Pontífice, o construtor de pontes.
De acordo com a interpretação habitual, o termo pontifex significa literalmente construtor de ponte” (pons + facere); “maximus” significa literalmente “máximo”, “maior” ou “supremo”. Este título talvez tenha sido originalmente usado em seu sentido literal: a posição do construtor de pontes era realmente importante em Roma, onde as grandes pontes ao longo do Tibre, o rio sagrado, adornadas com estátuas de divindades, eram utilizadas somente por autoridades prestigiadas com funções sacras. No entanto, sempre se entendeu seu sentido simbólico: os pontífices seriam os construtores da ponte entre os deuses e os homens.
Uma vez que o título de “pontífice”, era uma palavra latina equivalente a “sumo sacerdote”, como pode ser observado em sua tradução em outras línguas, como o grego, o termo equivalente grego foi usado no texto da Septuaginta e pelos apóstolos. Posteriormente quando Jerônimo de Estridão traduziu a Bíblia para o latim, a Vulgata, o termo pontífice foi definitivamente usado para referir-se ao sumo sacerdote judeu. Uma vez que os bispos cristãos ocuparam o lugar dos sacerdotes judeus, desde o século V o título foi usado para descrever bispos notáveis, e após o século XI, parece que o termo passou a ser utilizado apenas para os papas. Atualmente, o título é usado reservadamente pelo Papa, sendo que a lista oficial dos títulos papais publicado no Anuário Pontifício, coloca o termo “Sumo Pontífice da Igreja Universal” (em latim, Summus Pontifex Ecclesiae Universalis) como o quarto título oficial dos bispos de Roma.
A Enciclopédia Britânica, sem citar sua fonte, atribui ao Papa Leão I (440-461) a utilização do título pontífice máximo. Outras fontes, também sem prova documental, afirmam que o título foi usado pela primeira vez pelo Papa Gregório I, como demonstração de continuidade do poder civil, já que o Império Romano do Ocidente havia recentemente entrado em colapso. No entanto, foi somente muito tempo depois, no século XV, durante o Renascimento, que pontífice máximo se tornou um título de honra para os Papas, sendo encontrado em edifícios, pinturas, estátuas e moedas, portanto exclui-se qualquer relação entre o título imperial e papal.
Para nós, católicos, papa é sempre o nome mais comum e mais usado, quando falamos do Santo Padre, que, em grego, quer dizer: “Pai”. Pai dos amigos de Jesus e de todos aqueles que abraçam a fé, no desejo de viver e de ser coerente ao seu compromisso batismal, realizando a vontade do Pai, em uma bela e rica experiência do amor de Deus, no seguimento de Jesus de Nazaré. Mas podemos chamar o Papa de Vigário de Cristo na Terra, Pastor Universal, Romano Pontífice, Sumo Pontífice, Augusto Pontífice, Sucessor de Pedro, Príncipe dos Apóstolos, Santo Padre, Sua Santidade, Chefe Visível da Igreja, Patriarca do Ocidente, Primaz da Itália e ainda Servo dos Servos de Deus.
Jesus é o grande “construtor de pontes”
“Jesus é o grande “construtor de pontes”, que constrói em si mesmo a grande ponte da comunhão plena com o Pai”. No Angelus do XXIII Domingo do Tempo Comum de 2015, afirma o Papa Francisco: “Deus não é fechado em si mesmo, mas se abre e se coloca em comunicação com a humanidade. Na sua imensa misericórdia, supera o abismo da infinita diferença entre ele e nós e vem ao nosso encontro. Para realizar esta comunicação com o homem, Deus se faz homem: não lhe basta falar-nos mediante a lei e os profetas, mas se torna presente na pessoa de seu Filho, a Palavra feita carne. Jesus é o grande “construtor de pontes”, que constrói em si mesmo a grande ponte da comunhão plena com o Pai”.
As palavras do Romano Pontífice, na expressão-chave “construtor de pontes”, são por demais adequadas à missão que lhe confiada como sucessor de Pedro pelo próprio Cristo. Pontífice quer dizer ponte, que tem a função de ligar uma margem à outra de um rio. No caso do Sucessor de Pedro, o múnus que lhe foi confiado por Deus é o de fazer a ligação da Terra ao Céu, em uma misteriosa troca de dons, feliz circunstância em que o povo de Deus, a seu exemplo, sempre mais quer reavivar o dom da fé e avançar para as águas mais profundas, orientados pela palavra segura, fecunda e esperançosa do nosso querido Chefe Visível da Igreja, representante de Cristo aqui na Terra (cf. Lc 5, 4-7; Mt 16, 18).
O Testemunho de um Pontífice
Recordo aqui as palavras do diretor interino da Sala de Imprensa da Santa Sé, Alessandro Gisotti. “Há 6 anos da eleição de Francisco, naquele 13 de março de 2013 ao saudar os fiéis da Praça São Pedro e de todo o mundo da sacada central da Basílica Vaticana, o Pontífice começou aquele que ele mesmo definiu logo como “um caminho de fraternidade, de amor, de confiança”.
Continuou Gisotti: “Francisco, sem dúvida, honra o nome que leva. Obviamente quando, 6 anos atrás teve a eleição, todos fomos surpreendidos por este nome “Francisco”, Francisco de Assis, o homem da paz, o Pobrezinho que tentou com a esperança contra a esperança sempre a forma do diálogo. Pensemos também no encontro com o sultão Al-Kamil Al-Malek que foi evocado ultimamente na viagem aos Emirados Árabes. Então, Francisco honra o seu nome, mas depois também o seu ministério: Pontífice, construtor de pontes. Às vezes, nos esquecemos dessa dimensão própria dos Papas”.
Para evangelizar, cristãos devem construir pontes e não muros
De fato, o Papa Francisco falando com jornalistas no voo de retorno do Marrocos, em 31 março 2019, responde ao jornalista Nicolas Seneze, do La Croix: “É verdade que ainda haverá dificuldades, muitas dificuldades porque, infelizmente, existem grupos intransigentes. Mas gostaria de dizer isto claramente: em cada religião há sempre um grupo integralista que não quer ir em frente e vive de recordações amargas, das lutas do passado, procurando mais a guerra e também semeando o medo. Vimos que é mais bonito semear a esperança, andar de mãos dadas sempre em frente. Vimos, também no diálogo com vocês aqui no Marrocos, que são necessárias pontes e sentimos dor quando vemos pessoas que preferem construir muros. Por que sentimos dor? Porque aqueles que constroem os muros acabarão presos pelos muros que construíram. Mas aqueles que constroem pontes vão muito avante. Para mim, construir pontes é algo que vai quase além do humano, exige muito esforço. Sempre me tocou muito uma frase do romance de Ivo Andrich, “A Ponte sobre a Drina”: ele diz que a ponte é feita por Deus com as asas dos anjos para que os homens se comuniquem… para que os homens possam se comunicar. A ponte é para comunicação humana. E isto é bonito e eu vi isso aqui no Marrocos. Em vez disso, os muros são contra a comunicação, são a favor do isolamento e aqueles que os constroem tornar-se-ão prisioneiros. Não se vêem os frutos, mas vêem-se muitas flores que darão frutos, por isso vamos continuar assim”.
A Visita ao Iraque, construir pontes de fraternidade humana
Uma das frases favoritas do Papa é que “temos que derrubar muros e construir pontes”. É incrível que Francisco, o Papa-pastor que mais rechaçaria a imagem do Papa político-diplomático, finalmente seja o Papa que consegue dar esses passos fundamentais no cenário internacional.
Papa Francisco realiza o sonho de João Paulo II, que, nas peregrinações do Grande Jubileu do ano 2000 (Sinai, Terra Santa), também tinha inserido a de Ur dos Caldeus, impedido pela falta de acordo com o governo de Saddam Hussein. Trata-se de uma viagem com uma tríplice finalidade. Estritamente religiosa e espiritual: visitar a terra onde começou a “aventura” de Abraão, o patriarca reconhecido pelas três grandes religiões abraâmicas, justamente: judaísmo, Islã e cristianismo. Depois, um objetivo mais precisamente político. Por um lado, levar sustento à minoria cristã – que, ao longo do tempo, em particular por causa da perseguição do califado Daesh, foi reduzida, segundo as estimativas, de 1,4 milhão para pouco menos de 400 mil pessoas – na esperança de que a visita desencadeie o retorno de muitos que fugiram. Por outro lado, continuar a realização do diálogo com o Islã, no espírito da Declaração sobre a fraternidade humana.
As religiões e as teologias não são inocentes em relação à violência, por isso Papa Francisco tenta desarmar um dos possíveis estopins da nova violência religiosa. E o diálogo, como ele escreveu aos cristãos do Oriente Médio, é “o melhor antídoto para a tentação do fundamentalismo religioso”, em particular o diálogo inter-religioso, onde as situações são mais difíceis. Para evitar uma conflitualidade destrutiva, o Sumo Pontífice propõe às Igrejas cristãs e aos expoentes das várias fés que “entrem juntos, como uma única família, em uma arca que possa sulcar os mares tempestuosos do mundo”. Essa arca se chama “arca da fraternidade humana”. O Papa está trabalhando na construção dessa arca, ou desta ponte de fraternidade. O imã e o aiatolá são expoentes importantes do Islã: al:Tayyib da corrente sunita e al-Sistani do Islã xiita.
O documento sobre a fraternidade humana foi preparado com o grão-imã de al-Azhar “durante seis meses, em segredo, rezando, refletindo, corrigindo”. Papa Francisco o descreveu como “um primeiro passo” e disse que “este [com al-Sistani] seria o segundo. E haverá outros”. Afirmou o Pontífice: “O caminho da fraternidade humana é importante. O documento de Abu Dhabi deixou em mim a inquietação da fraternidade, e daí surgiu a encíclica Fratelli tutti”. De fato, é importante estudar ambos os documentos, que “vão na mesma direção, buscam a fraternidade”.
O Papa Francisco nos lembrou que o aiatolá al-Sistani tem uma frase: “Os homens são ou irmãos por religião ou iguais por criação”. Francisco disse que o diálogo inter-religioso “é um caminho também cultural”. Ele enfatizou que os cristãos devem entender que, com os muçulmanos, “somos todos irmãos e devemos seguir em frente [no diálogo] com as outras religiões”. Ele lembrou que “o Concílio Vaticano II de um grande passo” na promoção desse diálogo, mediante a constituição dos conselhos para a Unidade dos Cristãos e para o Diálogo Inter-Religioso.
Depois, em uma parte significativa da sua resposta, o Papa Francisco enfatiza que “muitas vezes se deve arriscar para dar esse passo [no diálogo]”. Ele observou que “há algumas críticas que dizem que o papa não é corajoso; é inconsciente, que está dando passos contra a doutrina católica, que está a um passo da heresia… Há riscos”.
Papa Francisco, construindo pontes de unidade
No domingo de manhã, enquanto o Papa Francisco estava chegando a Mosul, uma jovem estudante de psicologia iraquiana em Roma chamada Sana Rofo disse à TV italiana que nunca tinha visto seu país tão unido e entusiasmado: “O Papa fez um milagre!”.
Se há seis meses você tivesse entrevistado 100 autoridades vaticanas e diplomatas pontifícios, provavelmente 99 desaconselhariam uma viagem papal ao Iraque. Isso seria irresponsável em meio a uma pandemia global, diriam eles, e, além disso, a situação de segurança é muito precária. Eles também poderiam apontar que o Vaticano acabou de registrar um déficit de milhões de dólares em 2020, e talvez este não seja o momento para aumentar os custos com viagens, mesmo que a maior parte do custo seja absorvida pelo país anfitrião, porém o Iraque também não se encontra em uma situação confortável.
Além disso, há também a questão da própria condição física do Papa. Recentemente, ele foi obrigado a cancelar ou a adiar vários eventos devido às batalhas contra a ciática, a condição dolorosa de que ele sofre. Devido em parte à relativa inatividade imposta pelos confinamentos do corona vírus, Papa Francisco também ganhou um pouco de peso nos últimos meses, complicando ainda mais os seus movimentos e deixando-o mais sujeito à exaustão. Ao vê-lo no Iraque, seu cansaço era muitas vezes visível.
Sem dúvida, o Pontífice ouviu todos esses argumentos, repetidamente e com ênfase crescente à medida que a data de partida se aproximava. Mesmo assim, ele foi, algo que é característico da sua insistência desde o início.
Mais profundamente, não é por acaso que Papa Francisco fez essa viagem enquanto a pandemia da Covid-19 ainda está ocorrendo. Em muitos aspectos, é precisamente por causa da Covid que Papa Francisco sentiu que essa viagem é tão essencial.
Em apenas três dias se deslocou entre Bagdá, Najaf, Nassiriya, Ur, Mosul, Erbil, Qaraqosh, encontrando-se com fiéis católicos e autoridades políticas de um país destruído pela guerra e dilacerado por conflitos, dialogando com o líder espiritual dos xiitas iraquianos al-Sistani, confrontando-se com os líderes da região autônoma curda, experimentando a emoção de estar aos pés da pirâmide em degraus de Ur – com quatro mil anos de idade – no lugar de onde a tradição faz Abraão partir para a Terra.
No coração do Oriente Médio, atormentado há anos pelo terrorismo fundamentalista do Isis, Papa Francisco chega para reafirmar que as religiões devem colaborar juntas em um espírito de fraternidade e contrastar todo tipo de fundamentalismo. Em nome da igualdade civil e da justiça social. “O Papa não vem para defender e proteger os cristãos… ele não é o chefe de um exército – declarou o patriarca caldeu, Cardeal Luiz Raphael Sako Papa Francisco vai encorajar os cristãos, vai levar-lhes conforto e esperança para ajudá-los a perseverar, ter esperança e também para colaborar com outros cidadãos”. Mas o Pontífice não vem para alimentar o espírito de facção: “Ele vem para todos os iraquianos, não apenas para os cristãos. Ele sabe que todos sofreram, não apenas os cristãos”. O Pontífice construiu pontes de unidade e diálogo.
Mosul: o Papa construiu pontes de fraternidade
Na manhã do domingo, 07 de março, o Papa chegou a cidade de Mosul e dirigiu-se a Hosh al-Bieaa, a praça das 4 igrejas: sírio-católica, armeno-ortodoxa, sírio-ortodoxa e caldeia, destruídas pelos ataques terroristas entre 2014 e 2017. Depois de ouvir os comovedores testemunhos de um sunita e do pároco local que falaram das perdas e dos deslocamentos forçados o Papa fez uma breve saudação e rezou uma oração pelas vítimas e pelo povo iraquiano.
“A trágica redução dos discípulos de Cristo, aqui e em todo o Médio Oriente, é um dano incalculável não só para as pessoas e comunidades envolvidas, mas também para a própria sociedade que eles deixaram para trás. Com efeito, um tecido cultural e religioso assim rico de diversidade é enfraquecido pela perda de qualquer um dos seus membros, por menor que seja, como, num dos vossos artísticos tapetes, um pequeno fio rebentado pode danificar o conjunto”. O Papa Francisco também destacou: “Como é cruel que este país, berço de civilizações, tenha sido atingido por uma tormenta tão desumana, com antigos lugares de culto destruídos e milhares e milhares de pessoas – muçulmanas, cristãs, yazidis e outras – deslocadas à força ou mortas!”.
E concluiu sua saudação afirmando: “Hoje, apesar de tudo, reafirmamos a nossa convicção de que a fraternidade é mais forte que o fratricídio, que a esperança é mais forte que a morte, que a paz é mais forte que a guerra”.
Em Qaraqosh: O Papa nos convida a construir pontes de perdão.
Depois de fazer a oração pelas vítimas da guerra em Mosul, o Papa Francisco foi a cidade de Qaraqosh para encontrar a comunidade local. O encontro foi realizado na Igreja da Imaculada Conceição. Depois de ser acolhido pelo Patriarca sírio-católico, o Papa fez um discurso e em seguida rezou o Angelus junto com a comunidade. O Santo Padre encontrou uma comunidade com grande diversidade cultural e religiosa e disse que “isto mostra algo da beleza que a vossa região tem para oferecer ao futuro. A vossa presença aqui lembra que a beleza não é monocromática, mas resplandece pela variedade e as diferenças”. Lembrando depois, “com grande tristeza, olhamos ao nosso redor e vemos outros sinais: os sinais do poder destruidor da violência, do ódio e da guerra”. Porém como recordou o Papa a “última palavra pertence a Deus e ao seu Filho, vencedor do pecado e da morte”.
Falando sobre a herança espiritual dos pais e mães na fé disse: “A grande herança espiritual que nos deixaram continua a viver em vós. Abraçai esta herança! Esta herança é a vossa força. Agora é o momento de reconstruir e recomeçar, confiando-se à graça de Deus, que guia o destino de cada homem e de todos os povos”. Francisco recordou também que os filhos não herdarão apenas uma terra, uma cultura e uma tradição, “mas também os frutos vivos da fé, que são as bênçãos de Deus sobre esta terra”.
Conhecendo nossas fragilidades como homens o Papa consolou: “Com certeza há momentos em que a fé pode vacilar, quando parece que Deus não vê nem intervém. Sentistes a verdade disto nos dias mais negros da guerra, e é verdade também nestes dias de crise sanitária mundial e de grande insegurança. Nestes momentos, lembrai-vos que Jesus está ao vosso lado. Não deixeis de sonhar. Não desistais, não percais a esperança”.
Recordando o testemunho de uma senhora antes de seu discurso afirmou: “Comoveu-me uma coisa que disse a Senhora Doha: o perdão é necessário por parte daqueles que sobreviveram aos ataques terroristas. Perdão: esta é uma palavra-chave. O perdão é necessário para permanecer no amor, para se permanecer cristão”. “É preciso capacidade de perdoar e, ao mesmo tempo, coragem de lutar. Sei que isto é muito difícil. Mas acreditamos que Deus pode trazer a paz a esta terra. Confiamos n’Ele e, unidos a todas as pessoas de boa vontade, dizemos ‘não’ ao terrorismo e à instrumentalização da religião”.
Um grande legado: Construir pontes de Tolerância e Coexistência
A histórica viagem do Papa Francisco ao Iraque deve nos inspirar e fazer-nos debruçar sobre cada palavra e instante, cada cenário e testemunho, a cada gesto concreto que frutificou do testemunho deste Vigário de Cristo. Um dos mais importantes foi a a instituição de Dia Nacional da Tolerância e Coexistência, através de uma publicação na sua conta do Twitter, pelo O primeiro-ministro do Iraque, Mustafa Al-Khadimi.
O líder do executivo adianta que a celebração vai ser assinalada a 6 de março, evocando encontro entre grande Aiatolá Ali Al-Sistani e o Papa Francisco na cidade de Najaf, uma das mais santas para o Islã xiita.
“Em comemoração do histórico encontro em Najaf entre o aiatolá Ali Al-Sistani e o Papa Francisco, e da histórica celebração inter-religiosa na antiga cidade de Ur, declaramos o 6 de março um Dia Nacional de Tolerância e Coexistência no Iraque”, escreveu Al-Khadimi.
A respeito do encontro do Papa Francisco e Al-Sistani e, o sacerdote iraquiano Ameer Jaje, diretor da secção árabe da Universidade Dominicana Internacional em Paris, disse à fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) que os dois responsáveis “têm um papel importante na paz e na estabilidade”.
O religioso liderou a organização da viagem do Papa à cidade de Ur, local de nascimento de Abraão.
“Al-Sistani foi, por exemplo, uma força importante para a paz entre 2006 e 2008, durante a guerra civil do país. Ele até emitiu uma fatwa pedindo o fim do ciclo de violência”, destacou o padre Ameer Jaje, numa entrevista enviada pela fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS). Para o especialista, “o simbolismo deste encontro vale mais do que qualquer assinatura” de declarações conjuntas.
Para a minoria cristã no Iraque, este encontro representa a esperança de que o país, dominado por milícias xiitas, “abrace o pluralismo e a diversidade”, destaca a fundação pontifícia.
O Papa Francisco recordou que nestes dias no Iraque ouviu “vozes de sofrimento e angústia”, mas também “vozes de esperança e consolação”. Declarou que o Iraque ficará sempre no seu coração: “Aproxima-se o momento de voltar para Roma. Mas o Iraque ficará sempre comigo, no meu coração. Peço a todos vós, queridos irmãos e irmãs, que trabalheis juntos em unidade por um futuro de paz e prosperidade que não deixe ninguém para trás nem discrimine ninguém. Asseguro-vos as minhas orações por este amado país”.
O Papa Francisco chegou a Roma pouco depois do meio-dia (hora local) da segunda-feira, dia 08 de março, de retorno do Iraque ao término de sua 33ª Viagem Apostólica Internacional. Tratou-se de uma viagem “histórica”, como foi definida por muitos.
O Papa Francisco foi o primeiro papa latino-americano e agora bate outro recorde. É a primeira visita de um papa ao Iraque, e não só isso, a primeira visita após o coronavírus. Escolheu-nos para dar carinho e também atenção ao Iraque, que está em uma situação muito ruim.
E fato, Santa Sé é neutra e pode fazer muito por esses países que sofrem, e que sofrem por uma coisa absurda: todos esses confrontos, essas guerras são absurdas, e depois de anos será preciso chegar a um acordo. Então, nos perguntamos: por que toda essa destruição, esses milhares de mortos, por que tudo isso? É preciso mudar a mentalidade, ter um olhar mais amplo e ver quem sustenta o tráfico de armas, quais são os interesses econômicos que movem essas guerras. Todos falam da dignidade humana, mas por que não pensar também nos pobres inocentes?