São Marcos relatou que Jesus “viu uma grande multidão e compadeceu-se dela porque eram como ovelhas sem pastor”. Ele foi tomado de piedade e comiseração no mais íntimo de seu ser e “começou a ensinar-lhes muitas coisas” (Mc 6,34). Grande era, de fato a afeição do Mestre e Pastor divino com relação ao povo e antes de multiplicar os pães para alimentá-lo, ofereceu-lhe o pábulo espiritual da palavra divina. Tudo fluindo da ternura de seu coração, oceano infinito de misericórdia. Jesus contemplou ovelhas vulneráveis, expostas à cupidez de mercenários que procuravam tirar proveito delas. Elas precisavam de pastores verdadeiros que as guiassem nos caminhos da verdade e da vida. Diante de Jesus estava uma massa dispersa e informe à qual faltava uma mensagem vital para o corpo e a alma. Naquele tempo uma elite dominante já explorava sem escrúpulos as multidões e isto consternava Jesus. Aquelas ovelhas precisavam de um Mestre e de um autêntico Pastor pelo qual inconscientemente aspiravam. Jesus, porém, lá estava perto de uma multidão que desejava palavras de vida eterna e de alguém que compartilhasse suas misérias. Estavam abatidos, prostrados. Sábio, Cristo toma logo medidas práticas, imediatas e primeira providência urgente era os instruir sobre o Reino de Deus e fez isto até o cair da tarde. Estavam todos embevecidos, encantados e atentamente O escutavam. Nós, também, devemos imitar Jesus estando cuidadosos para com as pessoas que nos rodeiam e que tantas vezes precisam de uma palavra de conforto, de uma ajuda eficiente. Jesus transmitia a fé no destino eterno, o que deve também fazer todo aquele que O segue. Quantas pessoas vivem na insegurança precisando de um auxílio oportuno, desviados na sexualidade, nos defeitos de caráter, no apego às coisas materiais! Não valorizam seus talentos, seus valores pessoais e levam assim a desordem para o meio familiar e social em geral. O seguidor de Cristo pode levantar os ânimos, abrindo-lhes os horizontes da esperança, da fraternidade, do progresso individual. Então eles estarão mais seguros de si mesmos e não terão medo diante dos embates da existência. Eles precisam ser valorizados, percebendo sua dignidade e o gosto de viver e progredir. O batizado deve, portanto, dentro de suas possibilidades ser pastor que aponte veredas luminosas para muitos. O que o próximo espera é a escuta amiga, a cortesia, a amizade, o amparo. Jesus era um Pastor que amava suas ovelhas e, por isto, tendo visto suas necessidades se comoveu, mas logo lhes veio com auxílios oportunos. Os que estão a nossa volta querem também compreensão, confiança, arrimo. O batizado deve ser o portador do grande amor de Cristo. Ele conta com cada um de seus seguidores para serem testemunhas vivas de seu olhar amoroso. É o desafio que Ele lança sempre a quem se diz cristão, como observou o teólogo Serge Lefebvre. Mais do que simples piedade condescendência é necessária a ação no dia a dia, quando todos estão a serviço dos outros em casa, no local de trabalho, nos estudos para serem bons profissionais, nos lugares de lazer, enfim onde quer que estejam. Olhos de lince para enxergar as necessidades alheias e não ser nunca um motivo de mais sofrimento em seu derredor. Afáveis e humildes de coração como Jesus, será possível irradiar a verdade por toda parte. Jesus teve compaixão da multidão e seu discípulo deve possuir a mesma atitude, pois a piedade para com o próximo é a perpétua melodia da humanidade. Difunde o esplendor e circunda de auréola quem sofre e padece, iluminando-lhe o futuro com os raios de bondade. Grandiosa a tarefa do verdadeiro cristão na alheta de Cristo! * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.