Primeiro Domingo da Quaresma

    Celebramos o primeiro domingo deste tempo forte na Igreja chamado de Quaresma. Neste tempo quaresmal temos a oportunidade de acompanhar o Senhor que vai ao deserto e ali fica por 40 dias em jejum e oração. A Quaresma nos dá a graça de através do deserto, adentramos em nossos corações e assim fazermos um retiro espiritual a caminho da Páscoa.

    A Quaresma, tempo de conversão em vista da celebração do mistério pascal. Tempo de volta ao nosso “primeiro amor”, nosso projeto de vida assumido diante de Deus e Jesus Cristo. As leituras deste domingo ensinam-nos a acreditar na possibilidade da renovação de nossa vida cristã. A Quaresma era preparação para o batismo, administrado na noite pascal. O batismo era visto como participação na reconciliação operada pelo sacrifício de Cristo por nós (cf. Rm 3,21-26; 5,1-11; 6,3 etc.). No mesmo espírito, a liturgia renovada do Concílio Ecumênico Vaticano II insiste em que, na noite pascal, sejam batizados alguns novos fiéis, de preferência adultos, e todos os fiéis façam a renovação de seu compromisso batismal.

    Na primeira leitura – Gn 9,8-15 – a leitura do Gênesis nos mostra como Deus é cheio de boas intenções e bons sentimentos em relação a nós: depois de haver lavado todo pecado da terra pelo dilúvio, misericordiosamente, o Senhor nosso Deus fez aliança com toda a humanidade e com todas as criaturas: “Eis que vou estabelecer minha aliança convosco e com todos os seres vivos! Nunca mais criatura alguma será exterminada pelas águas do dilúvio.” E, de modo poético, comovente, o Senhor colocou no céu o seu arco, o arco-íris, como sinal de paz, de ponte que liga a criatura ao Criador: “Ponho meu arco nas nuvens, como sinal de aliança entre mim e a terra!” Com esta imagem tão sugestiva, a Escritura Sagrada nos diz que os pensamentos do Senhor em relação a nós são de paz e salvação. Podemos rezar como o Salmista: “Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos; sois o Deus da minha salvação! Recordai, Senhor, meu Deus, vossa ternura e a vossa salvação, que são eternas! O Senhor é piedade e retidão, e reconduz ao bom caminho os pecadores!”

    A segunda leitura – 1Pd 3,18-22 – mostra que a primeira Carta de São Pedro é uma exortação a um grupo de igrejas situadas em cinco províncias romanas da Ásia Menor. Lá como em outras regiões, começava a aparecer um horizonte sombrio para as incipientes comunidades cristãs. Os novos fiéis se comportavam como se fossem estrangeiros em suas cidades (1,1; 2,11). Daí que o fato de ser cristão fosse considerado com hostilidade e desprezo (4, 14-16). O apóstolo escreve de Roma (5, 13) um pouco antes da perseguição de Nero (64 d.C.), para exortar os cristãos a abandonarem costumes erradas e desmentir assim as calúnias dos pagãos. O batismo compromete o cristão a uma conduta correta, tanto dentro da comunidade como fora. Em relação aos que constituem o ambiente ainda pagão (2,12; 3, 15-16; 4, 4), citando o exemplo de Cristo, inocente, mas considerado como culpado, a carta é o resumo neotestamentário mais denso da conduta que a fé cristã provoca através do batismo. A segunda leitura faz parte da catequese batismal que caracteriza a 1ª Carta de Pedro. O batismo supõe a transmissão do Credo. Assim, 1Pd 3,18-4,6 contém os elementos do primitivo Credo: Cristo morreu e desceu aos infernos (3,18-19), ressuscitou (3,18.21), foi exaltado ao lado de Deus (3,22), julgará vivos e mortos (4,5). Tendo Ele trilhado nosso caminho até a morte, nós podemos seguir seu caminho para a vida (3,18).

    O Evangelho – Mc 1,12-15 – é dividido em duas partes: As tentações de Jesus e o início de sua evangelização. É um tanto estranho esta narração das tentações de Jesus, visto que, aparentemente, nada aportam à sua mensagem evangélica. Porém, nada disso é verdadeiro. Em primeiro lugar devemos considerar que se Jesus, o Mestre e Fundador, foi tentado pelo diabo em pessoa, todos os seus seguidores fiéis podem, e, de fato, são tentados, quando iniciam uma vida de entrega aos planos divinos para a salvação dos homens. Somos convidados nestes dias a retomar a consciência de ser este povo santo. E como fazê-lo? Como Jesus, o Santo de Deus, que passou quarenta dias no deserto em combate espiritual, sendo tentado por Satanás. A Quaresma é um tempo de deserto, de provação, de combate espiritual contra Satanás, o Pai da mentira, o enganador da humanidade. Sem combate não há vitória e não há vida cristã de verdade! A Igreja, dá-nos as armas para o combate: a oração, a penitência e a esmola. A Igreja nos pede neste tempo, que combatamos nossos vícios com mais atenção e empenho; a Igreja nos recomenda a leitura da Sagrada Escritura e de livros edificantes, que unjam o nosso coração.

    Se a aliança após o dilúvio já revelava a benignidade do coração de Deus, é em Cristo que tal bondade, tal misericórdia, tal compaixão se nos revelam totalmente: “Cristo morreu, uma vez por todas, por causa dos pecados, o justo pelos injustos, a fim de nos conduzir a Deus!” Não é este Mistério tão grande que vamos celebrar na Santa Páscoa? Nosso Senhor, morto na sua natureza humana, isto é, morto na carne, foi justificado, ressuscitado pelo Pai no Espírito Santo para nos dar a salvação definitiva, selando conosco a aliança eterna, da qual aquela de Noé era apenas uma prefiguração. Deus nos salvou em Cristo, dando-nos o seu Espírito Santo, recebido por nós nas águas do Batismo, que purificam mais que aquelas outras, do dilúvio! Nunca esqueçamos: fomos lavados, purificados, gerados de novo, no santo Batismo.

    DEIXE UMA RESPOSTA

    Please enter your comment!
    Please enter your name here