Eis o ideal do autêntico seguidor de Cristo: descobrir continuamente a verdadeira vida espiritual, deparando a liberdade interior. Para tanto cumpre escutar o que Deus lhe fala a cada instante para crescer sempre na fé. Longe de querer negociar com o Senhor Onipotente se interessar mais por Ele, procurando Sua honra e glória. Uma entrega total a Ele, não por mero interesse de suas dádivas e favores celestes. Deste modo, a prece não se torna uma moeda, mas um instante sublime de comunicação com o Ser Supremo. É que Ele, livremente, gratuitamente quer, de Sua parte, entrar em contato com suas criaturas racionais. Com efeito, deseja que cada um se doe a Ele, porque o maior dom é Ele mesmo. O cristão é um servo de seu Senhor, mas cuja relação com Ele deve se situar nas regiões da gratuidade. Assim, a santidade na qual o batizado necessita se desenvolver será uma consequência e ele encontrará todas as bênçãos divinas como resultado desta atitude de entrega a Ele. Este Deus se torna destarte o grande amigo e a oração passa a se desenvolver na silenciosa presença daquele Deus que se encontra no íntimo da alma. Aí a essência mesma da fé que realiza uma das dimensões essenciais da afinidade entre o homem e Deus. O ser racional tem então o afã de amar o seu Criador e passa a compreender quão suave é o Senhor. Uma descoberta maravilhosa. Deus, de fato, não resiste a um coração que se abre sem reticências para Sua presença. Qualquer temor fica afastado, dado que se passa simplesmente a amar a Deus que é amor. É o permitir que Ele exista lá dentro de cada um, dado que é um Pai amoroso, terno que deseja a felicidade de seus filhos. Tudo isto supõe a renúncia que não é a recusa da alegria, mas a procura da autêntica liberdade. .Ruem desta forma por terra todos os falsos ídolos, os apegos fúteis ao que é transitório. Deus se torna o único bem. Abrir-se para Ele é orientar o desejo para aquilo que vale a pena valorizar e que durará por toda a eternidade na mais profunda quietude. Há, pois, uma necessidade de uma reorientação contínua para Deus, apartando os obstáculos terrenos que impedem a união com Ele. A partir daí o cristão ousa crer no contínuo perdão divino, mesmo porque há, sobretudo, o desapego completo do pecado e de tudo que possa desagradar a Deus. Compreender-se-á que os benefícios celestiais não dependem de grandes penitências em reparação das faltas humanas, mas da dileção profunda que se tenha para com Aquele que é a Misericórdia infinita. Assim sendo, o reconhecimento da própria fraqueza não entrava a ralação com Deus, mas, antes, a deve reforçar. O essencial não é o pecado, a debilidade inerente à contingência humana, mas a oblação a Deus, em cujas mãos o cristão procura inteiramente se entregar. Ficam também afastadas todas s formas de um ativismo sem rumo e, evidentemente, de todo imobilismo condenável. As preocupações tendem a ser tornar uma obsessão, entretanto quando tudo se faz para o louvor divino as ações calmamente se sucedem longe de toda agitação. Impregnadas da sensação do divino as horas se sucedem na tranqüilidade e o cristão contempla maravilhas em seu derredor. De fato, a adesão à vontade de Deus abre um acesso a novas potencialidades humanas que ficam tantas vezes submersas no agitamento dos fatos exteriores. Todas as ocasiões se tornam propícias porque Deus está junto daquele que nele confia É certo que a maneira de se pensar em Deus não pode ser constante e igual, mas o desejo, a reta intenção ficam duráveis, vivos em todas as circunstâncias. O perigo que o cristão corre é a dispersão e a fascinação pelas coisas criadas. O que se esquece muitas vezes é que Deus está presente na vida de cada um ainda quando alguém nele não esteja pensando. Aos poucos a vontade própria vai se identificando sempre mais com o querer divino e as menores ações se tornam orações por força de se querer o que Deus quer naquele instante. É assim que o cristão fica consciente de que ele se tornar feliz imerso na beatitude de Deus no qual vive numa atitude serena. É claro que todo este ideal de vida cristã se dá através da união com Deus em Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro, o qual, tendo tomado a natureza humana é realmente o Caminho, a Verdade e a Vida. São Leão Magno deixou o magno alerta: “Cristão toma consciência de tua dignidade. Cristo se fez homem”. Eis porque será sobretudo na participação na comunhão eucarística que seu discípulo verá crescer sempre mais sua intimidade com Deus.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.