Mariangela Jaguraba – Cidade do Vaticano
O Papa Francisco recebeu na Sala Regia, no Vaticano, nesta sexta-feira (31/01), os participantes do primeiro Congresso Internacional da Pastoral dos Idosos sobre o tema “A riqueza dos anos”.
A conferência, promovida pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, focalizou a atenção na Pastoral dos Idosos e iniciou uma reflexão sobre a presença substancial de avós nas paróquias e sociedades.
“A riqueza dos anos é riqueza das pessoas, de cada pessoa que tem muitos anos de vida, experiência e história. É o tesouro precioso que toma forma no percurso da vida de cada homem e mulher, qualquer que seja a sua origem, sua proveniência, suas condições econômicas ou sociais. A vida é um dom, e quando é longa é um privilégio, para si e para os outros”, disse o Papa em seu discurso.
Apreciar o valor da velhice
“No século XXI, a velhice tornou-se um dos traços marcantes da humanidade. Em poucas décadas, a pirâmide demográfica, que se referia a um grande número de crianças e jovens e tinha no ápice poucos idosos, foi invertida. Se tempos atrás os idosos povoavam um pequeno estado, hoje enchem um continente inteiro.”
“Além disso, a velhice hoje corresponde a estações diferentes da vida: para alguns é a idade em que cessa o compromisso de produzir, as forças declinam e aparecem os sinais de doença, da necessidade de ajuda e o isolamento social, para outros é o início de um longo período de bem-estar psicofísico e liberdade das obrigações de trabalho.”
“Nas duas situações, como viver esses anos? Que sentido dar a essa fase da vida, que para muitos pode ser longa?”, perguntou Francisco.
“Se de um lado os Estados enfrentam a nova situação demográfica no plano econômico, de outro, a sociedade civil precisa de valores e significados para a terceira e a quarta idade. Aqui, a comunidade eclesial pode dar a sua contribuição.”
Francisco pediu para que esse congresso “não se torne uma iniciativa isolada, mas que seja o início de um caminho de aprofundamento pastoral e de discernimento. Devemos mudar os nossos hábitos pastorais a fim de responder à presença de muitas pessoas idosas nas famílias e comunidades”.
A longevidade é uma bênção
A seguir, o Papa disse que a “longevidade na Bíblia é uma bênção” que nos ajuda “a confrontar-nos com a nossa fragilidade, com a dependência recíproca, com os nossos lações familiares e comunitários, mas sobretudo com a nossa filiação divina. Concedendo a velhice, Deus doa tempo para aprofundar o nosso conhecimento sobre Ele, a intimidade com Ele a fim de entrar sempre mais em seu coração e abandonar-se a Ele”. Ao mesmo tempo, a velhice “é um tempo de fecundidade renovada. O plano de salvação de Deus também se realiza na pobreza dos corpos frágeis, estéreis e sem força. Do ventre estéril de Sara e do corpo centenário de Abraão nasceu o Povo eleito. De Isabel e do velho Zacarias nasceu João Batista. O idoso, mesmo quando é fraco, pode ser um instrumento da história da salvação”.
Consciente desse papel insubstituível das pessoas idosas, “a Igreja torna-se o lugar em que as gerações são chamadas a partilhar o projeto de amor de Deus, numa relação de troca recíproca dos dons do Espírito Santo. Essa partilha entre gerações nos obriga a mudar o nosso olhar em relação aos idosos a fim de aprender a olhar o futuro junto com eles”.
Os idosos são o hoje e o amanhã da Igreja
“Os idosos são o hoje e o amanhã da Igreja. Sim, eles são também o futuro de uma Igreja que, junto com os jovens, profetiza e sonha. Por isso, é importante que idosos e jovens conversem entre si. É muito importante”.
Segundo o Papa, “a profecia dos idosos se realiza quando a luz do Evangelho entre plenamente em suas vidas, quando, como Simeão e Ana, pegam Jesus nos braços e anunciam a ‘revolução da ternura’, a Boa Nova Daquele que trouxe ao mundo a luz do Pai.”
A velhice não é uma doença, mas um privilégio
Francisco convidou todos a ir “ao encontro dos idosos com o sorriso no rosto e o Evangelho nas mãos”. A sair pelas ruas das paróquias, procurando os idosos que vivem sozinhos. “A velhice não é uma doença, mas um privilégio! A solidão pode ser uma doença que pode ser curada com a caridade, a proximidade e o conforto espiritual”.
“Devemos nos acostumar a incluí-los em nossos horizontes pastorais e a considerá-los como uma das componentes vitais de nossas comunidades. Eles não são apenas pessoas que somos chamados a ajudar e a proteger, mas podem ser protagonistas de uma pastoral evangelizadora, testemunhas privilegiadas do amor fiel de Deus”, concluiu o Papa.