O impressionante e simples simbolismo de uma cor e de uma história
Como pede o Direito Canônico, é recomendado que todas as numerosas ordens religiosas que existem dentro da Igreja Católica tenham seu próprio traje, segundo os costumes e regras de suas Constituições.
Ainda que às vezes possa ser difícil conhecer todos os detalhes, as túnicas religiosas mais reconhecíveis sejam, talvez, as túnicas grossas de cor marrom que vestem os frades franciscanos, que costumam ser atadas com um cordão com três nós e às vezes acompanhadas de uma sandália. Podemos reconhecer as túnicas dos franciscanos há uns 100 metros de distância, mas como chegou a ser marrom a cor normativa da Ordem?
Viver com simplicidade
Os franciscanos se dispõem a viver sua vida em solidariedade com os pobres e viver com poucas posses, assumindo votos de pobreza. A regra de São Francisco não prescreve nenhuma cor particular para a Ordem, mas convida seus membros a usarem roupas humildes, a vestirem-se com “roupas vis”. Os franciscanos devem servir aos pobres estando em seu mesmo nível e não ajudaria sua missão vestirem-se com roupas finas enquanto servem aos necessitados.
Em 1240, um cronista inglês relata Frades Menores vestidos com “túnicas largas de cor cinza”. Nas Constituições de Narbona (1206), São Boaventura, que era Ministro Geral, prescreve que os frades não se vistam nem de preto nem de branco.
Os tons terra refletem o corpo terreno
Toda Ordem que assume um voto de pobreza o faz para demonstrar que as posses não são o que nos definem e para seguir as palavras de Jesus no Evangelho de Mateus (Mt 19, 21).
“Se você quer ser perfeito, vá, venda tudo o que tem, dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois venha, e siga-me.”
O Espelho da Perfeição menciona a admiração de São Francisco pela cotovia, sugerindo que o marrom reflete a vida terrena:
“A Irmã cotovia tem um capuz como os religiosos e é uma ave humilde. Sua veste, isto é, as penas, assemelha-se à terra e dá exemplo aos religiosos, que não devem ter vestes delicadas e coloridas, mas baratas e cor de terra, que é mais humilde que os outros elementos”.
A princípio, marrom era tudo o que tinham
São Francisco iniciou sua ordem em 1209. Naquela época, os camponeses davam as túnicas dos frades, aldeões que por certo não eram muito mais ricos que os franciscanos. As cores mais comuns usadas pelos camponeses da Idade Média eram os diferentes tons de cinza e marrom, dependendo da origem da lã empregada. A lã sem tintura era a mais barata disponível. A túnica de São Francisco, conservada na Basílica Nossa Senhora dos Anjos, era cinza. Os franciscanos, cuja roupa deveria ser funcional e duradoura, não se preocupavam com a cor, mas à medida em que sua influência crescia, o marrom simplesmente converteu-se em sua cor.
A cor servia também para outro propósito. Quando a ordem começou, os irmãos viviam entre os leprosos na colônia de Rivo Torto, próximo de Assis, e passavam grande parte de seu tempo escalando a região montanhosa da Úmbria para ajudar os necessitados. Os frades, muitas vezes, dormiam no chão, por isso que a cor marrom era útil para ajudá-los a manter um aspecto relativamente limpo.
O cordão
Outro sinal distinto da vestimenta franciscana é o cordão com três nós que é colocado na cintura. Enquanto o cordão ajuda a manter as túnicas fechadas nos dias de vento, os três nós representam a pobreza, castidade e obediência, as três pedras angulares da Ordem Franciscana.
O capuz
Ainda que a maioria da veste franciscana tenha um capuz acoplado ao hábito, um ramo da Ordem Franciscana se distingue pelo comprimento do capuz. Os Frades Menores Capuchinhos recebem este nome por causa do capuz e, por sua vez, deram nome ao macaco capuchinho (Cebus) e ao cappuccino, a bebida de café que imita a coloração do hábito franciscano.
Menores, Capuchinhos e Conventuais
Os Frades Menores Conventuais, até as Constituições de 1803, estavam obrigados a usar cinza, mas desde 1823 começou a prevalecer o preto.
Os Frades Menores Observantes fazem sua transição oficial do cinza para o marrom no Capítulo de Assis de 1895, quando Leão XIII unificou em Frades Menores as diferentes famílias da Observância (Reformados, Alcantarinos, Recoletos).
Os Frades Menores Capuchinhos decidiram, em 1912, adotar a atual cor marrom castanho. A cor do hábito das famílias franciscanas da primeira Ordem nasce e evolui dentro de correntes internas. Até 1517, a Família Franciscana nascida em 1209 era juridicamente uma, governada por um único Ministro Geral, considerado por todos sucessor direto de São Francisco. Neste ano, Leão X deu independência jurídica ao movimento da Observância. É deste movimento que deriva a família dos Capuchinhos (1525), que sob a tutela jurídica dos Frades Menores Conventuais alcança a independência jurídica em 1628.