Andressa Collet – Vatican News
O convite foi reforçado neste domingo (21), ao final da oração mariana do Angelus. O Pontífice lembrou que a crise provocada pelo coronavírus evidenciou ainda mais a necessidade de “assegurar a proteção” também às pessoas refugiadas, “para garantir a sua dignidade e segurança”:
A família da humanidade
No Brasil, uma série de atividades estão sendo desenvolvidas dentro da 35ª Semana do Migrante, inclusive em modalidade online, para que as pessoas possam acompanhar de casa, mesmo em quarentena. Os detalhes da programação estão no site da CNBB, onde o presidente, dom Walmor Oliveira de Azevedo, divulgou uma mensagem sobre a “família da humanidade”. O arcebispo de Belo Horizonte (MG) afirma que “ao olhar para cada migrante e refugiado é necessário enxergar um irmão e uma irmã que veio de um outro lugar com hábitos e costumes diferentes”.
Cidadania sem fronteiras
O Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM), que articula e organiza os grupos que vivem o drama da migração forçada no Brasil, lançou um vídeo neste Dia Mundial do Refugiado. “A ideia foi trazer um pouco do rosto de vários migrantes que desbravam as fronteiras, carregando como bagagem a esperança”, afirma Eanes Silva, da Pastoral do Migrante de Balsas (MA), que produziu a obra. Eles declamam trechos do poema de Pe. Alfredo Gonçalves, intitulado “Fugitivo-Migrante”, quando escreve:
Leia a íntegra do poema “Fugitivo-Migrante”, Pe. Alfredo Gonçalves:
Recorda sempre a casa que deixaste para trás,
mas não te esqueças que outras casas, mesmo se poucas,
abrem suas portas à solidariedade de quem está a caminho;
Recorda sempre a terra onde estão seputados teus ancestrais,
mas não te esqueças que ainda há espaço livre, embora não muito,
para lançar a semente de colheitas novas e mais promissoras;
Recorda sempre a família onde nasceste e cresceste,
mas não esqueças a família mais ampla, não de sangue,
que entrelaça os espíritos dispostos a romper todas as barreiras;
Recorda sempre a pátria que te viu nascer e te viu escapar,
mas não esqueças que outros hinos e bandeiras, com notas e cores várias,
povoam a face da terra com rica diversidade de povos e nações;
Recorda sempre as raízes e os valores de tua cultura original,
mas não esqueças que valores distintos, mas com raízes semelhantes,
mergulham no solo fértil o genuíno sabor da existência.
Recorda sempre os costumes, comidas e lições de tua gente,
mas não te esqueças que outros grupos humanos, com o mesmo respeito,
cultivam nodos de vida igualmente sábios, sadios e sólidos.
Recorda sempre a fronteira que foste forçado a cruzar: lei, deserto, mar,
mas não te esqueças que a superação de cada adversidade,
pavimenta a estrada para uma cidadania sem fronteiras.
Recorda sempre a religião na qual aprendeste a buscar o sentido da vida,
mas não esqueças que outros credos e outros ritos, em igual solenidade,
constituem caminhos difetrentes para reverenciar o único Deus e Senhor.
Recorda sempre o estado de fome e pobreza, violência e guerra
que um dia te obrigou a abandonar a terra natal,
mas não esqueças que, apesar das ruínas, cinzas e escombros,
a travessia é capaz de transformar a fuga em nova busca,
onde a esperança converte o fugitivo em migrante,
profeta e protagonista de um amanhã livre e renovado.