Cidade do Vaticano
O Papa Francisco recebeu no final da manhã desta segunda-feira, na Sala Clementina, 30 jovens da Diocese francesa de Vivivers.
Guiados pelo bispo Dom Jean-Louis Balsa, o grupo percorreu durante um mês a Diocese argentina de La Rioja, onde morreram mártires Dom Henrique Angelelli, os sacerdotes Carlos Murias e Gabriel Longueville e o leigo Wenceslau Perdenera. Eles serão beatificados em 27 de abril de 2019.
Antes de começar a responder as perguntas que lhes foram feitas, dois jovens apresentaram ao Papa um pequeno vídeo de cerca de um minuto, com imagens da experiência vivida pelos jovens na Argentina.
“Um ouvido para escutar a palavra de Deus e um para escutar o povo”. Este conselho ouvido em 1973 pelo jovem Jorge Mario Bergoglio do bispo Dom Enrique Angelelli, assassinado em 1976, foi proposto ao grupo de jovens da Diocese de Viviers.
“Eu conheci o padre Longueville”, afirmou Francisco, que deixando de lado o discurso preparado, passou a responder às perguntas dos jovens franceses.
Evangelização é corpo a corpo
O Papa contou que Dom Angelelli havia pregado o retiro espiritual em 13 de junho de 1973 em La Rioja, quando foi eleito provincial. “Ali ouvi o seu conselho: “Um ouvido para escutar a palavra de Deus e um para escutar o povo”. Não existe evangelização de laboratório: a evangelização é sempre corpo a corpo, pessoal, caso contrário não é evangelização: corpo a corpo com o povo de Deus e corpo a corpo com a palavra de Deus”.
A evangelização acontece “em caminho”, disse ainda Francisco, recordando que “Jesus enviou os discípulos para evangelizar, não disse a eles: sentem-se, bebam um pouco de mate e evangelizem!”
“Quando vocês se reúnem – foi seu conselho – pensem onde vocês poderiam ir, visitar um hospital, uma casa de repouso para idosos e um jardim de infância para crianças”.
“Seu bispo – observou o Papa – usou uma palavra sobre a evangelização, que a seu juízo é uma das palavras mais importantes da pastoral: a doce e consoladora alegria de evangelizar. Se vocês estão evangelizando bem, isso dará gosto a vocês, alegria. A sua frase foi tomada da Evangelii nuntiandi, o documento pastoral mais importante: em uma de suas reuniões, vocês poderiam ler toda a última parte. São Paulo VI diz esta frase e depois descreve os maus evangelizadores: tristes, desencorajados, eu diria… com um pouco de vinagre. É o melhor tratado de evangelização que existe”.
Os pobres, os que melhor entendem a Palavra de Deus
O Papa respondeu às perguntas em espanhol, com tradução simultânea. “Aqueles que entendem melhor a palavra de Deus são os pobres, porque não colocam nenhuma barreira a esta palavra que é como uma espada que atinge o profundo do coração”, afirmou.
“Quanto mais somos pobres em espírito, melhor entendemos isso. Vocês mesmos, tomem a Bíblia e o Evangelho, e pode acontecer que digam: “Eu não entendo isso porque não tenho cultura”. Mas eu digo a vocês: abram o livro, leiam e ouçam e haverá uma surpresa, algo que tocará o coração! Uma coisa importante é que a palavra de Deus não entre apenas pelo olho ou pelo ouvido, mas é escutada com o coração, com o coração aberto. Ao jovem rico que pergunta a Jesus o que fazer para alcançar a vida eterna, Jesus diz para vender seus bens, e o jovem não consegue porque está cheio de riquezas e, portanto, não tem o coração aberto. Quando temos a impressão de não entender a palavra de Jesus, perguntemo-nos por que temos o coração cheio de outras coisas, um coração que não escuta”.
A maneira cristã de rezar
A oração, disse o Santo Padre, deve ser feita “com o povo, em grupos: é mais forte porque estamos unidos em oração”. Sim, posso estar sozinho e tenho que estar sozinho para encontrar-me com Ele na oração, mas só fisicamente, consciente de que comigo está toda a Igreja, há toda a comunidade: esta é a maneira cristã de rezar ”.
Questionado por uma jovem sobre como poderia dar continuidade na França ao clima de fraternidade vivido na experiência na Argentina, o Papa recomendou a ela reunir-se regularmente, uma vez por semana ou um mês, “para recordar e renovar”.
Diálogo com a mente, o coração e as mãos
Quanto ao serviço prestado aos outros e à comunidade, na experiência vivida pelos jovens franceses em La Rioja, o Papa ressaltou que “trabalhar juntos pelos outros” desperta em nós uma série de diferentes dimensões da humanidade: compreender-se, cooperar e também rezar juntos. É muito importante: se vocês disserem “vamos nos reunir e estudar como devemos nos comportar, como viver”, e fazem uma reunião semanal sobre o assunto, isso não dura quatro semanas e então o grupo se dissolve! O diálogo entre vocês deve ser feito com a mente, o coração e as mãos. Se vocês não falam assim, o diálogo não dura. Por isso é importante que os jovens sujem as mãos, se comprometam”.
Em um ambiente descontraído, o Papa brincou perguntando: “Em La Rioja vocês cantaram, tomaram mate … e experimentaram a grapa local? É o melhor do mundo!”, afirmou o Papa argentino, que concluiu agradecendo a viagem dos jovens a La Rioja, desculpando-se por não ter no momento “o mate”!