditarão e nele terão a vida eterna: “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz fruto”. Jesus entregará ao Pai a sua vida, para frutificar em salvação para nós, para que possamos vê-lo, contemplá-lo e experimentá-lo como nossa Luz e nossa Vida. Seguir Cristo: este é o segredo! Acompanhá-Lo tão de perto, que vivamos com Ele, como os primeiros Doze; tão de perto, que com Ele nos identifiquemos: se não colocarmos obstáculos à graça, não tardaremos a afirmar que nos revestimos de Nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 13,14).