O MESTRE DE SI PRÓPRIO

                O maior educador do mundo não cursou nenhuma faculdade. Seu ministério durou apenas três anos, mas sua doutrina atravessa milênios e produziu o maior acervo humano de estudos e considerações sobre o que ensinou com divina maestria. É claro, nos referimos ao detentor de toda Sabedoria, o Mestre dos mestres, Jesus de Nazaré.  Todo educador tem uma característica especial no ofício de ensinar. Seja no aspecto da abordagem, no tom da voz, na postura física, nos meios que usa ou mesmo no olhar, cada mestre utiliza-se de seus carismas para cativar a atenção de seus ouvintes e lhes transmitir novas lições, conceitos, ideias. É o segredo da pedagogia autêntica: cativar primeiro, transmitir depois.

                Teria Jesus algumas dessas artimanhas? Quando completou doze anos, procurou os professores da época, os doutores da Lei. Foi ensinar aos mestres. Dizem os Evangelhos que aquela criança especial ensinou mais do que buscou aprender. A idade não era impedimento para manifestar a Sabedoria de que era detentor. Tranquilamente, sem alarde, sem presunção, o menino se pôs entre os doutores, “ouvindo-os e interrogando-os”. Pôs se à escuta, para conhecer o terreno. Algumas perguntas, como quem nada quer, possibilitaram-lhe avaliar melhor aqueles que se arvoravam em conhecedores da doutrina, senhores da Lei de Moisés, guardiões da conduta e da moral do povo de Deus. Mas o menino se dava a conhecer aos poucos. Com uma observação aqui e um comentário ali, revelou-se paulatinamente, a ponto de todos se silenciarem para melhor atenção às suas palavras. “Todos os que o ouviam estavam maravilhados da sabedoria de suas respostas” (Lc 2,47). Fazia um preâmbulo para a mensagem que traria anos depois. Sua hora ainda não chegara! O menino Jesus “crescia em sabedoria e graça”, buscando os elementos básicos para aprimorar seus métodos de ensino, a mais perfeita das pedagogias da cultura humana.

                Aos trinta anos, “cheio de força do Espírito, voltou para a Galileia”, para oficializar seu ministério. “Ensinava nas sinagogas e era aclamado por todos”. Sua oratória possuía um timbre especial – não o dos grandes oradores – permeado pela simplicidade, sabedoria e a verdade límpida e cristalina de uma revelação de amor. Em Nazaré, onde se criou, ousou ler um trecho de Isaias (16) e o atribuiu como referência à sua pessoa. (O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu e enviou-me para anunciar…) Tranquilamente enrolou o livro e afirmou com simplicidade: “Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir” (Lc 4,21). Aqui começou a divisão. Aqui se plantou a discórdia dentre seus ouvintes. Poderia um simples filho de carpinteiro, conhecido de todos, arrogar para si tão sagrada missão?

                A possibilidade de sucesso na arte de ensino exige, muitas vezes, o uso de máscaras, falsetes, jogo de cintura e até flexibilização de alguns conceitos, quando se quer conquistar um discípulo. Muitos dos nossos mestres se vendem dessa forma. Ensinam o que o aluno quer e não o que sua matéria pontifica. São cautelosos com suas doutrinas, para não ferir conceitos e costumes enraizados na cultura do ouvinte. Medem seus passos, no intuito de cativar um mínimo de simpatia. São condescendentes com práticas, ideias ou comportamentos às vezes contrários às próprias convicções. Falseiam a verdade que conhecem. Temem críticas à matéria ou comentários contra suas pessoas.

                O Mestre dos mestres fez de sua doutrina um tesouro escondido, que se revela aos que o buscam com esforço pessoal. Não como aqueles que se inflam de sabedoria humana e facilmente se perdem dentro da prepotência do saber. O maior educador do mundo, apesar de detentor da sabedoria divina, aprendeu de sua paciência em observar a cultura humana. Soube, como ninguém, valorizar as lições de casa, atribuindo a si próprio toda sabedoria humana: “Eu sou o caminho, a verdade, a vida”…

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