Papa pede mais mulheres na Comissão Teológica Internacional: pensam diferente dos homens

O encontro foi na Sala do Consistório, no Vaticano

Francisco afirma que seria importante aumentar o número de mulheres na instituição, “não porque estejam na moda”, mas porque “fazem da teologia algo mais profundo e saboroso”. O Pontífice também pediu que ajudem a fazer crescer a consciência da fé, cuidando com o perigo de hoje de não seguir adiante com a Tradição, mas promovendo o “retroceder”, andando pra trás “que é mais seguro”.

Andressa Collet – Vatican News

Na manhã desta quinta-feira (24), o Papa recebeu um grupo de 30 pessoas da Comissão Teológica Internacional (CTI), uma instituição cinquentenária que é fruto do Concílio Vaticano II. Estabelecida por Paulo VI em 1969, João Paulo II a descreveu em 1994 como um trabalho pós-Concílio de “estreita colaboração entre pastores e teólogos.

Na Sala do Consistório, no Vaticano, Francisco começou o discurso aos membros da CTI agradecendo pela “generosidade, competência e paixão” pelo serviço desenvolvido em 50 anos, inclusive superando as dificuldades impostas pela pandemia, ao trabalhar à distância. Um “compromisso renovado”, salientou o Papa, desempenhado na esteira do Concílio, que “constitui a bússola segura para o caminho da Igreja”.

O Pontífice também se disse contente pela CTI ter acolhido os temas propostos para serem explorados: a “irrenunciável atualidade” da “fé cristológica professada pelo Concílio de Niceia”, nos 1700 anos da sua celebração (325-2025); a análise de algumas questões antropológicas emergentes para o caminho da família humana; e o aprofundamento – “hoje cada vez mais urgente e decisivo” – da teologia da criação em perspectiva trinitária, para ouvir o grito dos pobres e da terra.

O perigo do “retroceder”

Em discurso, então, Francisco indicou três direções a serem seguidas neste momento árduo e histórico: a fidelidade criativa à Tradição; a abertura com prudência às diversas disciplinas; e a colegialidade. Em se tratando da primeira indicação, “de assumir com fé e com amor”, “de declinar com rigor e abertura o compromisso de exercer o ministério da teologia”, o Papa abordou a Tradição como “garantia do futuro”, que faz crescer a Igreja na vertical, de baixo para cima, “como a árvore”:

“A tradição – quero enfatizar isso – nos faz avançar nisto, nesta direção: de baixo para cima: vertical. Hoje existe um grande perigo que é o de ir em outra direção: o ‘de retroceder’. Voltando para trás. ‘Sempre foi feito assim”‘: é melhor retroceder, o que é mais seguro, e não avançar com a Tradição. Essa dimensão horizontal, temos visto, moveu alguns movimentos, os movimentos da Igreja, para permanecer fixos em um tempo, em uma direção retrógrada. São aqueles que ‘retrocedem’.”

Fora dessa direção vertical, indicou então Francisco, “cresce a consciência moral, cresce a consciência de fé”: “é a regra do crescimento”. “Vocês, teólogos, pensem um pouco em ajudar”, pediu o Pontífice.

A segunda diretriz diz respeito a valorizar o “princípio da interdisciplinaridade”, “a fim de realizar o trabalho de aprofundamento e inculturação do Evangelho com relevância e incisividade, de se abrir com prudência à contribuição das diversas disciplinas graças à consulta de especialistas, inclusive não-católicos, conforme previsto nos Estatutos da Comissão (cf. n. 10)”, disse Francisco.

Por fim, o Papa indicou a terceira diretriz, a da colegialidade, que “adquire particular relevância e pode oferecer uma contribuição específica no contexto do caminho sinodal”, enfatizado no documento elaborado sobre a sinodalidade na vida da Igreja: “como para qualquer outra vocação cristã, também o ministério do teólogo, além de ser pessoal, é comunitário e colegial”, promove entre os teólogos “a capacidade de ouvir, dialogar, discernir e integrar a multiplicidade e variedade de instâncias e contribuições” (n. 75).

Esse pedido aos teólogos, porém, distingue-se do direcioamento que deve ser seguido pelo catequista, alertou o Pontífice, que, por sua vez, “tem que dar a doutrina certa, a doutrina sólida, não as… possíveis novidades”. “O catequista transmite a doutrina sólida. O teólogo corre o risco de ir além e será o Magistério a detê-lo”, porque ele está tentando de tornar a teologia mais explícita. E o Papa reforçou: “jamais dar a catequese às crianças e às pessoas com doutrinas novas que não são seguras”.

“Desejo-lhes, portanto, neste espírito de escuta recíproca, de diálogo e de discernimento comunitário, em abertura à voz do Espírito Santo, um trabalho sereno e fecundo. Os temas confiados à atenção e competência de vocês são de grande importância nesta nova etapa da proclamação do Evangelho que o Senhor nos chama a viver como Igreja a serviço da fraternidade universal em Cristo.”

Mais mulheres para teologia mais saborosa

A CTI engloba teólogos de diversas escolas e nações, nomeados pelo Papa sob proposta do prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e depois de uma consulta das conferências episcopais. Para essa formação, ao final do discurso, de maneira espontânea, o Papa novamente pediu mais mulheres na instituição ligada à Santa Sé:

“E acredito que talvez seria importante aumentar o número de mulheres, não porque estejam na moda, mas também porque pensam diferente dos homens e fazem da teologia algo mais profundo e saboroso também.”

Atualização às 13h

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