Progredir na Fé

    Maravilhosa a súplica dos Apóstolos ao Mestre divino: “Aumenta em nós a fé” (Lc 17,5-10). Prece que se deve sempre repetir, porque é na fé e pela fé que se pode acolher o mistério de Deus o qual se revela e se dá a cada um. Cumpre, porém, penetrar fundo no significado desta primeira virtude teologal. Quando alguém proclama de todo seu coração que ele crê, isto patenteia todo um programa existencial.  Com efeito, o Papa emérito Bento XVI na sua primeira encíclica “Deus é amor” explica: “Nós temos crido no amor de Deus: é assim que o cristão pode exprimir a escolha fundamental de sua vida. Na origem do fato de ser cristão se depara não uma decisão ética ou uma grande idéia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que oferece à vida um novo horizonte e, na verdade, sua orientação decisiva”. De fato, a Fé se enraíza numa aceitação do Ser Supremo que se dá gratuitamente no Amor e numa atitude humana que responde a tudo o que este dom maravilhoso significa na sua existência. Trata-se, portanto, de uma graça, de uma oportunidade oferecida por Deus. Este Deus vem até o ser racional se revelando ao mesmo, mas respeitando sempre sua liberdade. O homem pode ou não acatá-lo, aceitando, ou não, sua dádiva maravilhosa. Esta dádiva está refulgente da luz divina e chama a pessoa humana a viver em toda sua existência em função de realidades que ultrapassam os limites terrenos. Deus se dá a conhecer lá no íntimo de cada um e também através da revelação bíblica, sobretudo na pessoa de seu Filho bem amado que é a expressão máxima da ternura do Pai celeste. O Todo-Poderoso se manifesta também na Igreja que apela sempre para que se acolha em plenitude seu amor misericordioso deste, oferecendo os meios para tanto, ou seja, os ensinamentos do magistério, os sacramentos. Corresponder a tudo isto é ir ao encontro da alegria, da liberdade, é poder plenamente se realizar. Eis porque o verdadeiro cristão se põe a repetir: “Senhor, aumenta-nos a fé”. Cumpre, entretanto, que se tenha bem claro que a fé é bem mais do que uma simples opinião, do que uma conclusão de uma reflexão ou de um raciocínio. Ela é, isto sim, um elã, uma adesão, um engajamento da pessoa no Deus que se revelou. O importante, portanto, é apoiar-se em Deus, viver em função dele, escutando sua Palavra, suas mensagens, como se ouve com prazer aquele no qual se tem total confiança. Isto significa firmar nele a possibilidade de agir em tudo conforme sua vontade santíssima, com Ele e por Ele. Esta fé então não cresce de acordo com os estudos sobre o Ser Supremo, mas na vivência plena de um contato contínuo com Ele. Trata-se de uma abertura ao amor divino, um acolhimento de sua misericórdia infinita. Disto resulta um ser humano animado e inspirado pelo seu Senhor Onipotente. Desta maneira, quem crê nada atribui a si mesmo e se reconhece um pobre servidor que faz o que devia fazer e nada tem que se gloriar disto, uma vez que tudo lhe é possível realizar, mas com a graça de Deus. Assim não se transforma a religião numa prática situada no plano dos merecimentos e do direito à recompensa, como acontecia com os fariseus. Tudo que vem de Deus é expressão de Sua bondade e não algo devido a cada um por estrita justiça. O que Deus concede se insere na ordem da pura benevolência, por uma generosidade sem limites. Em vista de tantas graças, quem tem fé procura ser agradecido, trabalhando para honra e glória do Doador de todos os bens. Em consequência, ser apóstolo não é mais do que uma obrigação. Como bem se expressou São Paulo, “anunciar o Evangelho não é motivo de orgulho”, mas uma necessidade que incumbe a cada um. Donde sua conclusão: “Ai de mim se não anuncio o Evangelho” (1 Cor 9,16). Desta forma, a fé se torna exigente e leva fatalmente ao apostolado. Eis o que significa a gratuidade da amizade com Deus que provém da fé. Esta deve se irradiar por toda parte, levando a verdade a todos para que em tudo Deus, no qual se acredita, seja glorificado. Eis porque a entrega a um apostolado efetivo se torna uma necessidade do coração, um impulso de amor e reconhecimento a Deus. Levar outros a possuir esta fé, participando da Eucaristia, se faz uma tarefa agradável e outros encontrarão em Deus seu rochedo firme, seguro, sua ventura sem fim. É preciso, contudo, que aquele que tem fé a manifeste especialmente nos momentos da tribulação, quando os acontecimentos atormentam com cuidados e as tribulações aumentam. Esta é a hora de se rezar: “Senhor, aumenta minha fé, fortifica-a”. Mesmo então fragilizado quem realmente crê não desfalece e fixa a fé daqueles que titubeiam. Na hora da morte, escutará da parte de Deus: “Bem-aventurado servo fiel, entra na glória do teu Senhor” (Mt 25,21).

     

    Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.