Ao fim da tarde de ontem em Nairobi, a enviada da Rádio Vaticano Adriana Masotti, entrevistou o Director da RV P. Federico Lombari na comitiva do Papa Francesco e perguntou-lhe como viveu o encontro do Papa com o Clero, os religiosos e seminaristas.
Mas, eu fiquei muito impressionado com este encontro, porque dava um claro sinal da vitalidade da Igreja missionária aqui no Quénia. Um número impressionante de religiosos e religiosas, sacerdotes, seminaristas – sob aquela tenda deve ter havido 8.000 pessoas, e são ainda mais, pondo-os todos juntos – que dão suas vidas para a proclamação do Evangelho e para uma grande quantidade de actividades extraordinárias na área da educação: fala-se de mais de 8.000 escolas, actividades no campo da saúde, há hospitais, dispensários, cuidados de saúde de todas as pessoas necessitadas, estão aqueles que se ocupam do tratamento de doentes da SIDA – e há também as actividades de caridade e de presença com os marginalizados … Realmente, é uma coisa muito bonita! Vê-se a Igreja na sua vitalidade em pessoas que dedicaram as suas vidas. E o Papa, nestes momentos, é recebido com grande entusiasmo, naturalmente, por pessoas que amam profundamente ao Senhor e a Igreja, e entra em sintonia com eles e por isso é normal que não faça um discurso formal, que não leia um discurso formal preparado, embora a preparação seja sempre útil para fazer circular ideias, recolhê-las e assim por diante … Porém, quando se está na situação do relacionamento directo com pessoas assim tão vivas, tão entusiasmadas, o Papa sempre sente a necessidade de dirigir-se a elas partindo do coração, com temas que lhe são queridos: que talvez nós já tenhamos ouvido várias vezes em situações semelhantes, mas que são sempre ditos com a vivacidade da primeira vez, coisas que estão a ser ditas a partir do coração para as pessoas que estão lá presentes: o amor por Jesus Cristo, a ideia do serviço e de não ser servido, a oração, recordar-se do Senhor, recusar qualquer forma de mundanidade, de busca de sucesso porque, pelo contrário, alguém se dedica totalmente a Deus e ao serviço dos outros … Enfim, são temas muito bonitos, e que o Papa sabe exprimir concretamente, como quando diz, : “É preciso entrar por Jesus, que é a porta, e não pela janela. É preciso sempre entrar pela porta principal, que é Jesus Cristo, as outras vias que não são genuínas, devem-se deixar de lado”. E assim há sempre um grande sucesso, porque as pessoas sentem a sua proximidade e sinceridade. Eu acho que foi um encontro muito bonito e são quase sempre assim (estes encontros), devo dizer, recordo também os encontros na Albânia, com pessoas que haviam sofrido sob o comunismo … Cada país tem a sua especificidade. Mas aqui, estes missionários e os africanos e africanas que são um pouco o fruto da evangelização, dão uma sensação de alegria, canto e vivacidade particularmente emocionante.
Muito concreto me pareceu também o discurso nas Nações Unidas: um discurso muito vasto, abrangente … Ele falou do comércio justo, falou de tráficos ilícitos, do clima, da protecção da natureza, da Terra. Me parecia que a preocupação – ou melhor – o apelo fosse à comunidade internacional, aos Estados: … “Mudai de direcção, porque assim não é possível continuar” …
Sim: neste sentido, este discurso estava em continuidade directa com a encíclica “Laudato sì” com o discurso à ONU em Nova York, com outras intervenções que o Papa fez sobre as questões da relação entre a boa administração dos bens desta terra, da criação e a justiça. Portanto, esta abordagem muito característica, esta esplêndida síntese que o Papa soube fazer das duas dimensões: a responsabilidade para com a criação, a natureza está intimamente ligada à responsabilidade para com as pessoas que vivem na casa comum, para com os povos, para com as pessoas que devem usar os recursos das criaturas para viver com dignidade, para viver justamente, para viver em paz e harmonia com a Criação e com os outros. Então, esta é uma linha que nós conhecemos, mas que demonstra cada vez mais a sua eficácia e o seu valor. Tenhamos em consideração que aqui, no salão de Nairobi, tínhamos exactamente os representantes de todos os povos que se encontram nesta sede específica das Nações Unidas para discutir os problemas do ambiente e habitat: portanto eram precisamente os interlocutores directos deste tipo de discurso e que poderiam compreender de modo particular a sua vivacidade e atenção. Porém, houve também, um aspecto adicional: por exemplo os temas do comércio, os temas da atenção nos acordos comerciais relativos aos medicamentos, a considerar as necessidades do cuidado dos pobres que porventura nunca foram assim desenvolvido em outros discursos do Papa. E, em seguida, estes aspectos um pouco mais africanos: a referência, por exemplo, à biodiversidade na bacia hidrográfica do Congo, da caça furtiva ou o contrabando e o comércio ilícito de pedras preciosas ou de produtos de origem animal ou do marfim com a dizimação de elefantes que tocam muito estas áreas da África e que, portanto, deram um tom de atenção específica ao lugar e a estes lugares onde o Papa se encontra. Piorém, como bem disse um dos três directores que saudaram o Papa: “Aqui, do coração da África, o Papa fala ao mundo inteiro!”. Portanto, esta temática ambiental e de bom equilíbrio entre as riquezas da criação, a justiça e o desenvolvimento bom dos povos foram ditas partindo do coração de um continente que tem uma extrema necessidade destas mensagens, para o mundo inteiro.
No encontro do Papa com os representantes das outras Igrejas cristãs e das outras religiões, mais uma vez o Papa disse: “O diálogo é essencial” …
Sim, esta é também uma constante de todas as viagens do Papa. À volta do Papa vemos que os líderes das diferentes denominações cristãs e das diferentes religiões se encontram, e se encontram de bom grado; sentem no Papa uma referência que não lhes dá nenhum temor, mas os entusiasma a cultivar juntos a responsabilidade pelo serviço comum, como líderes religiosos, pelo bem comum dos povos que servem. E portanto, o diálogo inter-religioso e entre as diferentes denominações cristãs conduz à paz, leva a uma boa educação dos jovens para os valores da convivência, da paz e do espírito, a da dignidade das pessoas e ajuda a resistir às tentações de um materialismo que os leva às tentações da violência, o extremismo, de perder a vida por trás de drogas ou atrás de falsas promessas de felicidade. Os líderes religiosos sentem isto como uma responsabilidade comum, e o Papa é bem capaz de canalizar esta energia comum das pessoas que acreditam em Deus e amam a Deus para estes objectivos fundamentais da humanidade e dos povos e aqui, na verdade, também dos povos africanos.
Fonte: Rádio Vaticano