Na Semana Santa, os sacerdotes, ministros da Igreja, ficam cingidos com uma toalha na liturgia da quinta-feira, para lavar os pés de pessoas de suas comunidades. É claro que pode surgir a pergunta, que vale para todos: “Estamos dispostos a ser Cirineus, a ajudar alguém a carregar a Cruz? Queremos diminuir o preconceito e a intransigência diante da fraqueza do irmão?”.
O belíssimo hino do apóstolo Paulo, na sua carta aos Filipenses, exorta-nos, em tônica expressiva, forte e ao mesmo tempo sintética, sobre a vida e a missão de Jesus de Nazaré: “Cristo Jesus, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz” (cf. Fl 2, 6-7).
O Papa Francisco, por ocasião da oração mariana do Angelus (13/03/2016), no aniversário do terceiro ano de seu pontificado, com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro, asseverou: “Deus não nos identifica com o mal que cometemos”, destacando o Evangelho de são João, no episódio da mulher adúltera, dentro do tema da misericórdia de Deus, que não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva.
Já na Sexta-Feira da Paixão, o sacerdote, presidente da celebração, prostra-se diante do altar, em um inexprimível simbolismo de reverência, humildade e penitência. No início da celebração da Paixão do Senhor, ele quer expressar um profundo, forte e expressivo gesto de amor, que não se explica com palavras, e muito menos com a razão. É como disse tão bem o servo de Deus, Dom Helder Câmara: “Que eu possa aprender afinal, cobrir de véus o acidental e efêmero, deixando em primeiro plano, apenas, o mistério da redenção”.
Entende-se, no contexto acima, a importância da meditação, silêncio e oração, na busca de uma íntima configuração e identificação com o Filho de Deus, que se antecipa na glória, no excelso mistério de sua cruz redentora, a envolver e exaltar a comunidade dos filhos de Deus. É Deus dizendo-nos, através da paixão do Senhor, que temos que viver a caridade e ser irmãos uns dos outros, que, no dizer do Santo Padre, “temos um nome, e Deus não identifica esse nome com o pecado que cometemos”, mas, sim, voltados para a graça salvífica.
É pelo sangue redentor, nas palavras de Francisco – “Deus quer que a nossa liberdade se converta do mal para o bem, e isso é possível com a sua graça” –, que o nosso desejo seja sempre maior, de ter como alimento o farol da fé e da esperança, na escuta atenta da música litúrgica, apropriada para a celebração da Paixão do Senhor. Somos todos convidados a refletir, no mais íntimo do íntimo: “Eu me entrego, Senhor, em tuas mãos, e espero pela tua salvação”. Assim seja!