Delphine Allaire – Cidade do Vaticano
“Quando penso em empresários, a primeira palavra que me vem à mente é bem comum. Os empreendedores são atores do desenvolvimento e do bem-estar. Vocês são um motor essencial da riqueza, da prosperidade, do bem-estar público”, assegurou-lhes Francisco, observando a falta de conhecimento sobre eles no espaço mediático.
“Os meios de comunicação social pouco falam das dificuldades e das dores dos empresários que fecham os seus negócios e fracassam sem a culpa seja sua”, escreve o Santo Padre citando o livro de Jó, instrutivo no fato de que o sucesso “não é diretamente sinônimo de virtude e de bondade” e que infortúnio “não é sinônimo de culpa”, atingindo “também os justos”.
A Bíblia cheia de histórias de economia
Pelo contrário, a Igreja compreende o sofrimento do bom empreendedor, acolhe-o, acompanha-vos, agradece-lhes, disse-lhes Francisco, recordando como, “desde o início, a Igreja acolheu no seu seio os comerciantes, precursores dos empresários modernos”.
“Na Bíblia e nos Evangelhos é recorrente a quest]ao do dinheiro, do comércio, e entre as mais belas histórias da história da salvação, há também histórias que falam de economia: de dracmas, de talentos, de proprietários de terras, administradores, preciosos pérolas”.
E o Papa faz referência ao pai do filho pródigo narrado no Evangelho de Lucas, apresentado como um homem rico, pode ser proprietário de terras, ou mesmo o bom samaritano “que poderia ser comerciante”.
Segundo Francisco, a forma de participar hoje no bem comum é criar empregos, especialmente para os jovens. “Confiem nos jovens”, exorta-os o Sumo Pontífice, acrescentando: “Cada novo emprego criado é uma riqueza partilhada, que não acaba nos bancos produzindo juros financeiros, mas que é investida para que novas pessoas possam trabalhar e viver a sua vida de forma mais digna”.
“O homem enobrece o trabalho”
Com efeito, “o trabalho é legitimamente importante”. Se é verdade que o trabalho enobrece o homem, é ainda mais verdade que é o homem quem enobrece o trabalho. Somos nós, e não as máquinas, o verdadeiro valor do trabalho.”
Continuando a elogiar o valor do trabalho, o Papa alerta para o perigo daquele empreendedor que deixa de trabalhar: “Ele então vira especulador ou pensionista e muda de emprego”.
Empresários, trabalhadores, o Verbo se faz carpinteiro
“O bom empresário, como o Bom Pastor do Evangelho, ao contrário do mercenário, conhece os seus trabalhadores porque conhece o seu trabalho”, observou Francisco, preocupado com a perda de contato do empresário com o trabalho da sua empresa, e portanto com seus trabalhadores, que depois se tornam “invisíveis”, lamenta ainda, citando no texto o economista francês Pierre-Yves Gomez.
“Vocês se tornaram empreendedores porque um dia ficaram fascinados pelo perfume da empresa, pela alegria de tocar seus produtos com as mãos, pela satisfação de ver que seus serviços são úteis: nunca se esqueçam disso, foi assim que nasceu sua vocação . E nisto vocês se assemelham a José, Jesus que passou parte de sua vida trabalhando como artesão: “o Verbo se fez carpinteiro. Ele conhecia o cheiro da madeira”.
“Sem novos empreendedores, a nossa terra não resistirá ao impacto do capitalismo. Até agora vocês fizeram coisas, alguns de vocês fizeram muito: mas não é suficiente. Estamos num período urgente, muito urgente: devemos, vocês devem, fazer mais: as crianças vão agradecer-vos, e eu com elas”, disse por fim o Papa.