“Só tu tens palavra de vita eterna”

    Tornava-se difícil para os judeus ouvir Jesus. A proposta era, com toda certeza, bastante atraente, mas os tirava totalmente do caminho trilhado a que se haviam acostumado. Diante de Jesus, já não eram mais aqueles que conheciam as leis. Nem poderiam apresentar mérito algum. Simplesmente, deveriam aceitar aquilo que Jesus dizia. Seguir Jesus de verdade exige sempre abandonar tudo e colocar-se em suas mãos. É preciso abrir-se à ação de Deus que nos guia por caminhos inimagináveis.
    Ao longo de sua vida pública, Jesus se encontraria mais de uma vez com a rejeição de parte daqueles que o ouviam. Não apenas isso. Mais de uma vez, também, aqueles que Ele havia escolhido para segui-lo deixariam o grupo para voltar atrás, a seu mundo e às suas ocupações habituais. Era-lhes difícil caminhar com Jesus, seguir seu ritmo. Com certeza, sua palavra e seu estilo de vida, sua pregação eram atraentes, mas também bastante exigentes. E haviam deixado para trás a pequena segurança de suas casas e de seus trabalhos, de suas famílias e seus patrícios, seu mundo e seu lar.
    O Evangelho do vigésimo primeiro domingo do Tempo Comum nos coloca frente a uma dessas situações de crise no próprio grupo de Jesus. Diz expressamente que “muitos discípulos voltaram atrás e deixaram de ir com Ele”. Mas também nos dá a resposta corajosa de alguns outros. Certamente, nem uns nem outros sabiam com segurança qual seria o final do caminho. Mas aqueles que decidiram ficar estavam certos de que Jesus tinha palavras de vida eterna. Sua novidade os havia deslumbrado de tal forma que valia a pena deixar qualquer coisa para segui-lo. Foi Pedro, como em outras ocasiões, o encarregado de responder em nome do grupo: “Senhor, a quem iríamos nós?” Suas palavras foram solenes, mas por trás delas se escondia um longo processo de dúvidas e hesitações, passos adiante e passos para trás. Recordemos que este é o mesmo Pedro que negaria Jesus por três vezes, durante a sua Paixão. E que, enquanto isso, os demais discípulos haviam fugido.
    Para nós, é importante recordar essas palavras de Pedro. Nos momentos de dificuldade e de vacilação, quando sentimos a tentação de abandonar Jesus, de deixar a comunidade, de nos entregarmos a uma vida cômoda e sem compromisso quando tudo corre bem, essas palavras podem ser convertidas em nossa oração: “Senhor, a quem iríamos nós? Só tu tens palavras de vida eterna”. É certo que nessas palavras encontramos a força para recomeçar.