Quando não há barreiras para o amor

Frei Gustavo Medella

A sociedade aberta, sem fronteiras, a aldeia global interconectada da comunicação em tempo real, full time on line, contraditoriamente, pode também ampliar distâncias e gerar estrangeiros em profusão. No ônibus, no restaurante, no metrô, na rua e até dentro de casa, facilmente cada um derrama os olhos sobre a pequena tela de seu aparelho, enche os ouvidos com a massa sonora que sai do fone e se torna incapaz de perceber quem está sentado a seu lado na condução, nem vê aquele pedinte sentado na calçada, de quem pulou as pernas que estavam no caminho, e não escuta a voz do senhor que acabou de lhe perguntar as horas. Em casa, a história se repete, o fascinante recorte de vida contido numa tela luminosa de 5” se torna mais interessante do que tudo o que pode ser encontrado à volta.

O tom exagerado da descrição não tem o objetivo de demonizar os recursos da tecnologia, nem de exaltar as glórias do passado, como se disséssemos “Antigamente é que era bom!”, mas quer chamar atenção sobre o quanto se tornou fácil nos distanciarmos, de nos tornarmos estrangeiros para aqueles que estão mais próximos. E este distanciamento facilmente pode nos induzir a uma postura de descompromisso em relação ao outro, um dos piores efeitos que o individualismo pode produzir.

Em Cristo, no entanto, Deus nos convida a quebrar este esquema de isolamento e indiferença. Nas palavras e nas ações do Filho de Deus, temos argumentos e exemplos de sobra para irmos ao encontro uns dos outros, especialmente dos que mais precisam. Esta consciência do laço de humanidade que nos une para além de qualquer diferença está presente na liturgia deste 9º Domingo do Tempo Comum.

Na 1ª Leitura (1Rs 8,41-43), ainda no Antigo Testamento, a Sabedoria de Salomão, que reza a fim de que o Senhor atenda também aos estrangeiros, já acena para o fato de que o Deus de Israel é Deus de todos. O Salmo Responsorial (Sl 116,1.2) segue a mesma linha da unidade de todos em Deus, ao exortar: “Cantai louvores ao Senhor, todas as gentes, povos todos, festejai-o! Pois comprovado é seu amor para conosco, para sempre Ele é fiel!” Sentir-se incluído neste amor pleno e universal deveria impulsionar o cristão a ser alguém profundamente inclusivo.

No Evangelho (Lc 7,1-10), duas atitudes do oficial romano tocam profundamente o coração do Mestre: primeiro, o amor interessado por seu subordinado que estava gravemente enfermo; em segundo lugar, a profunda fé na ação salvífica e curadora do Filho de Deus. Jesus se viu comovido diante de tamanha demonstração de nobreza daquele estrangeiro. Toda barreira foi derrubada: ali não estavam mais o nazareno e o romano, mas dois corações, o do ser humano e o de Deus, encontrando-se num gesto de restauração da vida, de promoção da paz, de transformação do mundo.
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Fonte: Franciscanos

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