O NOSSO SEGREDO

                O mundo agnóstico nos olha com cautela e respeito. Para quem declaradamente se diz cristão ou pelo menos se porta como tal, há reservas no meio em que passa ou atua. Percebe-se claramente um clima de estranheza e ou admiração por parte de muitos. Como assim, manter-se crédulo ou mesmo fiel a ensinamentos e crenças que não mais fazem sentido neste mundo prático, real, objetivo? É possível uma vida de fé, de oração com o desconhecido, de obediência a uma doutrina milenar, com raízes num passado pobre, inseguro, sem os conhecimentos e a visão realista que hoje pensamos ter?  É possível acreditar num Deus que se fez homem e num homem que se diz (ou se dizia) Filho de Deus? “Eu te louvo, ó Pai… porque escondeste estas coisas aos sábios e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11, 25). Eis nosso segredo, o mistério que mantem a fé cristã viva e atuante em meio à incredulidade do mundo moderno. Eis a nossa fé!

                A resposta que o mundo busca não está na lógica ou na sequência prática das teorias que a ciência desvenda com objetividade, racionalidade, pingo nos is… Todo mistério exige respeito. Todo segredo tem um portador capaz de o desvendar ou torna-lo público um dia. Foi essa a missão do Cristo no mundo: revelar aos homens os segredos de Deus. “Ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”. Esse privilégio da revelação está relacionado ao privilégio da escolha. Ou seja, os mistérios da fé não se manifestam a qualquer um, mas somente àqueles que foram eleitos na predileção de Deus, aqueles amados e escolhidos por Ele para manifestarem no mundo essa experiência de amor pleno e perfeito. Mesmo sob o jugo da incompreensão, da intolerância, das críticas e ironias contra uma prática de fé, “os pesos dos vossos fardos”, a pessoa que acredita não se deixa abater diante das provações. Aliás, exatamente nesses momentos é que a fortaleza se torna seu dom maior, capaz de superar barreiras, vencer as montanhas do ceticismo, testemunhar com alegria a força interior que move a vida dos que acreditam. Essa é a energia dos santos e mártires, aqueles que foram além da lógica de suas existências e deram a vida em defesa da própria fé. A mansidão, a humildade, a simplicidade, a serenidade, a pureza de seus corações e a alegria de suas almas foram os valores primários que melhor exemplificaram e justificaram suas vidas.

                “Não há maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos”, diria a respeito o próprio Mestre.  Se a doutrina deixada por Ele foi fiel até no aspecto de sua paixão e morte, a aparente porta estreita da fé cristã é uma ilusão de ótica do comodismo e bem-estar que a vida sem regras faz crescer no coração dos acomodados. E dos incomodados também. Antes de se imaginar o que seja uma prática coerente dessa fé que desaloja, que pede renúncias e sacrifícios, que exige solidariedade, que busca a fraternidade a todo custo, que prega a igualdade de deveres e direitos; antes mesmo de aceita-la como prática benfazeja e perfeita, necessário se faz “renunciar-se a si mesmo e tomar sua cruz”. Ou seja, assumir que nesta vida nada somos, nada temos de permanente senão as promessas de uma vida nova, um novo mundo não agora, não aqui, mas do outro lado dessa história. O seguimento de Cristo vai além dessa realidade contrária à sua pregação de paz e amor perenes. O um mundo é sarcástico, irônico. Mostra-nos exatamente o contrário daquilo que a fé cristã nos prometeu (Um jugo suave e um fardo leve), mas esquece de deixar claro a realidade de outro mundo à nossa espera. Tão real quanto. Tão sublime e perfeito que as dores, incompreensões, injustiças e todo e qualquer tipo de mazela contra a fé cristã nada significam, em nada diminui a força do nosso testemunho.

                “Vem e segue-me” ou “vinde a mim” é nosso chamamento constante. Cristo é quem chama. E o mundo nos espera, para melhor explicação do nosso segredo. Não há o que temer diante dos desafios contra nossa fé. Ao contrário: quando estes cruzam nosso caminho é que nos tornamos fortes, capazes de provar a nós mesmos que a fé que nos move vence realmente qualquer montanha. “Porque quando estou fraco é que me torno forte”, diria um dia o apóstolo perseguido. Esse é nosso segredo!

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