A Palavra de Deus nos chama a colocar nosso ouvido no coração do Senhor e escutá-lo com atenção. Somos convidados a sermos ouvintes e praticantes dessa Palavra. O cristão deve viver sua prática religiosa: com sinceridade diante de Deus, humildade e amor para com os outros e não de forma legalista, fria e auto-suficiente.
A lei de Deus é santa (Dt 4,1-2.6-8). Ora, o zelo dos fariseus e dos escribas eram tais e com uma mentalidade de tanto apego à letra pela letra, que se tornaram extremamente legalistas. Criaram preceitos humanos que foram obscurecendo a pureza da lei de Deus e sua característica de ser sinal de amor. A Lei não fora dada para ser um fardo que tira a liberdade e entristece a vida, mas como sinal do amor de Deus, que orienta e indica o caminho com ternura. A lei e toda prática religiosa devem ser caminho de vida.
Jesus censura os escribas e fariseus pela incapacidade de distinguir entre o essencial e o secundário; em discernir o que vem de Deus e o que é meramente prática e tradição humanas, talvez boas e louváveis, mas não essenciais. Em matéria de religião, nem tudo tem igual valor, nem tudo tem a mesma importância. A medida de tudo é o amor: o amor é a plenitude da lei (Rm 13,10); só o amor dá sentido a todas as coisas!
Uma religião apegada a preceitos exteriores torna-se desatenta do coração, sem olhar a intenção com que se faz e se vive. Uma religião meramente exterior, sem aquelas atitudes interiores, que são as que importam realmente: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam!” (cf. Mc 7,18.14-15.21-23). As práticas externas valem quando são sinal de um compromisso interior de amor e conversão em relação a Deus.
Cuidado com o perigo da auto-suficiência. A pessoa sente-se segura de si mesma por causa de suas práticas. Julga-se melhor que os outros. Não despreze a Palavra do Senhor e as orientações da Igreja, que dele recebeu a missão de nos educar nos caminhos do Senhor! São Tiago (Tg 1,17-18.21b-22.27) nos exorta com palavras muito claras e diretas, sem deixar margem para ilusões: “Recebei com humildade a Palavra que em vós foi implantada, e que é capaz de salvar as vossas almas! Sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos!”
Jesus nos convida a ir ao essencial: vigiar as intenções e atitudes do nosso coração, pois “o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior”. Com um coração puro, poderemos reconhecer que tudo de bom que temos é dom de Deus e que, diante dele, somos sempre pobres e pecadores, necessitados de sua misericórdia. Isto nos abre de verdade para o amor aos outros e para a compaixão: somos todos pobres diante de Deus: “A religião pura e sem mancha diante de Deus Pai é esta: ir às periferias existenciais. Necessitamos dar mais atenção à Palavra de Deus para ser comunidade missionária.
Neste último domingo de agosto de 2015, concluindo o mês vocacional nesta querida Diocese de Guarabira, temos a alegria de instituir no Ministério de Leitor: 16 candidatos ao diaconado permanente, na Catedral, às 8h30. Que cada um seja ouvinte, praticante e anunciador da Palavra! E nós todos tenhamos a consciência de que a prática da Palavra deve acontecer pelo testemunho da caridade para com os pobres e sofredores e pela atitude de “não se deixar contaminar pelo mundo” (Tg 1,27). Portanto, “a Bíblia na mão, a Palavra de Deus no coração e os pés na missão”.
Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena – Bispo de Guarabira(PB)