O servo e os talentos

    Estamos no trigésimo terceiro domingo do tempo comum. Este domingo é o penúltimo do ano litúrgico. Este domingo também celebramos o 4º. Dia Mundial de Oração pelos pobres. A intitulação deste dia foi feita pelo Papa Francisco, pois, ele pede a todos que voltemos o nosso coração e o nosso olhar aqueles que mais necessitam. É o dia da proclamação da república que coincide com as eleições municipais em nosso país.

              Na primeira Leitura –  Pr 31,10-13.19-20.30-31 –  a liturgia traz à tona, no fim do ano litúrgico, um trecho que exalta a virtude da “prudência”, da solicitude e previdência, demonstrada por uma mulher de muito valor. Isso, porque o fim do ano litúrgico, salienta a expectativa da vinda do Senhor, nos quer exortar a exercitar estas virtudes. E, de fato, a prudência ou previdência é uma das virtudes mais louvadas na Sagrada Escritura. Este hino à mulher de valor figura, pois, como conclusão de um livro que fala diversas vezes de mulheres. No Capítulo 31, 10-31, a figura da mulher, não é mais como personificação poética da Sabedoria, mas como uma dona de casa judia que realiza concretamente os conselhos que a Dona Sabedoria dos primeiros capítulos dá. É a Dona Sabedoria em forma plena.

              Na segunda leitura – 1 Ts 5, 1-6 – São Paulo vem exortar a todos os filhos da luz, que tenham uma atitude vigilante, ou seja, assim como o ladrão entra em nossas casas e não sabemos a hora. Assim também será a segunda vinda do Senhor. Para isso, o cristão deve-se preparar a cada dia e a cada momento. Não durmamos, como os outros, mas sejamos vigilantes e sóbrios.

            No Evangelho – Mt 25, 14-30 –  Jesus conta a parábola dos talentos: um homem que, partindo de viagem para o estrangeiro, chamou os seus próprios servos e entregou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois, a outro um. A cada um, de acordo com a sua capacidade. Depois de muito tempo ele voltou e pôs-se a ajustar as contas com eles. Elogiou e recompensou os que fizeram render os talentos a eles confiados e repreendeu e castigou o que não fez render o único talento recebido.

            O significado da parábola é claro. Nós somos os servos; os talentos são as condições com que Deus dotou cada um de nós (a inteligência, a capacidade de amar, de fazer os outros felizes, os bens temporais…); o tempo que dura a ausência do patrão é a vida; o regresso inesperado, a morte; a prestação de contas, o juízo; entrar no gozo de Senhor, o Céu. Não somos donos, mas administradores de uns bens dos quais teremos de prestar contas.

            Na parábola, parábola o Senhor ensina-nos especialmente a necessidade de corresponder à graça de maneira esforçada, exigente e constante durante toda a vida. Importa fazer render todos os dons que recebemos do Senhor. O importante não é o número, mas a generosidade para fazê-los frutificar.

          O último servo, revela-nos como é que o homem se comporta quando não vive uma fidelidade ativa em relação a Deus. Prevalecem o medo, a auto estima, a afirmação do egoísmo que procura justificar a sua conduta com as injustas pretensões do seu senhor que deseja colher onde não semeou. “Servo mau e preguiçoso”, é como o Senhor o chama ao ouvir as suas desculpas. Esqueceu uma verdade essencial: que o homem foi criado para conhecer, amar e servir a Deus neste mundo e assim merecer a vida com o próprio Deus para sempre no Céu.

            Através desta parábola, o Evangelista São Mateus nos exorta a estarmos alertas e vigilantes. Não podemos esquecer os compromissos assumidos com o Cristo Senhor. O cristão não pode deixar na gaveta os dons recebidos de Deus. No mundo, somos as testemunhas de Cristo. É com o nosso coração que Jesus continua a amar os pecadores do nosso tempo; é com as nossas palavras que Jesus continua a consolar os que estão tristes e desanimados; é com os nossos braços abertos que Jesus continua a acolher cada irmão que está sozinho e abandonado.

    O Papa Francisco neste dia mundial dos pobres insiste que sejamos generosos, como diz a sua mensagem: “Estende a tua mão ao pobre” (Sir 7, 32): a sabedoria antiga dispôs estas palavras como um código sacro que se deve seguir na vida. Hoje ressoam com toda a densidade do seu significado para nos ajudar, também a nós, a concentrar o olhar no essencial e superar as barreiras da indiferença. A pobreza assume sempre rostos diferentes, que exigem atenção a cada condição particular: em cada uma destas, podemos encontrar o Senhor Jesus, que revelou estar presente nos seus irmãos mais frágeis (cf. Mt 25, 40) http://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/poveri/documents/papa-francesco_20200613_messaggio-iv-giornatamondiale-poveri-2020.html, último acesso em 07 de novembro de 2020. O pobre da Bíblia vive com a certeza que Deus intervém a seu favor para lhe restituir a dignidade. A pobreza não é procurada, mas é criada pelo egoísmo, pela soberba, pela avidez e pela injustiça. Males tão antigos como o homem, mas mesmo assim continuam a ser pecados que implicam tantos inocentes, conduzindo a consequências sociais dramáticas. A ação com a qual o Senhor liberta é um ato de salvação para com os que Lhe apresentaram a sua tristeza e angústia. As amarras da pobreza são quebradas pelo poder da intervenção de Deus.

    Estejamos atentos e sempre vigilantes, pois, o Senhor virá e ele não tardará. Que esta liturgia toque o nosso coração para assim vivermos como verdadeiros sentinelas. Sentinelas do Senhor, com o Senhor e no Senhor.

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