Papa: sejam missionários da esperança para erradicar as pobrezas na Sicília

“Antigas e novas pobrezas”, acrescentou Francisco em discurso à comunidade acadêmica do “Studio Teologico San Paolo” recebida em audiência no Vaticano. Francisco exortou pela formação das novas gerações que prime pela liberdade e transparência “no cuidado com o bem comum” numa terra ameaçada pela especulação da máfia e pela corrupção: “saibam ‘abundar em esperança’. Não abundem jamais nas queixas, na resignação, mas na esperança”.

Andressa Collet – Vatican News 

A comunidade acadêmica de cerca de 200 pessoas do Studio Teologico San Paolo, da cidade italiana de Catânia, foi recebida pelo Papa Francisco nesta sexta-feira (06/12) na Sala Clementina, no Vaticano. O grupo de cerca de 200 pessoas era formado por professores, alunos e funcionários do instituto com 55 anos de fundação, “considerado uma das primícias do Concílio Vaticano II”, disse o Pontífice logo no início do discurso.

Na época, continuou o Papa, as dioceses daquela região siciliana, decidiram criar um único lugar de formação teológica para sacerdotes, religiosos e leigos. Formação “incisiva na vida eclesial e social” que se transformou em “modelo” para estimular outras Igrejas e que Francisco encorajou para continuar a ser seguida também hoje, “caminhando juntos” inclusive como faz com a Faculdade Teológica de Palermo, à qual o instituto está vinculado, e à Universidade de Catânia, a instituição cultural mais antiga da Sicília com quem tem relações. O trabalho nessa dimensão sinodal ajuda a criar “laboratórios de comunhão e de missão, animados pela reflexão teológica”, acrescentou o Pontífice.

A audiência com o Papa Francisco foi na Sala Clementina, no Vaticano
A audiência com o Papa Francisco foi na Sala Clementina, no Vaticano

O papel social das mulheres na Sicília

O Papa seguiu o discurso falando da missão “de não ignorar o território em que está localizado”. E, ao aprofundar sobre a “experiência da eclesialidade” feita dentro do instituto hoje, com “a diversidade das vocações e dos dons” e na busca de novas formas de evangelização, falou do papel da mulher numa Sicília que “é pátria” de santas mártires:

Ao longo dos anos, houve um aumento no número das estudantes entre vocês, que hoje estão incluídas nas suas comunidades eclesiais com tarefas de responsabilidade pastoral, de ensino religioso e acadêmico: isso também é um sinal dos tempos, em um território onde a mulher tem sido frequentemente desvalorizada no seu papel social. Mas não esqueçamos que a Sicília é a pátria das santas mártires Agata e Lucia, que foram a ‘semente’ de uma fé robusta, capaz de se renovar e de gerar sempre novas testemunhas, como, por exemplo, em nosso tempo, os beatos Giuseppe Puglisi e Rosario Livatino.”

"Sejam livres e transparentes no cuidado com o bem comum, para erradicar antigas e novas pobrezas", disse o Papa
“Sejam livres e transparentes no cuidado com o bem comum, para erradicar antigas e novas pobrezas”, disse o Papa

Ser acolhedor e criativo na fraternidade

A região, porém, descreveu Francisco, é “infelizmente ameaçada pela especulação da máfia e pela corrupção”, que impedem o desenvolvimento, condenando os mais vulneráveis, entre eles, os jovens que acabam emigrando. “A máfia sempre empobrece. Sempre”, acrescentou ele, mas é preciso formar as novas gerações para que “sejam livres e transparentes no cuidado com o bem comum, para erradicar antigas e novas pobrezas”. Um desafio importante para o instituto de Catânia que deve estar “a serviço das pessoas, dos pobres e dos últimos”, disse o Papa, ao acrescentar:

“Na terra de vocês, que sempre foi uma encruzilhada de povos, onde muitos migrantes desembarcam e muitos permanecem e se integram: eu os exorto a serem acolhedores, a serem criativos na fraternidade. E esse compromisso será mais frutífero se vocês souberem dialogar com as culturas e as religiões dos outros povos do Mediterrâneo, que olham para o futuro com esperança. Por favor, não apaguemos a esperança dos pobres, daqueles pobres que são os migrantes! E sejam acolhedores com os migrantes. Integrem os migrantes. Para vocês, também o desafio dos migrantes muçulmanos: de como integrar e ajudá-los a entrar nas dioceses”.

Menos queixas, mais esperança

Em discurso, o Papa disse que a Igreja recorda neste dia 6 de dezembro São Nicolau, “um santo que une o Oriente e o Ocidente, um pastor da Igreja que nos recorda o Concílio de Nicéia”, num convite a “a prosseguir no caminho da unidade visível” (Bula Spes non confundit, 17). Assim, a exortação de Francisco é pela comunhão das comunidades eclesiais e por uma formação e serviço destinada à cultura do povo siciliano, “resignado à dor e à pobreza”:

“No diálogo com essa cultura, que se expressa em tantas formas de viver e de pensar, saibam levar esperança e compromisso, saibam ‘abundar em esperança’. Não abundem jamais nas queixas, na resignação, não… A queixa é coisa de gente que não tem coragem. Não! Sigam em frente com a esperança e sejam missionários da esperança. Sigam em frente! Coragem!”

Francisco encorajou todos a seguir a virtude da esperança, em vez da resignação
Francisco encorajou todos a seguir a virtude da esperança, em vez da resignação

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