PARA QUE O MUNDO CREIA (Jo 17,21b) Carta Pastoral do Cardeal Orani João Tempesta

    Carta Pastoral

    do Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist.

    Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro

    por ocasião do Jubileu de Ouro Presbiteral

    na 12ª festa da Unidade.

    14 de dezembro de 2024.

    Caríssimos irmãos e irmãs em Cristo,

    1. Neste ano em que celebro o Jubileu de Ouro do meu sacerdócio, convido cada um de vocês a refletirem comigo sobre o chamado à unidade que Cristo nos fez. Ao longo desses cinquenta anos de ministério sacerdotal, pude experimentar as riquezas e os desafios da missão confiada a nós, pastores do rebanho. E, à medida que o tempo avança, a certeza que resplandece com ainda mais vigor é esta: a essência da vida cristã e do ministério está na unidade dos corações em torno de nosso Senhor Jesus Cristo, em quem todos nós somos chamados a ser um.
    2. A inspiração para o lema sacerdotal nasceu no contexto da Paróquia de São Roque, em São José do Rio Pardo, que vivia intensamente o ideal da unidade, envolvendo tanto o pároco quanto os leigos e leigas. Esse mesmo espírito foi reforçado no Mosteiro, onde o então Abade Presidente promovia essa visão de unidade e a transmitia aos monges por meio de encontros formativos.
    3. O Bispo ordenante, o servo de Deus, D. Tomás Vaquero e a madrinha da ordenação, a serva de Deus, Lurdinha Fontão também participam desse mesmo movimento de busca de unidade. Estava cercado na Paróquia, Mosteiro e Diocese por esse ideal.
    4. Quando chegou o momento de escolher um lema para o sacerdócio ministerial que se aproximava, não hesitei em adotar as palavras “que todos sejam um”. Com o passar do tempo, esse lema foi moldando minha compreensão sobre a unidade na diversidade, tornando-se um sinal para uma sociedade marcada por divisões e conflitos.
    5. Estávamos na primeira década do Concílio Vaticano II, cujos documentos sobre o Ecumenismo e o diálogo inter-religioso apontavam para um compromisso renovado da Igreja em favor da unidade e da reconciliação. Naquele momento, não podia imaginar aonde essa escolha me conduziria. Hoje, ao olhar os caminhos percorridos, reconheço como essa inspiração foi providencial e como me ajudou a entender os desafios da evangelização desde o início do meu ministério.
    6. Embora já tenha discorrido muito sobre este tema, considero importante lembrar que Jesus, em sua belíssima “oração sacerdotal”, intercede pela unidade de seus discípulos “para que o mundo creia”. Ele toma como referência a unidade da Santíssima Trindade para iluminar nosso caminho e fortalecer nosso compromisso com a comunhão.
    7. Ao completar 50 anos de ordenação presbiteral, percebo como esse princípio tem sido constante em minha vida sacerdotal e episcopal. Ele me trouxe grande bem e acredito que também beneficiou as pessoas com quem me relacionei ao longo desses anos. Mesmo reconhecendo que, muitas vezes, foi (e será) necessário recorrer ao discernimento para reencontrar a verdade em meio a tantas mentiras e falácias, compreendi que é possível conviver com as diferenças quando há um sincero desejo de encontrar o Senhor. Essa atitude, tão essencial para a sociedade no passado, revela-se ainda mais necessária nos tempos desafiadores de hoje.
    8. As reflexões que se seguem não são novas, mas querem reafirmar convicções e preparar nossos corações para o Jubileu de 2025 – Peregrinos de Esperança -, enquanto celebramos este jubileu de ouro sacerdotal, com espírito de gratidão e renovado ardor missionário.

    O tema da Unidade na Sagrada Escritura

    1. A unidade do gênero humano é um tema central da narrativa bíblica e está em profunda relação com o tema da obediência a Deus e à sua vontade, chave de interpretação da Sagrada Escritura. Por meio desses temas, se percebe e se compreende a lógica do amor de Deus ao qual o ser humano é chamado a ter para com Ele, com o próximo e consigo mesmo.
    1. As narrativas da criação revelam a intenção divina de estabelecer a comunidade de vida e de amor entre os seres humanos com o próprio Deus. A criação do homem e da mulher à imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26-27), enfatiza a dignidade única de cada ser humano e o sentido da sua vocação para viver unido a Deus e ao seu semelhante. O ser humano, varão e virago, foi dotado de capacidades para crescer, se multiplicar e saber cuidar, devidamente, da terra sobre a qual foi estabelecido. Gn 2,18-24, por sua vez, não apresenta o ser humano como ser isolado, mas como membro de uma comunidade. A criação da mulher, a partir do lado aberto do homem, não simboliza superioridade, mas complementaridade, sinal da interdependência entre os dois, refletindo a unidade essencial da humanidade. Essa relação prenuncia a compreensão de que o homem e a mulher são o reflexo vivo do amor de Deus, Uno e Trino, como confessado na fé cristã, base do profundo sentido que reside no “nós” humano, que, por sua vez, se expressa, de modo singular, na vocação e dimensão do matrimônio.
    1. Além disso, essas narrativas bíblicas destacam que a criação do homem e da mulher é um ato gratuito de Deus. A dignidade conferida a cada ser humano implica em responsabilidade mútua, onde a vida em comunidade, na unidade, é abençoada e promovida por Deus. Nesse sentido, a unidade de todo o gênero humano é vocação à solidariedade, à fraternidade e à convivência harmoniosa, enriquecida e manifestada na beleza da diversidade das etnias e das relações que podem ser estabelecidas em favor de toda a humanidade que reside sobre a face da terra.
    1. Assim, a noção de que todos os seres humanos compartilham uma origem comum em Deus, por seu ato amoroso, reforça a noção de que a unidade do gênero humano transcende todas as diferenças culturais, sociais, raciais, familiares, religiosas e unem a humanidade em um divino propósito de felicidade e de realização. Logo, conforme os relatos bíblicos, a criação não estabelece apenas a identidade do ser humano, mas revela a sua vocação à vida de comunhão na unidade com Deus, consigo mesmo, com o próximo e com todo o criado.
    1. A relação entre os seres humanos e Deus é fundamental para entender essa unidade. Cada pessoa é chamada, pela graça de Deus, à aliança com o seu Criador, o que implica uma resposta de fé e amor, exclusiva da humanidade, criada para pensar como Deus pensa, querer como Deus quer e agir como Deus age no amor livre. Essa dimensão relacional se reflete na criação do homem e da mulher à imagem e semelhança de Deus, a fim de que, em sua natureza e juntos, formem a base essencial de toda a comunidade humana e sejam capazes de expressar o sentido esponsal e vital do corpo no amor mútuo, pelo qual, homem e mulher formam uma só carne, sinal eficaz do sacramento primordial desejado por Deus: “Por isso um homem deixa seu pai e sua mãe, se une à sua mulher, e eles se tornam uma só carne” (Gn 2,24). União confirmada por Jesus Cristo no debate sobre o divórcio (Mt 19,5).
    1. A dignidade do corpo humano, portanto, é sagrada e deve ser respeitada; é um aspecto essencial que reforça a unidade querida por Deus para todo o gênero humano, meio de comunhão e amor entre as pessoas. Essa noção de unidade se estende à concepção de que todos os seres humanos compartilham a mesma origem e o mesmo fim: a vida terrena orientada para a vida eterna em plena comunhão com Deus e entre si; é o que se denominará comunhão dos justos e santos.
    1. Partindo dos relatos da criação e da compreensão destes, percebe-se que o Antigo Testamento condensa numerosos ensinamentos sobre a unidade. Um olhar breve para os Patriarcas, Moisés, os profetas e os sábios de Israel, permite adentrar, ainda mais, no tema da unidade.
    1. As narrativas patriarcais revelam que a origem da fé dos filhos de Israel reside na vocação e na missão de Abraão, pelo qual Deus escolheu e quis formar um povo capaz de viver e de refletir em suas palavras e ações essa unidade. A história de salvação, então, começa com a aliança que Deus estabelece com Abraão, eleito para ser “pai de uma multidão de nações” (Gn 17,4), pelo qual se abre o caminho para a humanidade retornar ao seu Criador. Essa escolha, porém, não se limita ao futuro Israel, que descende de Abraão, mas é uma eleição que se expande, a fim de incluir todas as nações. Os profetas se farão arautos dessa expansão, anunciando um tempo em que as nações peregrinarão ao templo do Senhor, promovendo uma era de felicidade e de paz.
    1. Além disso, as narrativas patriarcais, que se seguem com Isaac e Jacó, enfatizam a importância da fé e da obediência a Deus a exemplo de Abraão. Os patriarcas se tornam modelos de fé e de confiança nas promessas divinas. O tema da unidade, nessas narrativas, é um processo que envolve a escolha de Deus, a formação de um povo, a vivência da obediência da fé, pela qual as relações humanas são restabelecidas, culminando na expectativa e na esperança de que todas as nações serão unidas sob a soberania amorosa e fecunda de Deus.
    1. Já com Moisés, a unidade se torna tema central da legislação dada durante a estadia do povo no monte Horeb. Por meio dessa, Moisés enfatizou a importância de se servir a um único Deus e a necessidade de adoração exclusiva a Ele (Dt 6,4). A declaração contida no shemá Israel, não apenas afirma a unicidade de Deus, mas também convoca o povo à vida de unidade em torno dessa fé comum. Esse critério se tornou elemento fundamental da formação do povo durante o tempo do deserto, a fim de que a unidade, forjada no tempo da provação, fosse a base sobre a qual o povo deveria viver a sua nova condição na Terra Prometida. Algo que não aconteceu devido às inúmeras infidelidades causadas pela idolatria e pelo descumprimento da aliança, gerando a violação da unidade para com Deus que se refletiu na falta de unidade entre o povo.
    1. Nesse sentido, os profetas frequentemente chamaram o povo de Israel à unidade, tanto em relação a Deus quanto entre si. A unidade foi simbolizada na relação esponsal entre Deus, “como noivo”, e Israel, “como noiva”, da qual espera a correspondência a esse amor (Os 1–3; Ez 16). Essa analogia do matrimônio reflete a profundidade do compromisso de Deus com seu povo e a expectativa de que a unidade se manifeste na fidelidade e no amor a Deus e à sua vontade.
    1. Isaías profetizou sobre a restauração de Israel e a união dos povos sob a soberania de Deus, destacando que “naquele dia, haverá um só Senhor e seu nome será o único” (Is 27,13). Essa visão de unidade transcende as divisões étnicas e sociais, apontando para um futuro em que todos se reunirão em adoração ao Deus único e verdadeiro. Jeremias, entre os remanescentes em Israel, e Ezequiel, entre os exilados em Babilônia, se dedicaram a fomentar no povo a consciência da aliança violada, mas, ao mesmo tempo, anunciaram o tempo da reunificação de todo o povo sob o pastoreio do próprio Deus (Jr 23,1-6; Ez 34,1-31).
    1. Essa consciência da unidade se fez forte argumento nas palavras dos sábios de Israel. Por meio de provérbios, sentenças e máximas sapienciais, também abordaram a unidade como um valor essencial para a vida comunitária. Mostraram que a busca e a compreensão da sabedoria, qual arte do bem-viver que ensina a viver bem, são fundamentais para se estabelecer a harmonia entre as pessoas. Pr 6,16-19 afirma que Deus abomina a divisão e a discórdia, insistindo que a unidade é um reflexo do caráter divino, pois é fruto da presença e da ação da sabedoria divina no mundo. Ao lado disso, O Saltério é um conjunto de orações, pelo qual une o povo de Deus em torno da sua história de salvação, refletindo a unidade que deve existir entre os fiéis na adoração e na esperança. Os Salmos 122 e 133 são bons exemplos.
    1. Em síntese, esses ensinamentos veterotestamentários formam a base sólida para a compreensão da unidade e mostram que a adoração a um único Deus e a harmonia entre os membros da comunidade são essenciais para a vida de Israel, chamado a ser sinal de unidade para os demais povos. Algo que se tornará o fundamento da pregação e da ação messiânica de Jesus de Nazaré.
    1. No Novo Testamento, em particular nos Evangelhos, o Mestre Jesus Cristo se dedicou à unidade do gênero humano de modo profundo e transformador. Ele é a fonte da nova relação entre pessoas e povos, pois, como Bom Pastor, quebrou as barreiras e os muros de separação. Por seu ministério público, culminado no Mistério Pascal, não apenas reconciliou a humanidade com Deus, mas promoveu a unidade entre todos os seres humanos, concretizando as promessas patriarcais, a legislação mosaica e o ensinamento dos profetas e sábios do seu povo.
    1. Ao escolher Doze apóstolos, dentre seus numerosos discípulos, Jesus reunificava as tribos de Israel e, em sua didascalia a esses direcionada, tinha como meta gerar a unidade na nova família por ele constituída. É o que se vê nas várias situações em que os Doze entraram em conflito (Lc 9,46), mas, principalmente, quando, durante a Última Ceia, orou ao Pai e suplicou pela unidade, meio eficaz para atrair outros ao discipulado: “Não rogo somente por eles, mas pelos que, por meio de sua palavra, crerão em mim: a fim de que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,20-21).
    1. A mensagem de Jesus enfatiza que não há distinções entre as pessoas. Essa visão de unidade é um chamado à solidariedade, à reconciliação e ao perdão mútuo, especialmente em contextos de divisão e conflito, como os enfrentados em várias partes do mundo, tanto no passado como nos dias atuais. Ademais, a ressurreição de Jesus Cristo é a última palavra da autorrevelação de Deus, que não é um Deus de mortos, mas de vivos, reafirmando os vínculos entre a criação, a história e a vida eterna e feliz. Assim, a humanidade restaurada em Jesus Cristo pode viver em comunhão e se torna capaz de refletir o amor divino que une a inteira criação em um novo corpo, o seu, pelo qual inaugurou o Reinado de Deus sobre a face da terra (Mt 5–7). Jesus viveu o amor a Deus e à sua vontade como critério de vida e deixou o amor como meta de realização do seu seguimento (Lc 6,27-38).
    1. A difusão dessa restauração se deu com o dom do Espírito Santo em Pentecostes, manifestação portentosa da unidade desejada por Jesus Cristo para a sua Igreja e, por esta, para a humanidade redimida em seu sangue redentor (Jo 14,16-17.26; 15,26-27). Pentecostes marca o início da missão evangelizadora da Igreja, pela qual o Espírito Santo é agente de reconciliação e unidade entre os fiéis. O dom do Espírito é fundamental para a edificação da comunidade cristã, pois é “vínculo de unidade” que atua no mundo para reunir a humanidade dispersa, criando a nova comunidade de fé no amor que não admite separação ou qualquer forma de discriminação.
    1. Essa unidade já aparece enfatizada na expectativa de Pentecostes, pois os discípulos, reunidos em oração, esperaram com confiança a concretização das palavras de Jesus. Graças ao dom do Espírito Santo, os apóstolos foram transformados e impulsionados a proclamar as maravilhas de Deus em diversas línguas, simbolizando a superação da divisão, causada na construção da torre de Babel (Gn 11,1-9), e a criação de uma nova harmonia instaurada entre os povos (At 2), cumprindo a profecia de Jl 3,1-5. Pentecostes assegurou aos discípulos a ajuda do Espírito para eficazmente continuar a obra de Jesus Cristo, a fim de que todos os povos, nele – por ele – e para ele, se tornassem um só corpo bem unido e articulado no amor. Além de inspirar a evangelização, o Espírito Santo promove a beleza da unidade na diversidade, permitindo que a Igreja viva em todas as culturas e línguas, sem destruir as particularidades de cada uma, mas unindo-as no Corpo Místico de Cristo, concretização da unidade vivida na comunhão fraterna.
    1. Essa vivência nova e renovadora se encontra elaborada nos escritos paulinos e nas Cartas Pastorais. Paulo enfatizou que, em Cristo, não há mais distinções entre as pessoas, pois todas são um em Jesus Cristo (Gl 3,28). Essa afirmação permite entender que a criação do ser humano alcança a sua realização na formação da família divina. No mistério do matrimônio se vislumbra a união de Jesus Cristo e de sua Igreja (Ef 5,21-33), encarnando o que outrora os profetas vislumbraram da união entre Deus e o seu povo. Graças à morte e ressurreição de Jesus Cristo, foi possível instaurar a nova relação entre os indivíduos e entre os povos pelo mistério da reconciliação (Ef 2,13-14). Essa mensagem de reconciliação é central para a compreensão da unidade humana, pois Jesus Cristo é o mediador que restaura a relação entre a humanidade e Deus, promovendo a harmoniosa comunhão de vida entre os seres humanos.
    1. Logo, a unidade em Jesus Cristo implica um chamado à ação. Os fiéis são vocacionados a viver as boas obras que Deus preparou para que, por meio dessas, a nova vida recebida se reflita na unidade não só pela fé, mas por ações concretas de caridade e serviço uns aos outros. É isto que transforma o ser humano, o faz deixar o individualismo e o modela na vivência da comunhão, reflexo de Deus Uno e Trino.
    1. As Cartas Católicas, de igual modo, abordam a unidade do gênero humano restabelecida em Jesus Cristo; enfatizam a reconciliação e a comunhão entre os seres humanos; mostram que essa reconciliação não é só vertical, para com Deus, mas também horizontal, pois implica um chamado da humanidade à unidade. A união em Deus, vivificada pelo amor de Jesus Cristo, deve transbordar em caridade e união fraterna, promovendo o bem comum e a paz entre todos.
    1. Fonte dessa unidade é a Eucaristia que promove a caridade não só entre os fiéis, mas com a inteira humanidade (1Cor 10,17). A vida eucarística inspira ações concretas de amor e justiça, promove o bem comum e a dignidade de cada pessoa, especialmente em favor dos mais necessitados e empobrecidos. É, portanto, transformação socioeclesial, de forma mais justa e fraterna, pela qual são refletidos os valores do Reino de Deus na vida cotidiana.
    1. Enfim, no livro do Apocalipse encontra-se a visão da nova Jerusalém, onde Deus habita entre os seres humanos. O que a tenda-santuário representou para os filhos de Israel (Ex 25,1-9), e que prenunciou a encarnação do Verbo Divino (Jo 1,14), e pelo que ensinou quando disse que na casa do Pai há muitas moradas e que ele as prepararia (Jo 14,2-3), se vislumbra como morada com Deus (Ap 21,3). Assim, o desígnio de Deus de reunir todos os povos, raças e nações em um único corpo, se concretizou no sacrifício redentor do Cordeiro Imolado, que é Jesus Cristo, Novo Adão e Esposo da Igreja, qual nova Eva santa e imaculada no amor. Portanto, a unidade do gênero humano em Jesus Cristo se concretiza na reconciliação e na comunhão, pelas quais Deus continua formando um só povo, unido sob o sigilo da sua paternidade vivida na unção do Espírito Santo que, junto com a Esposa dizem ao Divino Esposo: “Vem!” (Ap 22,17).
    1. Em síntese, a unidade é mais do que um mero conceito fundamental da fé bíblica judaico-cristã. É um projeto de vida, exigência para uma sociedade cada vez mais fragmentada e dividida. Se a globalização e as redes sociais, que poderiam unir as pessoas, muitas vezes exacerbam as diferenças e criam bolhas de isolamento, a busca e a prática da unidade constituem respostas a esses desafios. Numa sociedade unida e fraterna (fratelli tutti), as pessoas trabalham juntas para o bem comum, respeitam as diferenças e encontram soluções conjuntas para os problemas que assolam a humanidade. Para se alcançar a unidade é necessário superar preconceitos, interesses pessoais e divisões históricas, criando um ambiente de diálogo, respeito e compreensão. O Deus da Revelação agiu assim e ensinou, por seu Unigênito Filho, o caminho da realização pelo amor.

    Os documentos do Magistério sobre a Unidade

    1. A Igreja sempre se preocupou com a unidade dos cristãos. O Concílio Ecumênico Vaticano II impulsionou de forma mais efetiva este propósito. Desde então, iluminado pelo ensinamento do mesmo Concílio, o Magistério da Igreja em todos os seus documentos tem dedicado atenção à questão da unidade. Porém, alguns documentos foram dedicados integralmente a este tema tão importante e também atualizados de acordo com as necessidades temporais para que a “Igreja em saída” estivesse sempre atenta e em incessante busca por este dom do Senhor. Abaixo, listamos alguns documentos que norteiam a missão da Igreja em prol da unidade dos cristãos.

    Decreto sobre o Ecumenismo “Unitatis Redintegratio” (1964) – Este decreto do Concílio Vaticano II aborda a busca pela unidade entre os cristãos, reconhecendo que a divisão contradiz a vontade de Cristo e enfatiza a necessidade de diálogo e renovação dentro da Igreja.

    Orientações sobre a Oração Ecumênica “Diretório Ecumênico (1967) – Este diretório do antigo Pontifício Conselho, hoje, Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, fornece diretrizes para a oração ecumênica, enfatizando a importância da unidade na oração e na vida espiritual dos cristãos.

    Diretório para a Aplicação dos Princípios e Normas sobre Ecumenismo (1993) Este documento do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos oferece uma base teológica e prática para o ecumenismo, destacando a necessidade de um compromisso contínuo com a unidade entre os cristãos.

    Encíclica “Ut Unum Sint” (1995) – Escrito por São João Paulo II, este documento reafirma a busca pela unidade como uma responsabilidade de todos os cristãos e propõe um diálogo sincero entre as diferentes tradições cristãs.

    Instrução “Dominus Iesus” (2000) – Este documento do Dicastério para a Doutrina da Fé reafirma a unicidade da Igreja Católica e a necessidade de diálogo com outras tradições cristãs, reconhecendo a importância da unidade na verdade.

    O Chamado à Unidade: “Para que todos sejam um”

    1. Desde o início do meu sacerdócio e, sobretudo, durante meu episcopado, o lema “Para que todos sejam um” (Jo 17,21) guiou meus passos. Este versículo do Evangelho de São João traduz o desejo mais profundo do coração de Jesus: que seu povo viva unido, em comunhão, apesar das diversidades. Como nos recorda São João Paulo II, em sua encíclica Ut Unum Sint: “A unidade é uma exigência essencial da fé cristã. Ela corresponde à vontade de Cristo e deve ser a nossa preocupação constante.”
    2. Este apelo à unidade nos convida a ir além das diferenças de opinião ou de carismas que existem na Igreja e que, quando compreendidas e vividas à luz do Espírito Santo, são uma grande riqueza. A diversidade não deve ser um motivo de divisão, mas, como afirmava o Papa Bento XVI, “a unidade da Igreja não consiste em uniformidade, mas em uma harmonia multiforme, criada pelo Espírito Santo” (Homilia em São João de Latrão, 7 de maio de 2005).

    O Jubileu: Um Tempo de Renovação e Reconciliação

    1. O jubileu, desde os tempos bíblicos, é um tempo de graça, de retorno às raízes e de reconciliação. No Antigo Testamento, o ano jubilar significava a libertação dos oprimidos e o perdão das dívidas, um símbolo da renovação integral do povo de Deus. Hoje, somos chamados a viver esse espírito de renovação em nossas comunidades, promovendo o perdão e a reconciliação. O Papa Francisco, em sua bula Misericordiae Vultus para o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, nos recorda que “a reconciliação nos dá a verdadeira paz, a única paz que restaura os relacionamentos entre irmãos e irmãs”.
    2. Ao celebrarmos o Jubileu de Ouro do meu sacerdócio, desejo que seja também um tempo de reconciliação para toda a nossa arquidiocese. Jesus nos convida a ser agentes de paz, e este jubileu nos oferece uma oportunidade única de restaurar os laços de unidade, de sermos pontes onde houve rupturas e de promovê-la onde existem feridas. 

    O Ministério Ordenado: Um Chamado à Comunhão

    1. Vivo o jubileu de ouro de ordenação sacerdotal, por isso permitam-me que dirija uma palavra especial a todos os meus irmãos no ministério ordenado, desde os recém-ordenados até aqueles que, com experiência, já trilharam longos anos no ministério. Neste tempo jubilar, é essencial que nos abramos ao espírito de unidade e comunhão, evitando o isolamento ou a tentação de seguir uma “carreira solo”, como muitas vezes ouvimos dizer.
    2. Como ministros, somos chamados a viver em comunhão uns com os outros, em uma fraternidade que reflete a própria comunhão trinitária. São João Paulo II, em sua exortação apostólica Pastores Dabo Vobis, nos adverte sobre o risco do isolamento: “Ninguém se salva sozinho. Os presbíteros são chamados a viver a fraternidade, a partilhar as alegrias e tristezas, os desafios e as esperanças de sua missão com seus irmãos.” Tal apelo amplio para todos nós que estamos inseridos no ministério ordenado.
    3. Em um momento tão significativo como este Jubileu de Ouro do meu sacerdócio, sinto-me profundamente impelido a fazer um apelo especial a todos vocês, meus irmãos. A unidade no nosso ministério é essencial não apenas para o bom andamento da vida pastoral, mas, sobretudo, para o testemunho do Evangelho e para a construção do Reino de Deus. Como pastores, somos chamados a ser sinais visíveis da comunhão que deve reinar no Corpo de Cristo. Sem a unidade entre nós, a Igreja perde sua força de atração e seu testemunho de fé se enfraquece.
    4. O Papa Francisco frequentemente nos exorta sobre o perigo da divisão no presbitério, alertando que “um presbitério dividido se torna um contra-testemunho e não é capaz de edificar a comunidade cristã” (Discurso aos Sacerdotes, 27 de abril de 2019). Portanto, nossa união não é um detalhe secundário, mas algo central na vida da Igreja e no nosso ministério. Quando vivemos a comunhão entre nós, demonstramos que serviço prestado a Deus e ao Seu povo não é uma plataforma para ambições pessoais ou disputas de poder.
    5. Desde a nossa ordenação, somos chamados a viver em comunhão com Deus, com a Igreja e com nossos irmãos no ministério. A vida ministerial não é um caminho de isolamento, mas uma caminhada conjunta, onde cada ministro ordenado deve ser um apoio e um auxílio para o outro. A comunhão no presbitério é o reflexo da própria comunhão trinitária, que é a fonte e o modelo de todas as nossas relações. Como nos ensina o Papa Bento XVI: “O sacerdote deve estar unido aos seus irmãos no sacerdócio, assim como o Filho está unido ao Pai e ao Espírito Santo” (Discurso ao Clero, 18 de março de 2010).
    6. Quando, na ordenação sacerdotal, logo depois da imposição das mãos do Bispo, os presbíteros impõem as mãos sobre aquele que está sendo ordenado, acolhendo-o na comunidade sacerdotal, no presbitério. Estamos unidos no mesmo sacerdócio de Jesus e em uma concreta unidade diocesana que nos compromete para sermos testemunhas da unidade entre nós.
    7. Essa unidade é uma expressão concreta do amor de Deus manifestado no nosso ministério. Quando somos verdadeiramente unidos, somos mais capazes de pastorear o povo de Deus, oferecendo-lhes um testemunho claro de fraternidade e comunhão. A nossa unidade, vivida no presbitério e com o bispo, é um sinal poderoso da presença de Cristo entre nós, e isso repercute diretamente na vida das nossas comunidades. O povo percebe quando há harmonia entre seus pastores e se sente fortalecido por essa comunhão.
    8. Um dos maiores perigos para a unidade no ministério sacerdotal é o isolamento. Muitas vezes, devido às exigências pastorais, à solidão ou até à autossuficiência, alguns de nós podemos nos afastar dos demais irmãos. Esse isolamento não só enfraquece o nosso ministério, mas também é uma porta aberta para o desânimo e, em alguns casos, para a queda. O Papa Francisco nos alerta sobre essa tentação, dizendo: “Quando o sacerdote se isola, começa a perder o senso de comunidade e de fraternidade, e o coração pode endurecer” (Homilia na Missa Crismal, 28 de março de 2013).
    9. O isolamento pode nos levar a pensar que somos capazes de enfrentar os desafios sozinhos, sem a ajuda dos nossos irmãos. Isso, muitas vezes, resulta em uma “carreira solo”, onde o sacerdote passa a ver o seu ministério como algo isolado do todo, não mais em comunhão com o presbitério e com a Igreja. Este comportamento contraria o chamado à fraternidade e à colaboração que recebemos no dia da nossa ordenação. A comunhão no presbitério é uma riqueza que nos fortalece, nos motiva e nos sustenta, especialmente nos momentos de dificuldade.
    10. Assim, é essencial que procuremos ativamente essa comunhão, tanto com o bispo quanto com os outros sacerdotes, participando das reuniões, dos encontros de formação e da vida fraterna. Somos chamados a estar juntos nos grupos de espiritualidade, nas foranias, nos vicariatos, nos eventos litúrgicos, de formação permanente, de confraternização. São muitas ocasiões em que temos necessidade de partilhar nossas vidas e esperanças. Alguém que se afasta do rebanho e se isola deve nos causar preocupação e, como consequência, encontrar meios para trazer de volta para estarmos juntos. Quando partilhamos nossas alegrias, nossos desafios e nossas esperanças, encontramos não apenas conforto, mas também o apoio necessário para seguirmos firmes em nossa vocação. Como nos ensina São João Paulo II, “nenhum sacerdote está sozinho em sua missão, todos estão unidos no presbitério, no qual deve reinar a colaboração e a fraternidade” (Pastores Dabo Vobis, 74). Podemos ter ideias e soluções diferentes, mas somos chamados a nos respeitar e caminhar unidos na diversidade de situações.
    11. Um aspecto importante da unidade entre os sacerdotes é a prática da correção fraterna. Vivemos em um mundo onde as falhas dos outros são frequentemente expostas e criticadas. No entanto, na fraternidade sacerdotal, somos chamados a viver uma correção que edifica e promove o crescimento espiritual, conforme nos orienta a Sagrada Escritura: “Se teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo a sós” (Mt 18,15). A correção fraterna é um ato de amor e de responsabilidade mútua. Ela não deve ser usada para sublinhar os erros dos irmãos, mas para promover a conversão e o crescimento na caridade. Temos responsabilidade um pelo outro para nos ajudar em nossa caminhada e conversão. É nessa direção que nos apontam as escrituras. Em tempos em que exposição das mídias digitais (e também as outras) destroem as pessoas e as difamam, nós somos convidados a estar juntos e encontrar caminhos de fraternidade que corrige a ajuda. Muitos gostam dos escândalos e querem destruir pessoas com a exposição midiática das dificuldades de alguém. Nós somos chamados e estar juntos como irmãos e encontrar caminhos de paz e conversão.
    12. Neste espírito, é igualmente importante que evitemos cair na tentação de nos considerarmos superiores aos outros. Nenhum de nós, por mais preparado ou experiente que seja, está acima da correção ou do aprendizado. O Papa Francisco adverte contra o clericalismo, que pode nos levar a achar que somos os únicos capazes de realizar a missão de forma correta: “Não podemos acreditar que somos superiores, que só nós sabemos, e os outros estão errados” (Discurso aos Sacerdotes, 6 de junho de 2019). A humildade é essencial para a unidade no ministério. Quando reconhecemos nossas próprias limitações, nos abrimos para o apoio dos nossos irmãos e nos colocamos como servos do povo de Deus. 

    A Unidade como Testemunho para o Povo e para Toda a Igreja

    1. Quando os sacerdotes vivem em unidade, esse testemunho tem um impacto profundo e direto na vida das comunidades que servimos. O povo de Deus busca em seus pastores um exemplo de fraternidade, respeito e colaboração. No entanto, essa unidade não se limita ao presbitério; ela se estende à Igreja como um todo, envolvendo também os fiéis leigos, as diversas expressões de carismas, os movimentos eclesiais e as instituições que compõem a riqueza da vida eclesial. A unidade, quando vivida com autenticidade por toda a Igreja, manifesta o coração do Evangelho e reflete a presença viva de Cristo no mundo.
    2. A Igreja, como professamos no Credo, é “una, santa, católica e apostólica”. A unidade, portanto, é uma marca essencial da sua identidade. Como afirmava São João Paulo II, “a unidade da Igreja não é simplesmente algo que desejamos ou que podemos construir com nossos próprios esforços; ela é dom do Espírito Santo e fundamento da Igreja desde o seu nascimento” (Ut Unum Sint, 9). A unidade que o Espírito Santo suscita na Igreja é aquela que reflete a própria unidade da Santíssima Trindade. O Pai, o Filho e o Espírito Santo vivem uma comunhão perfeita e indissolúvel, e a Igreja é chamada a ser o ícone dessa comunhão no mundo.
    3. Assim como a unidade entre os sacerdotes impacta diretamente as comunidades, a unidade entre todos os membros da Igreja é um sinal poderoso para que o mundo creia em Jesus Cristo Salvador. Quando a Igreja, em todas as suas expressões, vive em comunhão – sacerdotes, religiosos, diáconos, leigos e consagrados –, ela oferece ao mundo uma mensagem clara de que a diversidade pode ser reconciliada e que o amor de Deus é capaz de superar todas as divisões. Como ensina o Papa Francisco: “A Igreja é chamada a ser casa de comunhão, onde a diversidade se torna riqueza e não motivo de divisão” (Evangelii Gaudium, 99).
    4. No ministério sacerdotal, a unidade é essencial para que possamos pastorear o rebanho de Cristo com coerência e eficácia. Como São Paulo nos exorta: “Eu vos exorto, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que sejais todos concordes no falar, e que não haja divisões entre vós, mas que estejais unidos no mesmo espírito e no mesmo parecer” (1 Cor 1,10). Se vivemos divididos como presbitério, essas divisões se refletem nas comunidades que servimos. O povo percebe quando há falta de harmonia entre seus pastores, e isso enfraquece o testemunho da Igreja.
    5. Da mesma forma, os leigos também desempenham um papel vital na promoção da unidade na Igreja. Cada fiel batizado é chamado a ser um construtor da comunhão, promovendo a reconciliação e o diálogo em suas famílias, grupos pastorais e comunidades. Quando leigos e sacerdotes trabalham juntos em harmonia, com respeito mútuo e colaboração, a vida da Igreja se fortalece e se torna um reflexo mais autêntico do amor de Cristo.
    6. A unidade, no entanto, não significa uniformidade. Como o Papa Bento XVI nos lembra, “a unidade da Igreja não é um monólito, mas uma sinfonia de diversidades reconciliadas” (Angelus, 7 de junho de 2009). A Igreja é composta por diferentes dons, carismas e expressões de fé, mas todos eles devem convergir para o mesmo objetivo: a edificação do Reino de Deus. Quando reconhecemos e celebramos a riqueza da diversidade dentro da unidade, mostramos ao mundo que é possível viver em comunhão, apesar das diferenças.
    7. A unidade da Igreja é não apenas um sinal interno de fidelidade ao Evangelho, mas também uma força missionária poderosa. Como nos lembra o Papa Francisco, “a unidade é uma condição indispensável para que o mundo creia” (Evangelii Gaudium, 99). Uma Igreja dividida não consegue ser eficaz em sua missão de anunciar o Reino de Deus. As divisões internas minam a credibilidade do nosso anúncio e enfraquecem o impacto do testemunho cristão no mundo.
    8. A unidade nos fortalece para a missão de evangelizar. Quando a Igreja, em todas as suas expressões – paróquias, dioceses, movimentos, eclesiásticos e laicos – está unida em propósito e ação, ela se torna um farol de luz em meio à escuridão. O Papa Bento XVI afirmou que “a missão da Igreja é precisamente levar ao mundo o dom da unidade, o dom da comunhão com Deus e entre os homens” (Homilia, 7 de junho de 2009). Portanto, a unidade não é um fim em si mesma mas o meio pelo qual cumprimos a nossa missão de ser testemunhas de Cristo no mundo.
    9. Vivemos em um tempo de muitas narrativas e marcado por profundas divisões – políticas, sociais, culturais e até religiosas. Nesse contexto, a unidade da Igreja adquire uma relevância ainda maior. A Igreja, como Corpo de Cristo, é chamada a ser um sinal de reconciliação e paz em um mundo fragmentado. No entanto, para que possamos oferecer esse testemunho ao mundo, devemos primeiro viver essa unidade em nossas próprias comunidades.
    10. O Papa Francisco nos alerta sobre o perigo do clericalismo e das divisões internas, que muitas vezes enfraquecem o testemunho da Igreja: “O diabo quer que a Igreja esteja dividida, que seja fragmentada. Ele procura a divisão em todos os níveis, e o clericalismo é um dos maiores obstáculos à unidade” (Discurso na Assembleia Plenária da Congregação para o Clero, 3 de junho de 2019). O clericalismo, que separa sacerdotes e leigos, é um veneno para a comunhão e impede que a Igreja viva plenamente sua vocação de ser sinal do Reino.
    11. Para superar esses desafios, devemos todos – sacerdotes, religiosos e leigos – trabalhar incansavelmente pela unidade. A Igreja é chamada a ser uma “casa de portas abertas” (Evangelii Gaudium, 47), onde todos são acolhidos e onde as diferenças não se tornam motivo de divisão, mas de enriquecimento mútuo. Quando vivemos essa unidade com sinceridade, oferecemos ao mundo um testemunho poderoso de que a comunhão é possível, mesmo em meio às diferenças.

    O Ministro Ordenado: Não julgar, mas acompanhar e ajudar

    1. Um dos aspectos mais importantes do ministério sacerdotal é a proximidade com o povo de Deus. O sacerdote é chamado a ser um pastor que conhece suas ovelhas, que caminha com elas, especialmente nos momentos de dificuldade. Isso ficou bem claro no último Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade na igreja. Como nos lembra o Papa Francisco, “o sacerdote não é um juiz, mas um pastor próximo, que cuida, escuta e acompanha o povo de Deus no caminho da fé” (Discurso aos Sacerdotes, 27 de abril de 2019).
    2. Não devemos cair na tentação de julgar, mas sim de nos fazer próximos, ajudando nossos irmãos e irmãs a superar suas dificuldades, confiando na graça de Deus. O sacerdote deve ser aquele que estende a mão, que levanta e que caminha junto com os que sofrem, refletindo a misericórdia do Pai. Esta proximidade é também essencial para a construção da unidade, pois ela fortalece os laços de confiança e comunhão entre o pastor e o rebanho.
    3. Este espírito de proximidade e acolhimento deve também marcar as relações entre os próprios ministros ordenados. Não fomos chamados para buscar os erros uns dos outros ou sublinhá-los como se estivéssemos em constante julgamento, mas para praticar a correção fraterna, como ensina a Sagrada Escritura: “Se teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo a sós” (Mt 18,15). O objetivo da correção fraterna não é a humilhação, mas a edificação do outro, na caridade e no desejo de que todos avancem juntos no caminho da santidade.
    4. Da mesma forma, não podemos cair na armadilha de nos considerarmos os únicos capazes de fazer as coisas da maneira correta, enquanto julgamos que os demais estão sempre errados por não serem como nós. O Papa Francisco nos recorda que o clericalismo, esse senso de superioridade, é um veneno que divide a Igreja. Precisamos aprender a ver em cada irmão uma riqueza e uma oportunidade de partilha, e não uma concorrência. “O verdadeiro pastor não é protagonista de tudo, mas permite que outros cresçam e se desenvolvam no serviço” (Discurso aos Sacerdotes, 6 de junho de 2019).

    A Unidade como Testemunho de Fé

    1. Vivemos tempos desafiadores, em que muitas vozes se levantam para dividir, gerar incertezas e semear o medo. O cristão, porém, é chamado a ser uma testemunha viva do amor reconciliador de Cristo. Nossa unidade, especialmente dentro da Igreja, é um testemunho poderoso para o mundo. Como disse o Papa Francisco: “A Igreja é chamada a ser sempre a casa aberta do Pai. Nenhuma porta fechada! Todos podem participar de alguma forma da vida eclesial, todos podem fazer parte da comunidade” (Evangelii Gaudium, 47).
    2. Se quisermos viver este próximo jubileu da igreja em plenitude, devemos deixar de lado as divisões, as contendas e os julgamentos. Que nossas paróquias e comunidades sejam espaços de verdadeira comunhão, onde o perdão e o amor prevaleçam sobre o orgulho e a mágoa. Como nos ensinou São João Paulo II: “A unidade dos cristãos é, antes de mais nada, um dom de Deus e uma tarefa urgente que a Igreja deve abraçar com fé” (Ut Unum Sint).
    3. A unidade da Igreja é um dos maiores testemunhos que podemos oferecer ao mundo, especialmente em tempos de divisões, polarizações e conflitos. O próprio Jesus, em sua oração sacerdotal, rogou ao Pai: “Que todos sejam um, como Tu, ó Pai, estás em mim e Eu em Ti, que eles estejam em nós, para que o mundo creia que Tu me enviaste” (Jo 17,21). A unidade dos discípulos, portanto, não é apenas uma virtude interna da Igreja, mas uma condição essencial para que o Evangelho seja crível e atraente. O testemunho de uma Igreja unida revela a verdade do amor de Deus e a autenticidade da mensagem de Cristo.
    4. A unidade entre os fiéis, sejam eles ministros ordenados ou leigos, reflete a unidade de Deus. A comunhão trinitária – Pai, Filho e Espírito Santo – é o modelo perfeito e a fonte para a comunhão que a Igreja é chamada a viver, uma vez que ela é o “povo reunido na unidade da Trindade” (São Ciprirano, Sobre a Oração do Senhor, 23; citado em Lumen Gentium, 4). Como nos lembra São João Paulo II, “a Igreja é ícone da Trindade” (Ut Unum Sint, 11). Quando a Igreja, em todas as suas expressões – paroquiais, comunitárias, diocesanas ou universais – vive em unidade, ela se torna um reflexo visível deste amor trinitário, convidando o mundo a conhecer a Deus através do testemunho de suas relações.
    5. É essencial que caminhemos na unidade entre nós. Este será um sinal eloquente para um mundo dividido, polarizado, cheio de ódios, rancores, violências e guerras. Em uma cidade bela como a nossa, semear a unidade é torná-la ainda mais bela. Não é uma utopia, são passos que devemos dar a cada dia, partindo e nós mesmos, de nossas famílias e comunidades e chegando a todos.
    6. O Papa Bento XVI também enfatizou essa verdade, destacando que “a unidade da Igreja não é obra humana, mas fruto do Espírito Santo, que realiza a unidade na diversidade e harmonia” (Angelus, 7 de junho de 2009). A nossa unidade não significa uniformidade, mas sim uma comunhão de corações, pensamentos e ações em torno de Cristo, nosso centro. Ao vivermos essa unidade, damos ao mundo um testemunho do poder transformador do amor de Deus, que reconcilia, une e cura as feridas da divisão.
    7. Para os ministros ordenados, a unidade é um testemunho poderoso dentro e fora da Igreja. O Papa Francisco nos recorda frequentemente que “um presbitério unido é uma força para a evangelização, enquanto um presbitério dividido se torna um contra-testemunho” (Discurso aos Sacerdotes, 27 de abril de 2019). A unidade entre os sacerdotes é um sinal de que Cristo está presente e operante no ministério, e ela se torna ainda mais visível quando há respeito mútuo, partilha de responsabilidades e apoio fraterno. Quando os sacerdotes vivem em comunhão, conseguem pastorear suas comunidades com maior eficácia, pois sua unidade fortalece a Igreja como um todo.
    8. Devemos sentir dor pela divisão, pela maledicência, pelas nossas divisões internas. A nossa vocação de sermos um sinal de unidade para o mundo, vivendo a comunhão entre nós, uma unidade na diversidade, precisa encontrar em nós esse sinal. Não podemos deixar para amanhã o perdão e a reconciliação. A cada dia somos chamados a renovar a unidade em nossa vida! O mundo tem direito de ver em nós esse sinal e nós temos o dever de ser esse sinal.
    9. Essa mesma verdade se aplica aos fiéis leigos. Cada leigo é chamado a ser uma testemunha viva da unidade no ambiente onde vive e trabalha. Nas famílias, no trabalho, nas associações e nas comunidades, o testemunho de uma vida vivida em comunhão com os outros, superando as divisões e as rivalidades, é uma pregação silenciosa do Evangelho. O Papa Francisco nos recorda: “A unidade é um dom que devemos buscar sempre, com oração e humildade” (Angelus, 26 de maio de 2013). Esta busca deve ser permanente, tanto no seio da Igreja quanto na sociedade em geral, para que possamos ser sinais do amor reconciliador de Deus no mundo.
    10. Infelizmente, a divisão, quando surge dentro da Igreja, se torna um grande escândalo, enfraquecendo a eficácia do testemunho cristão. Como nos lembra São Paulo: “Eu vos exorto, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que sejais todos concordes no falar, e que não haja divisões entre vós, mas que estejais unidos no mesmo espírito e no mesmo parecer” (1 Cor 1,10). As divisões internas, sejam elas entre sacerdotes ou entre fiéis leigos, prejudicam o anúncio do Evangelho e criam um contra-testemunho que afasta as pessoas da fé. O Papa Francisco enfatiza esse ponto, afirmando: “A Igreja é chamada a ser casa de comunhão. O diabo quer que a Igreja esteja dividida, que seja fragmentada” (Homilia, 9 de fevereiro de 2020). Portanto, é nossa responsabilidade, como membros do Corpo de Cristo, trabalhar incansavelmente pela unidade, pois é assim que podemos dar um testemunho coerente e eficaz ao mundo.
    11. A unidade não significa que não haverá diferenças de opiniões ou carismas dentro da Igreja. Na verdade, a diversidade é uma riqueza que, quando vivida em espírito de comunhão, contribui para a vitalidade da Igreja. No entanto, essas diferenças não devem ser motivo de conflitos, mas de enriquecimento mútuo. Como dizia São João Paulo II, “a unidade da Igreja é enriquecida pela diversidade de seus membros, na medida em que todos permanecem em comunhão com o único Espírito” (Ut Unum Sint, 54). Quando aceitamos e celebramos nossas diferenças dentro da unidade do Corpo de Cristo, oferecemos ao mundo um testemunho de que o amor de Deus transcende todas as barreiras.
    12. A unidade da Igreja tem um propósito missionário. Quando somos verdadeiramente unidos, estamos melhor equipados para cumprir a missão que Cristo nos confiou: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). A evangelização eficaz requer uma Igreja unida, onde sacerdotes e leigos trabalham juntos, com os mesmos objetivos e em espírito de colaboração. A unidade não é um fim em si mesma, mas o meio pelo qual a Igreja pode realizar sua missão de anunciar o Reino de Deus ao mundo.
    13. Os missionários que foram evangelizar povos que não conheciam o evangelho, logo viram a dor da divisão quando os nativos perguntavam: se vocês são cristãos e acreditam no mesmo Deus, por que são divididos? Sabemos das razões históricas e doutrinais das divisões entre os cristãos, mas entre nós, católicos romanos não deve ser assim. Infelizmente, são tantas dores e sofrimentos que no lugar de ajudar a corrigir dividem ainda mais .
    14. Neste contexto, o Papa Bento XVI afirmou que “a missão da Igreja é precisamente levar ao mundo o dom da unidade, o dom da comunhão com Deus e entre os homens” (Homilia, 7 de junho de 2009). Quanto mais unidos estivermos, mais poderemos realizar essa missão de forma eficaz, mostrando ao mundo que a Igreja é uma comunidade viva, centrada em Cristo, que acolhe, reconcilia e evangeliza.
    15. Hoje, mais do que nunca, o mundo precisa do testemunho de uma Igreja unida. Em meio às divisões sociais, políticas e culturais, a Igreja deve ser um farol de esperança, uma comunidade onde as diferenças são reconciliadas e onde o amor de Deus é vivido de maneira concreta. Os ministros ordenados e os fiéis leigos, cada um em seu papel, são chamados a promover a unidade, tanto dentro da Igreja quanto na sociedade. Ao viver a unidade, estamos respondendo ao chamado de Jesus e contribuindo para a construção de um mundo mais justo e fraterno.

    A Oração como Fonte de Unidade

    1. Estamos no ano da oração a caminho do jubileu de 2025. A oração faz parte de nossa vida eclesial e temos necessidade de respirar esse ar oracional todos os momentos de nossas vidas.
    2. A oração é, sem dúvida, a fonte mais profunda e eficaz de unidade na Igreja. Na oração, somos chamados a nos unir a Cristo, que é o próprio centro da nossa comunhão. Assim como os primeiros discípulos se reuniam em torno de Jesus, também hoje, a oração nos coloca em sintonia com o coração do Senhor, unindo-nos a Ele e, consequentemente, uns aos outros. Como afirma o Papa Bento XVI, “a oração não é apenas o pulmão da vida espiritual, mas também a respiração da vida comunitária, da comunhão na Igreja” (Angelus, 18 de janeiro de 2009).
    3. A oração, seja ela comunitária ou pessoal, nos ensina a olhar para além de nós mesmos, para além das nossas diferenças e fragilidades. Quando rezamos, colocamos nossas preocupações, nossos limites e nossas divisões aos pés de Cristo, pedindo-Lhe a força necessária para superar nossas fraquezas e crescer na unidade. A oração é, portanto, o grande meio de superação das divisões e de construção de uma comunhão verdadeira e profunda.
    4. Na oração litúrgica, especialmente na celebração da Eucaristia, a Igreja encontra o seu momento mais sublime de unidade. Como nos ensina o Papa Francisco, “a Eucaristia é o sacramento da unidade, que nos faz um só corpo em Cristo, uma só família” (Homilia, Corpus Christi, 19 de junho de 2014). Cada vez que celebramos a Eucaristia, somos chamados a recordar que estamos unidos a todos os nossos irmãos e irmãs em Cristo, independentemente de nossas diferenças culturais, sociais ou pessoais. A unidade que experimentamos na mesa eucarística deve ser o reflexo da unidade que somos chamados a viver em nossa vida cotidiana, com a mesma generosidade e abertura de coração que encontramos no Senhor.
    5. Além da oração litúrgica, não podemos esquecer a importância da oração pessoal e dos momentos de adoração ao Santíssimo Sacramento. Estes momentos de intimidade com Cristo nos fortalecem interiormente e nos dão a graça de sermos promotores da paz e da reconciliação em nossas comunidades. Passar um tempo silencioso diante do Senhor nos regenera e nos faz ouvir a voz d’Aquele que nos chama à santidade. O Papa João Paulo II, em sua carta Novo Millennio Ineunte, sublinha que “a oração é o caminho que leva a alma a se transformar na imagem de Cristo e, por conseguinte, a estar em comunhão com todos os que são membros do Seu corpo” (Novo Millennio Ineunte, 32). Ou seja, quanto mais estamos unidos a Cristo em oração, mais estamos unidos uns aos outros.
    6. A oração, além de ser a fonte de unidade para toda a Igreja, tem uma relevância especial para os ministros ordenados. No exercício do nosso ministério, a oração não é apenas um apoio espiritual, mas o coração que sustenta a nossa vocação e nos mantém em comunhão com Cristo, o Bom Pastor, e com nossos irmãos no sacerdócio. Como sacerdotes, somos chamados a ser homens de oração, não só aqueles que conduzem o povo de Deus ao encontro com o Senhor, mas que também se deixam conduzir pelo Espírito Santo, que nos molda e nos une em nossa missão.
    7. A oração no ministério ordenado nos chama a uma dupla comunhão: com Deus e com os nossos irmãos sacerdotes. Papa Francisco, em várias ocasiões, nos exorta a nunca nos afastarmos da oração, pois é nela que encontramos a força para superar as provações, evitar o isolamento e abraçar com humildade a fraternidade. Ele nos recorda que “um sacerdote que não reza fecha a porta ao Senhor, e o Senhor está do lado de fora” (Discurso aos Sacerdotes, 27 de abril de 2019). A falta de oração pode nos levar a perder de vista a nossa verdadeira identidade e missão, permitindo que o ativismo ou o isolamento corroam a essência do nosso ministério.
    8. A oração também é um poderoso antídoto contra as divisões no presbitério. No mundo atual, onde as diferenças de opinião e os desafios pastorais muitas vezes nos testam, é fácil cair na tentação de buscar os erros dos irmãos ou de sublinhar suas falhas, em vez de promover uma correção fraterna que edifique e construa. A Sagrada Escritura nos ensina a importância de corrigir com amor, e a oração nos coloca no caminho certo para agir com caridade. Como nos recorda São Paulo: “Irmãos, se alguém for surpreendido em alguma falta, vós que sois espirituais, corrigi-o com espírito de mansidão” (Gl 6,1). A oração nos capacita a agir com este espírito de mansidão, evitando julgamentos precipitados e divisões desnecessárias.
    9. Sempre acreditei que o testemunho e a proximidade são essenciais em nossa missão evangelizadora e de unidade. A utilização do báculo para ir à frente das ovelhas e indo atrás para apressá-las não deve ferir ninguém mas entusiasmar ainda mais na caminhada de santidade e para fazer o bem na unidade fraterna e com alegria que contagia.
    10. Além disso, a oração no ministério sacerdotal nos ajuda a combater a tentação do clericalismo ou da autossuficiência. Um sacerdote que ora sabe que não é o único capaz de realizar a missão que Cristo confiou à sua Igreja. Como ministros ordenados, não devemos nos considerar acima dos outros, mas como membros de um presbitério, unidos na mesma vocação e serviço. A oração nos lembra que “somos servos inúteis” (Lc 17,10), chamados a depender da graça de Deus e do apoio fraterno dos nossos irmãos no sacerdócio. Como disse o Papa Francisco: “O verdadeiro pastor não se vê como protagonista de tudo, mas permite que outros cresçam e se desenvolvam no serviço” (Discurso aos Sacerdotes, 6 de junho de 2019).
    11. Nesse sentido, a oração nos ajuda a viver a humildade, reconhecendo que somos instrumentos nas mãos de Deus, e nos faz enxergar a riqueza que existe em cada um de nossos irmãos sacerdotes. Ela nos impede de cair na armadilha de achar que os outros estão sempre errados por não serem como nós, ou de nos fecharmos em nossas próprias ideias. Pelo contrário, a oração nos abre para a escuta, o diálogo e a acolhida da diversidade, que é uma expressão da riqueza da Igreja.
    12. Portanto, queridos irmãos sacerdotes, peço que intensifiquemos a nossa vida de oração, não apenas pela nossa própria santificação, mas também pela unidade do presbitério, por todo o nosso povo e pela sociedade em que vivemos. Que a oração nos ajude a superar as divisões, a fortalecer os laços fraternos e a construir juntos uma Igreja mais unida e mais fiel à sua missão evangelizadora. Como nos ensina o Papa Bento XVI: “A comunhão presbiteral não é algo que se constrói somente com esforços humanos, mas é sobretudo um dom que se acolhe na oração” (Discurso ao Clero da Diocese de Roma, 10 de março de 2011).A oração é, assim, uma escola de comunhão. Ela nos ensina a humildade, a paciência e a escuta. Ela nos faz reconhecer que não somos autossuficientes, que precisamos uns dos outros e, sobretudo, que dependemos de Deus. Quando rezamos, deixamos de lado o nosso orgulho, as nossas mágoas, as nossas divisões, e nos abrimos à ação do Espírito Santo, que é o agente principal da unidade. Como nos ensina São Paulo: “O próprio Espírito vem em auxílio da nossa fraqueza” (Rm 8,26). Portanto, na oração, deixamos que o Espírito Santo trabalhe em nossos corações, transformando-os e conformando-os ao coração de Cristo, para que possamos viver a verdadeira comunhão.
    13. No entanto, este chamado à oração e à unidade não é exclusivo dos sacerdotes. Todos os membros da Igreja, leigos e consagrados, são chamados a viver em comunhão com Deus e uns com os outros. Como afirmava São João Paulo II, “os leigos, com sua presença nos ambientes familiares, sociais e profissionais, têm uma responsabilidade especial na construção da comunhão eclesial e na promoção da reconciliação no mundo” (Christifideles Laici, 32). Isso significa que a oração e o empenho pela unidade são tarefas de todos nós, sem exceção.
    14. Na vida do presbitério, a oração nos ajuda a viver a fraternidade sacerdotal, evitando o isolamento ou a tentação de julgar nossos irmãos. Somos chamados a praticar a correção fraterna, não para sublinhar os erros, mas para edificar uns aos outros no amor. Como nos ensina a Sagrada Escritura: “Se teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo a sós” (Mt 18,15). Essa prática se aplica igualmente aos leigos, que são chamados a viver a unidade nas suas famílias, comunidades e grupos pastorais, cultivando sempre o respeito, o diálogo e a reconciliação.
    15. Tanto o clero (sacerdotes e diáconos) quanto os leigos devem evitar a tentação de se considerar superiores ou autossuficientes. No ministério sacerdotal, isso pode se manifestar quando nos vemos como os únicos capazes de realizar a missão corretamente, desprezando as contribuições dos outros. No ambiente laical, essa atitude pode surgir quando se desprezam os dons e carismas dos irmãos na comunidade. O Papa Francisco nos alerta sobre o perigo do clericalismo, que é a raiz de muitas divisões: “O verdadeiro pastor não é protagonista de tudo, mas permite que outros cresçam e se desenvolvam no serviço” (Discurso aos Sacerdotes, 6 de junho de 2019). Da mesma forma, os leigos são chamados a colaborar ativamente na vida da Igreja, reconhecendo que cada um tem uma contribuição única e indispensável para a edificação do Corpo de Cristo.
    16. A oração, portanto, é uma verdadeira escola de comunhão, onde aprendemos a ser humildes, a ouvir e a nos deixar transformar pela graça de Deus. Ela nos une a Cristo e, por meio d’Ele, nos une uns aos outros. Como nos ensina São Paulo: “O próprio Espírito vem em auxílio da nossa fraqueza” (Rm 8,26). Seja no ministério sacerdotal, seja na vida laical, é a oração que nos fortalece e nos dá a capacidade de superar as divisões, as rivalidades e as incompreensões.
    17. Por isso, neste tempo jubilar, exorto todos os sacerdotes e fiéis leigos a intensificarem a vida de oração. Que a oração seja o alicerce da unidade em nossas paróquias, movimentos e comunidades, e que, através dela, possamos nos abrir à ação do Espírito Santo, que é o agente principal da comunhão. Assim como a Eucaristia é o sacramento que nos une em um só Corpo, que a oração seja a respiração constante que nos mantém em sintonia com Cristo e uns com os outros.

     

    Unidade: Desejo de Cristo e Esperança dos Cristãos

    1. A unidade é um desejo profundo de Cristo, expresso com grande intensidade em sua oração sacerdotal de Jesus ao Pai: “Que todos sejam um, como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti para que o mundo creia que Tu me enviaste” (Jo 17,21). Este anseio revela a essência de sua missão redentora, que visa reconciliar toda a criação em Deus. Mais do que uma aspiração ideal, essa unidade alimenta a esperança de um mundo renovado e reconciliado.
    2. Peregrinando nessa esperança, os cristãos são chamados a viver e construir a unidade, apoiando-a como expressão concreta do amor de Deus e da presença transformadora do Reino. Esta vocação não se limita à esfera espiritual, mas tem implicações práticas e históricas, exigindo compromisso pessoal e comunitário na superação de divisões e na promoção de uma convivência fraterna.
    3. A unidade desejada por Cristo reflete a própria essência de Deus. O mistério da Santíssima Trindade nos revela uma comunhão perfeita de amor entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Essa comunhão divina é a fonte de toda unidade autêntica e inspira a Igreja em sua missão de promover a reconciliação. Assim, a unidade que Cristo deseja para sua Igreja não se limita à ausência de conflitos, mas representa uma transformação radical das relações humanas segundo Deus, marcada pelo amor, pela verdade e pela justiç
    4. O testemunho dessa unidade é especialmente importante em um mundo fragmentado por divisões ideológicas, culturais e sociais. Na Igreja, encontramos o chamado à comunhão trinitária, confirmando que, em Cristo, as barreiras que nos separam são superadas: “Pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28).
    5. O decreto Unitatis Redintegratio do Concílio Vaticano II reafirmou este chamado à unidade como uma missão central da Igreja: “Promover a restauração da unidade entre todos os cristãos é um dos principais propósitos do sagrado Concílio” (UR, 1). Esta missão exige um compromisso contínuo com a comunhão, o diálogo e a reconciliação, confirmando que o desejo de Cristo pela unidade é também um apelo à conversão do coração e ao testemunho concreto de amor. 

    Unidade: Comunhão no Corpo de Cristo

    1. Na Igreja, a unidade transcende as limitações humanas e se eleva às dimensões do sobrenatural. O Pai, o Filho e o Espírito Santo vivem em perfeita comunhão de amor, e essa unidade divina é o modelo e a fonte para a unidade da Igreja. Enquanto Corpo de Cristo, a Igreja reúne os seus filhos, chamados de todas as nações, línguas e culturas, unidos por uma única fé, um único batismo ao redor de uma única mesa de comunhão.
    2. A celebração eucarística é um sinal visível e eficaz da unidade. Não se trata apenas de um gesto simbólico, mas da atualização concreta da união que Cristo quer para sua Igreja. Como expressa a Didaqué na preparação dos dons: “Assim como este pão, antes disperso sobre as montanhas, foi reunido e se tornou um, assim também seja reunida a tua Igreja, dos confins da terra, no teu Reino” (Didaqué, IX,4). Essa oração antiga destaca a Eucaristia como mistério de comunhão, que une os fiéis em um só corpo em Cristo e antecipa a plenitude da unidade no Reino de Deus.
    3. Ao participar do sacramento do altar, os cristãos são fortalecidos no vínculo de amor que os une a Cristo e entre si. São João Paulo II afirmou que “a Eucaristia edifica a Igreja” (EE, 26), pois nela se manifesta e se renova a comunhão, tornando a Igreja cada vez mais reflexo da presença de Cristo no mundo.
    4. Contudo, as divisões históricas feriram a unidade visível da Igreja. O decreto Unitatis Redintegratio sobre o ecumenismo nos lembra que “certas cisões ocorreram, não sem a culpa de homens de ambas as partes” (UR, 3). Essas divisões não apenas fragilizaram o testemunho cristão no mundo, mas também representaram uma perda dolorosa para a missão da Igreja.
    5. A nossa Arquidiocese tem uma vasta experiência de ecumenismo e diálogo inter-religioso. De modo especial somos chamados a fazer nossa parte dentro desta cidade dividida em tantos poderes paralelos e dar testemunho de que, mesmo rezando diferente e tendo compreensões diversas, não somos inimigos, mas homens e mulheres que buscam os caminhos para servir a Deus e aos irmãos e irmãs.
    6. Nesse sentido os trabalhos sociais (que são muitos) devem nos ajudar a construir para todos, sem distinção, um mundo mais justo, fraterno e humano. A nossa fé nos faz ver Jesus na pessoa do outro (“foi a mim que o fizeste”) que tornando nossa ação social um testemunho evangelizador diferenciado.
    7. Em resposta, somos chamados a uma peregrinação de reconciliação, iluminada pelo desejo de Cristo de que ‘todos sejam um’. Essa peregrinação exige uma postura humilde, diálogo sincero, gestos concretos de amor e um compromisso renovado com a verdade e o perdão. Devemos nos inquietar com a pergunta de São Paulo: “Está Cristo dividido?” (1Cor 1,13). Essa reflexão nos impulsiona a colocar todas as nossas forças no cumprimento do chamado de sermos, com Cristo, “um só corpo e um só espírito” (Ef 4,4). Assim, nossa missão de unidade nos leva a trabalhar juntos, manifestando ao mundo a comunhão que Cristo confiou à sua Igreja. 

    Unidade: Um Chamado à Sociedade

    1. Esta carta nasceu primeiro com o desejo de afirmar a nossa missão de unidade neste mundo polarizador, em que as famílias estão divididas e numa sociedade violenta e com grandes problemas sociais. Tivemos há dias o G20 em nossa cidade. Falaram de grandes projetos e busca de soluções. Creio que viver o evangelho com as suas consequências deve fazer uma grande diferença no mundo e na sociedade. E isso cabe a nós que cremos em Jesus Cristo.
    2. Em um mundo marcado por desigualdades, polarizações e conflitos, a unidade não é apenas um desejo de Cristo para sua Igreja, mas também uma necessidade urgente para a sociedade. Como ensina a constituição pastoral Gaudium et Spes , “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje […] são também as alegrias e esperanças, tristezas e angústias dos discípulos de Cristo” (GS, 1). A nossa esperança é esta: a perfeita comunhão com o Pai, pelo Seu Filho, Jesus Cristo (cf. Jo 17,23).
    3. A busca pela unidade transcende as fronteiras religiosas e se torna um imperativo ético e social. Em tempos de crise, a solidariedade é um testemunho poderoso da força transformadora do amor cristão. A Doutrina Social da Igreja, com seus princípios de solidariedade e bem comum, oferece respostas concretas para os desafios do nosso tempo, destacando a dignidade humana e a justiça como pilares de uma sociedade reconciliada.
    4. Nesse contexto, a unidade entre os cristãos assume um papel profé Quando diferentes Igrejas e comunidades cristãs se unem em prol da justiça, da paz e do cuidado com a criação, tornam-se sinais visíveis de esperança em um mundo dividido. O empenho no serviço da caridade em nome de Cristo é uma manifestação concreta da presença de Deus na história. Esse gesto de amor não apenas inspira o mundo, mas também renova a própria Igreja, que se redescobre cada vez mais como comunidade reconciliada e missionária. Vivido na prática, esse compromisso comprova que a reconciliação é possível e que a paz não é apenas um ideal distante, mas uma realidade que pode ser construída aqui e agora.

     

    Unidade: Caminho e Testemunho

    1. A busca pela unidade é, ao mesmo tempo, um caminho e um testemunho. Caminho, porque exige perseverança, diálogo e conversão contínua; testemunho, porque, quando vivida na prática, revela ao mundo a presença de Deus. Esta jornada não é construída apenas em grandes iniciativas, mas também em pequenas ações diárias de amor e reconciliaçã
    2. Como afirmou Jesus: “Nisto todos saberão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35). O coração, centro do amor, é o lugar onde se define nossa singularidade e se constrói nossa capacidade de comunhão com os outros. O Papa Francisco, na encíclica Dilexit Nos, reforça essa visão ao afirmar que o coração é ‘aquilo que me distingue, que me molda na minha identidade espiritual e que me põe em comunhão com as outras pessoas’ (DN, 14). Dessa forma, o coração não apenas nos identifica como pessoas que amam, mas também nos impulsiona a buscar uma unidade amorosa com nossos irmãos, atendendo ao chamado de Cristo à comunhã
    3. O amor traduzido em ações concretas torna a unidade visível e tem o poder de transformar o mundo. Exemplos marcantes disso são encontrados na vida de santos e santas que brilharam como verdadeiros luzeiros de caridade, como Santa Dulce dos Pobres, que dedicou sua vida aos mais necessitados, e São Frei Galvão, que foi incansável na prática da caridade e na promoção da paz. O Papa Francisco nos convocou para no dia 9 de novembro celebrarmos os servos de Deus, Veneráveis, Beatos e Santos ligados à nossa cidade e Arquidiocese, para contemplarmos tanto a devoção popular de nosso povo como encontrarmos sinais em pessoas que aqui nasceram ou viveram e são testemunhas para nós. Em suas vidas vemos acontecer que os atraiu e questionou. E nesse aspecto, seus exemplos nos entusiasmam para que vivamos o caminho da santidade e deixemos rastros de paz e harmonia por onde passarmos. Somos chamados e fazer aparecer o perfume de Cristo nessa sociedade.
    4. Finalmente, a unidade cristã é um sinal de esperança que aponta para a plenitude do Reino de Deus, onde todas as divisões serão superadas e a criação será restaurada em Cristo (cf. Col 1,20). Os diferentes modos de manifestação de fé, orientados pelos ensinamentos de Cristo, devem coexistir em harmonia, preservando as riquezas e singularidades de cada comunidade. Essa convivência se integra em um diálogo fecundo, no qual as diferenças deixam de ser barreiras e tornam-se oportunidades para a construção de uma comunhão autê
    5. Este é o testemunho de que a Igreja é chamada a oferecer, especialmente em um mundo de esperança, marcado por polarizações e conflitos. A unidade buscada entre os cristãos torna-se uma antecipação visível da reconciliação final prometida por Cristo, sinalizando que a paz e a justiça não são apenas ideais distantes, mas realidades que inicialmente se constroem a partir da caridade e do diálogo. 

    Unidade e Esperança

    • Todos os anos vivemos a Festa da Unidade Arquidiocesana no último sábado do ano liturgico, na véspera do início do Advento. Celebraçáo de ação de graças e de início de novo ano. Neste ano de 2024 devido à circunstância do jubileu de ouro sacerdotal, nós celebramos a festa da unidade neste dia 14 de dezembro, diante de tantas testemunhas que vieram para participar desse momento. É um compromisso de continuarmos firmes na unidade e trabalharmos juntos na missão (“vamos pescar contigo”) renovando nosso entusiasamo pela missão, tema do nosso II Sínodo Arquidiocesano que concluiremos no próximo ano.
    • Vivemos um tempo oportuno, em que somos chamados a abraçar a unidade como desejo de Cristo e sinal de esperança para o mundo. Essa unidade, longe de ser apenas um ideal abstrato, deve se concretizar em gestos de caridade, diálogo e acolhimento mútuo, refletindo em nossas ações o amor que Cristo nos ensinou. Que nossas palavras e atitudes demonstrem nosso compromisso com esse chamado, e que, como Igreja, sejamos instrumentos visíveis de paz, justiça e reconciliação, especialmente em um mundo tão marcado por divisões, desigualdades e indiferenç
    • Peregrinando juntos na fé e na esperança, somos convidados a ser luz para o mundo e sal da terra, vivendo de forma concreta o Evangelho que transforma vidas. Ao testemunhar o amor de Cristo, nos tornamos sinais vivos da promessa de que, em Cristo, todas as coisas serão reconciliadas. Assim, nossa caminhada em direção à unidade não apenas aponta para o Reino de Deus, mas também planta sementes de esperança e renovação nos corações das pessoas que encontramos ao longo do caminho.

    A Festa da Unidade Arquidiocesana: Um Momento de Ação de Graças e Comunhão

    1. A Festa da Unidade Arquidiocesana é um momento fundamental na vida da nossa Igreja local, uma celebração que vai muito além de um simples evento. Trata-se de um verdadeiro encontro de fé e fraternidade, no qual toda a nossa Arquidiocese – sacerdotes, leigos, religiosos, movimentos pastorais e comunidades – se reúne para dar graças a Deus pelos passos dados ao longo do ano, pela ação pastoral e evangelizadora que temos realizado juntos.
    2. Esta festa é uma oportunidade de manifestar a unidade que Cristo deseja para a Sua Igreja. Em um mundo cada vez mais dividido, a Festa da Unidade Arquidiocesana é um testemunho vivo de que a diversidade de carismas e dons na nossa Igreja pode e deve ser vivida em profunda comunhão. É um tempo para nos alegrarmos juntos, celebrando os frutos da nossa missão evangelizadora e renovando o compromisso com o trabalho pastoral que temos pela frente.
    3. Além disso, a Festa da Unidade é um momento especial de proximidade com o pastor da Arquidiocese. A presença do Arcebispo, que preside a celebração e todo o evento, é um sinal visível de comunhão eclesial, reforçando os laços entre o pastor e o rebanho. Este encontro fortalece a nossa identidade como uma única Igreja arquidiocesana, chamada a caminhar unida, superando desafios e testemunhando a fé com coragem e alegria.
    4. A proposta desta festa é também a de partilha: partilha de experiências pastorais, de alegrias e desafios, de testemunhos de fé e de vida. Ao nos reunirmos, somos convidados a reconhecer que, juntos, somos mais fortes e que a missão que o Senhor nos confia só pode ser realizada plenamente quando todos nós – sacerdotes, diáconos, religiosos e leigos – estamos em comunhão, trabalhando em unidade pela edificação do Reino de Deus.

    Um Chamado à Participação: Entre o Encerramento e a Esperança

    1. Ao celebrarmos o encerramento do Jubileu de Ouro Sacerdotal, e ao nos aproximarmos das portas do Jubileu da Esperança e do Jubileu dos 450 anos da criação da Prelazia do Rio de Janeiro, faço um apelo sincero a todos os fiéis da nossa arquidiocese: participemos com fervor e entusiasmo de cada momento que esses jubileus nos oferecem. Não se trata apenas de uma comemoração pessoal ou histórica, mas de uma oportunidade única de renovação espiritual, de ação de graças e de fortalecimento da nossa caminhada comum. Estaremos iniciando, no próximo ano, comemorações de grandes datas desde os 450 anos da prelazia em 2025, culminando com os 350 anos da diocese em 2026. Vários eventos e trabalhos pastorais nos esperam.
    2. O Jubileu de Ouro Sacerdotal é um momento de ação de graças e agradeço a tantos que trabalharam e comemoraram, mas a direção é para que rezemos pelas vocações sacerdotais em nossa arquidiocese para que possamos não só prover as paróquias hoje e no futuro, mas também enviar missionários para o Brasil e para o mundo. Por isso não marca o fim, mas sim um novo dinamismo e entusiasmo, sendo um convite a prosseguir com novo vigor. Ao olharmos para a história, especialmente com o Jubileu dos 450 anos da Prelazia do Rio de Janeiro, somos chamados a reconhecer o quanto Deus tem abençoado a nossa Igreja local e a missão evangelizadora que, ao longo de séculos, formou uma herança rica de fé e testemunho.
    3. O Jubileu da Esperança, por sua vez, nos projeta para o futuro. Ele é um convite a olhar para frente com confiança e coragem, sabendo que o Senhor da história continua a caminhar conosco. Este é um tempo de renovação de nossa fé, onde somos chamados a lançar as redes em águas mais profundas, confiando na providência divina. O tempo que se inicia deve ser marcado pela esperança, que nos impulsiona a viver mais intensamente nossa vocação cristã e nossa missão evangelizadora. Sejamos animados “peregrinos de esperança”.
    4. Convido todos – sacerdotes, diáconos, religiosos, leigos, jovens, adultos e idosos – a não deixarem passar em vão estes momentos especiais. Cada um de nós é chamado a participar ativamente dos eventos e celebrações que este tempo jubilar nos oferece. Essa participação não deve ser apenas de presença física, mas de profundo engajamento espiritual e pastoral, como um verdadeiro sinal de nosso compromisso com a caminhada da Igreja.
    5. Os jubileus que se aproximam são um tempo de graça, um convite à conversão e ao aprofundamento da nossa fé. Um momento para dar graças a Deus por tudo o que já foi realizado, mas também para renovar o nosso compromisso com o futuro, com o serviço aos irmãos e com a missão de anunciar o Evangelho. Que cada um de nós, em seu estado de vida, possa viver este tempo com espírito de gratidão, fé e esperança.
    6. Que a nossa participação ativa nas celebrações jubilares seja também uma oportunidade de fortalecer os laços de fraternidade em nossas comunidades, de renovar o nosso compromisso com a missão e de nos preparar para os novos desafios e oportunidades que o Jubileu da Esperança, o Jubileu dos 450 anos e demais comemorações nos trarão.
    7. Ao nos prepararmos para abrir as portas do Jubileu da Esperança e celebrarmos os 450 anos da Prelazia do Rio de Janeiro, somos chamados a caminhar unidos, como uma só Igreja, de mãos dadas na construção do Reino de Deus. O Jubileu de Ouro Sacerdotal é uma oportunidade a dar passos em tantos caminhos, especialmente o vocacional e da unidade e com isso ser um marco significativo, e um impulso para que possamos olhar para o futuro com renovada confiança no Senhor. Unidos para que o mundo creia.
    8. Neste espírito de unidade e renovação, desejo que cada celebração, cada encontro e cada gesto pastoral seja uma verdadeira ação de graças e uma preparação para o futuro que Deus nos reserva. Que a nossa arquidiocese continue a ser um sinal de esperança, fraternidade e compromisso com o Evangelho, enquanto caminhamos juntos em direção aos novos horizontes que se abrem diante de nós. Que Nossa Senhora Aparecida, Mãe da Igreja, interceda por nós e nos mantenha sempre unidos em Cristo.

    Com uma bênção especial e orações para todos,

    Catedral de São Sebastião do Rio de Janeiro, 14 de dezembro de 2024, 12ª Festa da Unidade.

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