Andressa Collet – Vatican News
“Usar as armas para resolver os conflitos é sinal de fraqueza e de fragilidade. Negociar, proceder na mediação e iniciar a conciliação requer coragem. #Paz”
O tuíte do Papa Francisco deste início de semana foi extraído de um discurso do próprio Pontífice feito em dezembro de 2022 a uma delegação da ONG francesa “Leaders pour la Paix” (Líderes pela Paz), que se propõe a oferecer sabedoria política a serviço da paz e do interesse geral sobretudo diante de crescentes perigos que ameaçam o equilíbrio da sociedade. Em um momento em que milhares de pessoas são vítimas de conflitos armados, como na própria Ucrânia e no Sudão, Francisco insiste na mediação oriunda de coragem e sem armas.
Naquela oportunidade, Francisco recordou que a experiência da organização francesa ensina que, diante de um conflito do gênero, o primeiro passo a fazer é “calar as armas” para, num segundo momento, pensar em reconstruir o presente e o futuro da convivência, das instituições, das estruturas e dos serviços: “a paz requer formas de reconciliação, valores compartilhados e – o que é indispensável – caminhos de educação e formação”, disse o Pontífice. “Não podemos esquecer”, disse ainda o Papa, “que o sacrifício de vidas humanas, o sofrimento da população, a destruição indiscriminada de estruturas civis e a violação do princípio da humanidade não são ‘efeitos colaterais’ da guerra, são crimes internacionais”.
Sudão: Cartum virou zona de batalha
A violência que tomou conta do Sudão já deixou mais de 400 mortos e cerca de 3.700 feridos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Confrontos entre paramilitares e forças do governo na capital Cartum começaram em 15 de abril e se estenderam para outras regiões do país africano. Mais de 1.000 cidadãos europeus já saíram do Sudão, em operações de evacuação que prosseguem ao mesmo tempo que os combates se prolongam desencadeando uma crise humanitária local: Itália, Alemanha, Espanha e Suécia, por exemplo, já retiraram seus cidadãos com medo da violência que abala a capital.
Uma luta que também obriga a população que fica no país a permanecer fechada em casa, como declara a ACN, a organização Ajuda a Igreja que Sofre. Um país já empobrecido, onde milhões de pessoas vivem sem acesso a serviços básicos. Kinga von Schierstaedt, coordenadora de projetos na África e também responsável pela pasta no Sudão, falou sobre a situação no país: “as ruas estão vazias, como numa cidade fantasma, porque não circulam carros, não se vê ninguém e não se ouve nenhuma voz. As pessoas não podem sair de casa ou, melhor, não se atrevem a fazê-lo”.
A Igreja Católica no Sudão “é muito pequena, pois cerca de 95% da população é muçulmana, mas como não é um conflito ideológico ou religioso, todos os cidadãos são igualmente afetados”, contou ela: “crentes, padres e religiosos não podem sair de suas casas. A missa dominical foi cancelada e os sacerdotes não podem celebrar a missa diária nas igrejas. A vida de fé nas áreas de crise só ocorre nas casas”. E a coordenadora finalizou:
“Nossos contatos afirma que, se nenhum dos lados ceder ou vencer, não haverá um fim rápido para o conflito. Portanto, só podemos esperar que o bom senso prevaleça e, é claro, rezar. Devemos rezar para que um governo chegue ao poder no Sudão que busque justiça e paz. É isso que todos os nossos contatos nos pedem para fazer, pois indicam que, por enquanto, nenhuma ajuda material pode ajudá-los. ‘A única coisa que pode nos dar força agora é saber que vocês nos apoiam na oração’, eles asseguraram.”