O Papa: uma política que ignora os pobres nunca pode promover o bem comum

“Para a Igreja, é impossível separar a promoção da justiça social do reconhecimento dos valores e da cultura do povo, incluindo os valores espirituais que são a fonte de seu sentido de dignidade”, afirma o Papa na videomensagem endereçada aos participantes da Conferência Internacional “Uma política arraigada no povo”, em andamento, em Londres, na Inglaterra.

Mariangela Jaguraba – Vatican News

Foi divulgada, nesta quinta-feira (15/04), a mensagem de vídeo do Papa Francisco aos participantes da Conferência Internacional “Uma política arraigada no povo”, em andamento, em Londres, na Inglaterra.

Promovida pelo Centro de Teologia e Comunidade em Londres, a iniciativa aborda os temas tratados no livro do Papa Francisco, Sonhemos Juntos, especialmente no que diz respeito aos movimentos populares e organizações que os apoiam.

Terra, teto e trabalho

Na videomensagem, Francisco sauda a Campanha Católica para o Desenvolvimento Humano que celebra 50 anos, ajudando as comunidades pobres nos Estados Unidos a fim de que possam viver com mais dignidade, promovendo sua participação nas decisões que as afetam.

Nesta dimensão trabalham também outras organizações aqui presentes, do Reino Unido, da Alemanha e outros países, cuja missão é acompanhar o povo na luta pela terra, teto e trabalho, os famosos três “T”, e permanecer ao seu lado quando se deparam com atitudes de oposição e desprezo. A pobreza e a exclusão do mercado de trabalho que resultam desta pandemia que estamos vivendo, tornam o seu trabalho e testemunho muito mais urgentes e necessários.

O Papa ressalta que “um dos objetivos do encontro é mostrar que a verdadeira resposta ao aumento do populismo não é mais individualismo, mas o contrário: uma política de fraternidade, arraigada na vida do povo. Em seu livro recente, o reverendo Angus Ritchie descreve essa política que vocês chamam de “populismo inclusivo”. Gosto de usar “popularismo” para expressar a mesma ideia. Mas o que importa não é o nome, mas a visão, que é a mesma: trata-se de encontrar mecanismos que garantam a todas as pessoas uma vida digna de ser chamada de humana, uma vida que seja capaz de cultivar a virtude e forjar novos vínculos”.

Política como serviço

Em Sonhemos Juntos, Francisco chama “esta política de “Política com letra maiúscula”, política como serviço, que abre novos caminhos para o povo se organizar e se expressar. É uma política não só para o povo, mas com o povo, arraigada em suas comunidades e em seus valores. Em vez disso, os populismos seguem como inspiração, consciente ou inconscientemente, outro lema: “Tudo para o povo, nada com o povo”, paternalismo político. Assim, na visão populista, o povo não é o protagonista de seu destino, mas acaba sendo devedor de uma ideologia”.

Quando o povo é descartado, fica privado não só do bem-estar material, mas também da dignidade de agir, de ser protagonista de sua história, de seu destino, de se expressar com seus valores e sua cultura, sua criatividade, sua fecundidade. Portanto, para a Igreja, é impossível separar a promoção da justiça social do reconhecimento dos valores e da cultura do povo, incluindo os valores espirituais que são a fonte de seu sentido de dignidade. Nas comunidades cristãs, estes valores nascem do encontro com Jesus Cristo, que incansavelmente busca quem está desanimado ou perdido, que vai até dos limites da existência, para ser o rosto e a presença de Deus, para ser “Deus conosco”.

“Muitos de vocês aqui reunidos trabalham há anos fazendo isso nas periferias e acompanhando os movimentos populares. Às vezes, pode ser incômodo. Alguns acusam vocês de serem muito políticos, outros de querer impor a religião. Mas vocês percebem que respeitar o povo é respeitar suas instituições, inclusive as religiosas; e que o papel dessas instituições não é impor nada, mas caminhar com o povo, lembrando-as a face de Deus que está sempre à nossa frente”, disse Francisco.

A Igreja nasceu na periferia da Cruz

Em Sonhemos Juntos, o Papa fala sobre o desejo de que todas as dioceses do mundo tenham uma colaboração forte com os movimentos populares. Sair ao encontro de Cristo ferido e ressuscitado nas comunidades mais pobres permite-nos recuperar o nosso vigor missionário, porque assim nasceu a Igreja, na periferia da Cruz“.

O Papa recorda que “uma política que ignora os pobres nunca pode promover o bem comum. Uma política que ignora as periferias nunca será capaz de entender o centro e confundirá o futuro com a projeção através de um espelho. Uma maneira de desconsiderar os pobres é desprezar sua cultura, seus valores espirituais e seus valores religiosos, descartando-os ou explorando-os para fins de poder. O desprezo pela cultura popular é o início do abuso de poder. O reconhecimento da importância da espiritualidade na vida do povo regenera a política. Por isso, é imprescindível que as comunidades de fé se encontrem, confraternizem e trabalhem “para e com o povo”. Com meu irmão, o Grão Imame Ahmad Al-Tayyeb, “assumimos” a cultura do diálogo como caminho, a colaboração comum como conduta e o conhecimento recíproco como método e critério. Sempre a serviço dos povos”.

“Queridos amigos, devemos construir um futuro partindo de baixo, a partir de uma política com o povo, arraigada no povo. Que sua conferência ajude a iluminar o caminho”, conclui.

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