Paquistão: Arcebispo de Lahore encoraja cristãos a «seguirem em frente, apesar do peso da sua cruz»

D. Sebastian Shaw visitou sobreviventes do ataque suicida do último domingo, que matou 72 pessoas, entre elas 30 crianças

Lisboa, 29 mar 2016 (Ecclesia) – O arcebispo de Lahore, no Paquistão, visitou no hospital os sobreviventes do ataque suicida do último domingo à comunidade cristã, que vitimou 72 pessoas, entre elas 30 crianças, e deixou 340 feridos.

Em declarações à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), enviadas hoje à Agência ECCLESIA, D. Sebastian Shaw sublinhou o cenário “difícil” com que se deparou e que envolve não apenas cristãos mas também membros da comunidade muçulmana que estavam no parque onde decorreu o atentado, em Gulshan-e-Iqbal.

“Visitei cada cama e cada vítima independentemente da sua fé. Foi muito difícil, porque vi muitas crianças com 4, 5 anos, cristãs e muçulmanas, feridas ou assassinadas neste terrível atentado”, descreveu o prelado.

Aos feridos da comunidade cristã, o arcebispo de Lahore quis sobretudo levar “esperança” diante de um futuro que se adivinha “muito difícil”.

O atentado do último domingo já foi reivindicado por um grupo radical muçulmano ligado aos talibãs, que prometeu entretanto que vai continuar a atacar a comunidade cristã do Paquistão.

Nesta conjuntura, D. Sebastian Shaw encoraja os cristãos a “seguirem em frente” com a sua vida, “apesar do peso da sua cruz”, com a certeza de que “Deus estará sempre com eles”.

Contactada pela Agência ECCLESIA, a diretora da Fundação AIS – Portugal realça que o ataque suicida do último domingo “pode ser visto como um aviso às autoridades de Lahore, que tinham declarado o dia como feriado não só para os cristãos mas também para a comunidade hindu”.  

Catarina Martins lembra que na base de toda esta violência poderá estar ainda uma retaliação contra o Governo paquistanês, na sequência da recente execução do homem que assassinou em 2011 o então governador de Punjab, Salman Taseer.

Este responsável político foi morto por defender publicamente alterações à lei da blasfémia e por estar ao lado de casos como o de Asia Bibi, uma mulher cristã que está há vários anos encarcerada por alegadamente ter ofendido Maomé.

“O governo tinha tomado medidas excecionais de segurança para as comunidades cristãs celebrassem a Páscoa mas nunca imaginou que pudesse haver um ataque num parque, como este”, realça a responsável da AIS.

Para Catarina Martins, quer a atribuição do feriado quer a execução do assassino de Salman Taseer podem ser vistos como um sinal de que algo está a mudar no governo paquistanês, já que “até há bem pouco tempo”, os responsáveis políticos no Paquistão “fechavam muitas vezes os olhos a estes ataques, não só aos cristãos mas a outras minorias religiosas”.

“Mas infelizmente o Paquistão é um país onde há muitos grupos radicais e estas decisões do governo não vão ser bem aceites. Daí que tenham ameaçado que continuarão a fazer estes ataques”, aponta Catarina Martins, que sublinha que esta questão vai muito além das diferenças religiosas e de fé.

“A comunidade cristã é vista no Paquistão como o Ocidente, sempre que há alguma coisa que o Ocidente possa fazer contra países de maioria muçulmana, a comunidade cristã é responsabilizada por tudo isto”, conclui.

Fonte: Agencia Ecclesia

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