O valor do Matrimônio

    Neste mês vocacional, a partir do Dia dos Pais, a Igreja no Brasil realiza a Semana Nacional da Família. Recordamos neste ano a importância da espiritualidade para firmar a vida conjugal.
    Deus criou o homem e a mulher, com suas diferenças, e os colocou no centro da criação. Criou-os por amor e para o amor. O amor é, portanto, a fundamental e originária vocação do ser humano. Deus ama incondicionalmente cada ser humano e quer levá-lo à plena realização do seu plano de amor. O matrimônio é uma das possibilidades de realização e felicidade do ser humano.
    Homem e mulher, mediante o sacramento do matrimônio, são chamados a viver a íntima comunhão de vida e de amor conjugal na totalidade do corpo e do espírito. É o que nós chamamos de amor conjugal cristão. Entretanto, precisamos entender o verdadeiro sentido do amor, tão deturpado hoje, sobretudo pelas ideologias que querem relativizar a sacralidade matrimonial! Eis o significado do amor cristão: Querer bem, sem querer nada do outro.
    O amor cristão é gratuidade e doação! Amar é fazer o outro feliz! A ferramenta da Igreja para auxiliar no discernimento matrimonial dos noivos é o encontro de preparação para o casamento (popularmente conhecido por “cursos de noivos”), o qual tem como objetivo: sensibilizar os noivos para optarem livre e conscientemente pelo sacramento do matrimônio, baseados no verdadeiro amor conjugal cristão. É claro que essa preparação próxima supõe uma vida cristã anterior, com um aprofundamento da fé que torne a vida um testemunho de Cristo Ressuscitado. Precisamos sempre olhar a família dentro do projeto original de Deus. O matrimônio é sacramento porque é um sinal visível da aliança entre Deus e seu povo e de Cristo com sua Igreja. O Código de Direito Canônico oferece um conceito de matrimônio muito simples e útil: “A aliança matrimonial pela qual o homem e a mulher constituem entre si uma comunhão para a vida toda é ordenada por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à geração e educação da prole, foi elevada, os batizados, à dignidade de sacramento”.
    O Cristo Senhor veio para estabelecer uma nova aliança entre Deus e a humanidade toda, congregada num novo povo, que é a Igreja. Nesta aliança, que é nova e definitiva, o esposo é o Cristo e a esposa é a Igreja. Esta aliança é selada no Espírito Santo, simbolizado pelo vinho novo! Assim, podemos compreender por que o primeiro sinal de Jesus foi numa festa de núpcias em Caná da Galileia (Jo 2,1-12). As núpcias de Caná são imagens das núpcias do Cristo com sua Igreja, as núpcias do Cordeiro, de que fala o Apocalipse (Ap 19,7). João não diz o nome do noivo nem o da noiva em Caná… O noivo é o próprio Cristo, a noiva é a Igreja, simbolizada pela Virgem Maria, a Filha de Sião; o vinho novo e bom é o Espírito que sela a nova e eterna aliança. É por isso também que Jesus contou parábolas sobre o banquete de casamento (Mt 22,1-14), falou das virgens que esperam o noivo (Mt 25,1-13), falou em sentar-se à mesa do banquete com Abraão, Isaac e Jacó (Mt 8,11s), e João Batista afirmou claramente que Jesus é o Esposo que vem desposar Israel (e o novo Israel, que é a Igreja)(Jo 3,29). Então, Cristo é o Esposo e a Igreja, a Esposa, numa aliança de amor eterno. Por isso mesmo, o matrimônio entre um cristão e uma cristã, entre dois batizados, é um sacramento, isto é, é um sinal real e eficaz da graça de Cristo: o esposo cristão é, no seu amor, imagem viva do amor do Cristo-Esposo pela Igreja-Esposa e a esposa cristã é, no seu amor, imagem do amor da Igreja-Esposa pelo seu Cristo Jesus. É o que São Paulo afirma de modo belíssimo na Carta aos Efésios: “Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela” … (5,21ss)
    Através do sacramento do matrimônio, o casal organiza a família como Deus quer e espera dos seus filhos.  A família cristã, no plano de Deus, é chamada a ser:
    1-Uma comunidade de amor, que se caracteriza pela unidade e comunhão, porque  todo ser humano quer amar e ser amado. A família é escola e espaço para a experiência do verdadeiro amor que faz a alegria, a felicidade e harmonia da família.
    2-Santuário da vida: a família é a serva e protetora da vida, já que o direito à vida é a base de todos os direitos. Este serviço não se reduz só à procriação. Porém, é antes de tudo um auxílio eficaz para transmitir os valores autenticamente humanos e cristãos. É o que nos lembrou a Semana Nacional da Família de 2010, cujo tema foi: “Família, formadora de valores humanos e cristãos”.
    3-Célula mãe da sociedade: a família é escola das virtudes humanas e sociais. É no seio da família cristã que se formam os bons e honestos cidadãos para a sociedade. “Famílias, educai vossos filhos, para que não seja necessário punir os adultos”.
    4-Igreja doméstica: a família é o lugar onde se acolhe, vive, celebra e anuncia a palavra de Deus. É onde os filhos aprendem o sentido da fé, de Jesus Cristo e do amor a Deus.
    A meta do casal cristão é a santificação no matrimônio, santificar-se no matrimônio e santificar os outros pelo matrimônio. Recordemos o que disse São João Paulo ll: “Os dois bens mais preciosos da humanidade chamam-se: Família e Matrimônio. Por isso, o futuro da humanidade passa pela família”. Não tenhamos, pois, medo de constituir uma família sacramental e se abrir para a fecundidade. Que nossos jovens valorizem e se preparem bem para o matrimônio e tenham, na alegria à Igreja e ao mundo, filhos cristãos que transformarão o mundo como fermento no meio da massa.
    Celebremos com alegria a Semana da Família, quando todas as pastorais, movimentos, espiritualidades, grupos familiares se colocam a serviço da sociedade, testemunhando e anunciando os caminhos queridos por Deus para nossa sociedade.