Cidade do Vaticano (RV) – O anúncio da saída de Marie Collins – vítima de abusos – da Comissão para a Tutela dos Menores instituída pelo Papa Francisco, ganhou ampla repercussão. Uma decisão que não diminui a luta contra a chaga da pedofilia na Igreja.
Esta é a convicção do Padre Hans Zollner, membro da mesma Comissão e também Presidente do Centro para a Proteção dos Menores na Pontifícia Universidade Gregoriana:
“Marie Collins havia avisado da sua consideração de deixar a Comissão há cerca de quatro semanas. Certamente, lamento muito. É triste que tenha sentido a necessidade de deixar. Na minha opinião, foi devido ao acúmulo de tantas frustrações que – entendo muito bem – uma vítima de abuso deve sentir, porque não vê aquela velocidade, aquela consistência na resposta, como ela disse, de alguns setores da Santa Sé”.
RV: O senhor teve conhecimento de alguma reação por parte das vítimas dos abusos em relação à decisão de Marie Collins?
“Lamento muito porque obviamente muitas das vítimas de abusos estão muito tristes, expressaram um grande desapontamento, mas também entenderam que a situação é muito complexa, porque não falamos de uma instituição que reage com a mesma velocidade em todos os setores. A própria Marie confirmou que colaboraremos também no futuro, como já fizemos no ano passado na formação de membros da própria Cúria. Como disse em uma das entrevistas, o balanço de seu trabalho na Comissão – são palavras suas – é positivo, continuará, e que devemos nos esforçar para uma mudança de mentalidade. Aqui falamos de uma mudança de cultura que não se faz instantaneamente, porque é preciso muita paciência, mas entendo que a sua paciência tenha acabado. Seguimos em frente. Estou muito confiante de que poderemos ser mais incisivos, porque penso que a mensagem que ela queria dar, tenha chegado”.
RV: Com a saída de Marie Collins, existe o risco de que perca força o trabalho e a credibilidade da Comissão diante da opinião pública?
“Certamente, o risco existe. A voz das vítimas não é representada por pessoas identificadas como vítimas, mas isto não significa que a voz das vítimas não esteja presente ou representada, porque todos nós, o Cardeal O’Malley, antes de todos, encontramos centenas de vítimas de abusos. A voz das vítimas estará presente e eu estou certo de que, também “com” ou talvez precisamente “pela” ausência de Marie, estaremos ainda mais atentos em considerar aquilo que pensarão, sentirão, perceberão as vítimas, quer em relação ao trabalho da Comissão, quer em relação àquilo que é a missão da Comissão, de transmitir ao Santo Padre recomendações precisas”.
RV: Esta situação acontece quando estamos próximos do quarto aniversário da eleição do Papa Francisco. Como o senhor dizia, a velocidade do processo talvez seja menor do quanto se esperava. Mas ao mesmo tempo, podemos afirmar que a luta contra a pedofilia na Igreja foi fortalecida nestes últimos anos?
“Certamente sim. Eu posso testemunhar isto com as minhas visitas aos cinco continentes, em cerca de quarenta países. Dentro de duas semanas estarei na África do Sul e no Malaui. São países onde até há pouco tempo este tema era tabu! Estamos fazendo também tantas outras coisas: em maio iremos a Bangkok para a Federação de todas as Conferências Episcopais da África. É uma mudança em termos de progresso – como o conhecemos da Igreja, que é a maior e mais antiga instituição do mundo – bastante rápida. Infelizmente não tão veloz como gostaríamos todos, mas um organismo com 1 bilhão e 300 milhões de membros, não muda de um dia para o outro, em se tratando de mudança de mentalidade, sobretudo como a própria Marie Collins disse em uma das entrevistas concedidas e que eu li há pouco. Isto não ocorre de hoje para amanhã”.
RV: O Papa Francisco é respeitado até mesmo pela mídia secular, pelo seu esforço na luta contra esta chaga da pedofilia. Ultimamente, porém, alguns meios de comunicação criticaram o Papa por não ser suficientemente severo com sacerdotes que abusaram de menores. O que o senhor pensa a respeito disto?
“Em um dos artigos, foi representado um caso que depois foi extrapolado como se fosse uma mudança geral do comportamento do Papa em relação àqueles que cometeram abusos. Isto não somente não é verdade, como é exatamente o contrário! A linha principal daquele artigo sugere que existe uma diluição da severidade. Não! O Papa disse isto também há duas semanas no prefácio que escreveu para o livro de uma das vítimas (Daniel Pitter ndr). Disse claramente qual é e qual continua a ser a sua posição”.
Fonte: Rádio Vaticano