Proximidade dos mais pobres

    Em nossos dias, a humanidade nunca produziu tanta riqueza, mas também nunca viu tamanha pobreza. Por mais terrível que possa parecer, certa parcela da população simplesmente não conta, pois a economia pode sobreviver sem ela. São os excluídos, a massa sobrante.

    A opção preferencial pelos pobres é um dos princípios da Doutrina Social da Igreja. São João Paulo II sublinha na Encíclica Centesimus Annus que “o amor da Igreja pelos pobres, que é decisivo e pertence à sua constante tradição, impele-a a dirigir-se ao mundo no qual, apesar do progresso técnico-econômico, a pobreza ameaça assumir formas gigantescas” (n. 57).

    Partindo do pressuposto que o cristão no novo milênio deverá contemplar o rosto de Cristo para poder responder ao mundo que pede por Jesus, o mesmo Pontífice acentua que devemos contemplá-lo nos rostos com os quais Ele mesmo quis se identificar, isto é, o rosto dos pobres (Mt 25, 31-46). A fidelidade ao serviço dos pobres é colocada no mesmo nível da ortodoxia, para medir a fidelidade da Igreja ao projeto de Jesus Cristo (Novo Millennio Ineunte, n. 49).

    A opção pelos pobres é um aspecto central da Doutrina Social da Igreja, pois falar da questão social significa falar dos pobres. Nesse sentido, pode-se dizer que a Doutrina Social tem como objetivo primário a defesa dos pobres (Mater et Magistra, n.17;18). No entanto, não compete a ela propor soluções técnicas, muito menos sistemas ou programas econômicos. O que ela tem para oferecer é um conjunto de princípios para a reflexão, de critérios para o julgamento e de diretrizes para a ação (Sollicitudo rei socialis, n. 41).

    Tendo a missão de iluminar as consciências, a Igreja, através do seu ensinamento social, pretende julgar se as bases de uma determinada ordem social estão de acordo com a ordem imutável que Deus, Criador e Redentor, manifestou por meio do direito natural e da Revelação (La Solennità, n. 5). Em uma perspectiva estrutural, acentua a CNBB que “a existência de milhões de empobrecidos é a negação radical da ordem democrática. A situação em que vivem os pobres é critério para medir a bondade, a justiça, a moralidade, enfim, a efetivação da ordem democrática. Os pobres são os juízes da vida democrática de uma nação” (Exigências éticas da ordem democrática, Doc. 42, n. 72).

    O Papa Francisco, além de ter significativamente escolhido esse nome por causa dos pobres, acentua que a opção preferencial pelos pobres não é uma categoria sociológica ou cultural, mas teológica, lembrando o que disse o Papa emérito Bento XVI na abertura da Conferência de Aparecida, de que esta opção está implícita na fé cristológica, de modo que não se pode seguir Jesus sem fazer esta opção e que ela deve perpassar transversalmente todas as estruturas e prioridades pastorais (Evangelii Gaudium 198; cf. Documento de Aparecida 392; 396).

    Enfim, como afirma o Concílio Ecumênico Vaticano II, aos Bispos é confiado, de modo especial e particular, o cuidado dos mais pobres e fracos (Christus Dominus 13). No dia de sua ordenação episcopal é lhes perguntado: “Quereis ser, pelo nome do Senhor, bondosos e compassivos com os pobres, os deslocados e todos os que precisam?”, ao que o eleito para o episcopado responde: “Sim”.

    A fidelidade a este compromisso é o resultado que vemos na caminhada de nossa Igreja latino-americana, expressa sobretudo nas Conferências Gerais de Puebla e de Santo Domingo, bem como na presença profética da Igreja no Brasil através da CNBB, e do trabalho social de nossas Dioceses.

    Estamos vivendo, com grande intensidade, o II Dia Mundial do Pobre em nossa Arquidiocese, com inúmeras atividades, que iniciaram no último sábado, dia 10 e se estenderão até o próximo domingo dia 18. Audiência pública na Câmara dos vereadores sobre as políticas públicas (CF 2019), encontro ecumênico sobre os trabalhos sociais, fórum com os agentes sociais da arquidiocese, encontros da província eclesiástica (bispos, seminaristas) e gestos concretos de presença e proximidade dos mais necessitados. Como um sinal concreto, após o café da manhã com os moradores em situação do centro da cidade, e antes do almoço, a Catedral irá inaugurar uma estátua – O Cristo sem teto – doação do autor canadense parta a nossa cidade, intermediada pela embaixada do Brasil junto ao Vaticano e a Ordem do Santo Sepulcro.

    O Papa Francisco resume bem o que devemos fazer nesta semana concretamente: “Portanto somos chamados a estender a mão aos pobres, a encontrá-los, fixá-los nos olhos, abraçá-los, para lhes fazer sentir o calor do amor que rompe o círculo da solidão. A sua mão estendida para nós é também um convite a sairmos das nossas certezas e comodidades e a reconhecermos o valor que a pobreza encerra em si mesma.” http://www.ssvpbrasil.org.br/hoje-e-o-dia-mundial-dos-pobres/, último acesso em 10 de novembro de 2018.

    Sejamos solidários! Acolhamos com alegria todos os que passam necessidades. Vamos, de maneira concreta, convidá-los para uma boa refeição a quem está sem poder se alimentar dignamente. Vamos oferecer uma roupa nova ou em bom estado para quem está desprovido de condições de se vestir. Vamos dialogar, ouvir, acolher e amar as pessoas que vivem em pobreza, porque quem dá aos pobres empresta a Deus. Sejamos generosos e próximos – que Deus nos ajude a estender as mãos e os braços para acolher os mais necessitados! Vamos, sem temor, ao encontro dos mais pobres levar a alegria do Ressuscitado para cada um deles!

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