“O que discutíeis pelo caminho?”

                Jesus e seus discípulos estão atravessando a Galileia em direção a Jerusalém (Marcos 9,30-37). Enquanto caminham Jesus ensina, algumas coisas os discípulos compreendem e outras não. Eles têm dúvidas, mas, por medo, não perguntam. Jesus atento ao que acontecia pergunta: “O que discutíeis pelo caminho?” Os apóstolos optaram em “ficar calados”. O debate se desenrolava sobre “quem era o maior”. Um silêncio inquietante diante de um assunto importante e delicado.

                Cotidianamente, em todos os ambientes da sociedade, nas instituições e nos grupos vive-se esta tensão: ser o maior, estar em primeiro lugar, vencer as competições, os concursos. Sem dúvida isto dá uma dinâmica na vida, proporciona o progresso, estimula a superação de limitações. Há um incentivo para vencer e premiações para os vencedores.

                Os discípulos optaram em ficar calados para não exporem o que pensavam sobre o tema “quem era o maior”. Se a sociedade se move, em boa parte, nesta lógica, não seria justo questionar o que se “entende por quem é maior”, “por primeiro lugar”, “por vencedor”. A prática cotidiana é esta, mas se teria disponibilidade para fazer um diálogo aberto sobre o tema para revelar o que se passa no pensamento e no coração. Todos os argumentos são válidos, legítimos e éticos para definir o que é maior, menor, vencedor, derrotado?

                Diante de discussão “quem era o maior” Jesus não fugiu do debate e nem se calou. Manifestou abertamente seu pensamento. Fez isto com os discípulos, portanto com os que estavam mais perto dele. Tratar temas delicados com pessoas próximas não se constitui uma tarefa simples. Se opta por silêncios para esconder problemas graves, porém como consequência cria-se um ambiente artificial.

                A Carta de São Tiago (3,16-4,3), da liturgia dominical, ilumina o tema em pauta. Tiago intrigado com os conflitos e rivalidades escreve se perguntando e afirmando. “Onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e toda espécie de obras más. (…) De onde vem as guerras? De onde vêm as brigas entre vós? Não vêm, justamente, das paixões que estão em conflito dentro de vós? Cobiçais e não conseguis ter. Matais e cultivais inveja, mas não conseguis êxito. Brigais e fazeis guerra, mas não conseguis possuir”. Os questionamentos de São Tiago se direcionam em direção das motivações profundas e não expressas das ações. Não temos aí algumas das motivações para a busca de “ser o maior?”

                O discípulo de Cristo não tem outra alternativa a não ser abrir mão do seu modo de pensar, de deixar de usar as suas medidas, a sua lógica para acatar o ensinamento do Mestre. Com paciência Jesus explica a sua lógica do amor que se faz serviço até à entrega de si mesmo: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” Ainda cria um fato para tornar mais compreensível seu raciocínio. Introduz no meio grupo um estranho, uma criança. Reforça neste fato que “ser o primeiro”, “o maior” é incluir. Quem exclui, marginaliza não merece o reconhecimento de maior.

                São Tiago recomenda acolher este modo de pensar de Jesus, isto é sabedoria. “Por outra parte, a sabedoria que vem do alto é, antes de tudo, pura, depois pacífica, modesta, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem fingimento. O fruto da justiça é semeado na paz, para aqueles que promovem a paz”.

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