O Sábado Santo, até o momento da Vigília Pascal, que só pode ocorrer após as das 18h, é marcado por um grande silêncio e um clima de recolhimento. Não se trata de um clima de luto ou tristeza, pois sabemos que o Senhor está vivo; no entanto, recordamos que hoje Ele está no sepulcro e, logo mais à noite, celebraremos a ressurreição gloriosa. O mundo está envolto em trevas, mas à noite uma grande luz iluminará essa escuridão. A certeza de que o Senhor ressuscitou é garantida pela fé. Por isso, em cada Eucaristia, ao final da consagração, o sacerdote proclama: “Eis o mistério da fé”, pois a fé é um mistério que só será plenamente revelado na eternidade. É pela fé que acreditamos que o pão e o vinho consagrados se tornam o Corpo e o Sangue de Cristo, e por essa mesma fé cremos que o Senhor está vivo e ressuscitado.
Ao longo deste Sábado Santo, as paróquias costumam reunir um grupo de pessoas para preparar a ornamentação da Igreja, que poderá ser colocada após o canto do Glória, segundo algumas tradioções, durante a celebração da Vigília à noite. Outras paróquias ainda promovem momentos de espiritualidade próprios da Semana Santa, como, por exemplo: a Via-Sacra, a meditação das dores de Nossa Senhora e o Ofício da Sepultura.
A Vigília Pascal deveria ser celebrada de madrugada, pois essa é a ideia de uma vigília: passar a noite em oração. Mas, devido à realidade pastoral dos dias de hoje, as paróquias costumam celebrá-la a partir das 18h, porém algumas também conservam a tradição de celebrar após a meia noite. Trata-se de uma celebração longa, que inclui as leituras que narram toda a história da salvação, além da bênção do fogo novo, da proclamação da Páscoa e da liturgia batismal, culminando com a liturgia eucarística.
Por esse motivo, ao longo do dia não há qualquer celebração da missa, apenas os momentos de espiritualidade e orações da liturgia das horas mencionados acima. A Igreja se resguarda e celebra a Eucaristia somente na grande Vigília à noite. A celebração da Vigília Pascal é o ápice do Tríduo Pascal, iniciado na Quinta-feira Santa a noite. O Tríduo Pascal é o centro do calendário litúrgico e da nossa fé. A Igreja permanece em oração neste dia, pedindo a Deus que tudo se renove com a celebração da ressurreição do Senhor.
Mesmo sendo Sábado Santo, ainda se podem realizar as penitências escolhidas ao longo do tempo quaresmal, como não comer carne durante o dia, intensificar a oração e optar pelo jejum como recomendam os livros litúrgicos. As penitências quaresmais se encerram com a celebração da Vigília Pascal. Nenhum sacramento pode ser administrado durante o dia, até a celebração da Vigília, a não ser em caso extremo, como risco de morte. Neste dia, devemos seguir o exemplo de Nossa Senhora e conservar todas essas coisas em nosso coração. Ela é a Virgem do Silêncio, que sempre esperou e confiou na graça de Deus. Devemos trazer em nosso coração essa mesma certeza.
Às vezes é necessário silenciar para escutar Deus, e o Sábado Santo é propício para isso. É preciso subir ao monte, encontrar-se com Deus e fazer um pedido especial ao longo deste dia, para que tenhamos uma santa Páscoa e morramos para o pecado e a vida do homem velho, ressurgindo para uma vida nova. Peçamos pela paz no mundo e para que todos os povos se unam nesse objetivo.
O Sábado Santo também é conhecido popularmente como “Sábado de Aleluia”, porque durante a Quaresma a Igreja não cantou o Aleluia nem o Glória (este tem algumas exceções); ambos os cânticos retornam na solene Vigília Pascal, para anunciar a ressurreição de Jesus. Durante a Vigília do Sábado de Aleluia, finalmente se canta o Aleluia, proclamando a alegria da Páscoa. A Igreja viveu uma espera durante a Quaresma, aguardando ansiosamente a ressurreição de Jesus; a partir do Sábado Santo, essa espera termina.
A Vigília Pascal é a liturgia mais importante do ano. Todo católico deveria participar: ela é a “mãe de todas as vigílias”. Conforme dissemos acima, ao longo da Vigília renovamos nossas promessas batismais e reafirmamos nosso compromisso de sermos católicos. Essa celebração contém várias partes: bênção do fogo novo e proclamação da Páscoa, liturgia da Palavra, liturgia batismal e liturgia eucarística. Em algumas paróquias, ocorrem batismos de adultos nesta noite, prática que tem se intensificado com a iniciação cristã. Com a iniciação cristã os 3 sacramentos são conferidos (batismo, crisma e eucaristia). Temos os nossos pecados perdoados e renascemos da água e do Espírito Santo, como quando fomos batizados. Quem ainda nunca participou dessa celebração, convido a fazê-lo: com certeza, sairá transformado.
Neste Sábado Santo, os discípulos estavam escondidos, com medo de que lhes acontecesse o mesmo que ocorreu com Jesus. Por isso, todos fugiram quando Ele foi preso. Eles ainda não haviam compreendido que Jesus ressuscitaria dos mortos. Judas Iscariotes, aquele que o traiu, morreu enforcado e não estava mais entre os apóstolos. Que neste Sábado Santo possamos pedir a Deus o perdão de nossos pecados, construir uma nova história e compreender que, às vezes, é necessário passar pelo calvário para chegar à glória da ressurreição e sermos neste tempo um grande sinal de esperança. O sofrimento não é eterno: é passageiro.
O silêncio deste Sábado Santo, que nos convida à oração, nos ajuda a compreender que morreremos um dia, mas ressuscitaremos para a vida eterna, do mesmo modo que Jesus ressuscitou. Pela fé, compreendemos que a morte não é o fim, mas o começo. Não é um silêncio de luto, mas um silêncio orante e de confiança na vida eterna. Por meio do silêncio, conseguimos respostas para o momento que estamos vivendo.
Em termos litúrgicos, o Sábado Santo vai até as 18h, quando, em algumas comunidades, já se começa a celebrar a solene Vigília Pascal. Segundo as rubricas litúrgicas, a Vigília Pascal deve ser celebrada ao anoitecer, após o pôr do sol, pois o Senhor ressuscitou na madrugada do domingo. Após as 18h, já podemos entoar o tão esperado “Aleluia”.
Preparemo-nos ao longo deste Sábado Santo por meio do jejum e da oração silenciosa para a grande Vigília Pascal que celebraremos logo mais à noite. Tenhamos a certeza de que, durante o dia, o Senhor está no sepulcro, mas à noite Ele o deixará vazio. Lembremo-nos de que este dia ainda não é tempo de festa, comemorações ou trabalho. O Sábado Santo ainda é dia de recolhimento e oração. Aproveitemos para rezar pelo nosso país e pelo mundo, que tanto precisam de oração. Rezemos pelo Papa Francisco, pelos bispos, padres e diáconos, e pela paz mundial.