O impacto nos EUA da visita do Papa ao México

Entrevistas sobre a repercussão da viagem pontifícia nos Estados Unidos, um país com uma elevada porcentagem de católicos de origem hispânica

A visita do Papa Francisco revoluciona o México e sua presença atrai multidões. É uma visita apostólica destinada a fortalecer a fé do povo, mas que não deixa de colocar o dedo nas diferentes feridas.

Nos Estados Unidos, onde os hispânicos representam quase 50 por cento dos católicos, a visita do Papa ao México está tendo um impacto importante. Entrevistamos quatro líderes da Igreja nos Estados Unidos perguntando-lhes as suas opiniões sobre a visita do Papa ao país vizinho e a relação da Igreja dos EUA com a América Latina.

O arcebispo Joseph Kurtz, presidente da Conferência Episcopal dos Estados Unidos disse que se sente muito solidário com os seus irmãos da América Latina, e que os bispos norte-americanos estão satisfeitos com o relacionamento com seus pares espanhóis, particularmente “somos fãs do Papa Francisco e temos prazer quando o nosso Santo Padre vem à América Latina”, e acrescentou: “Quero ter um coração latino”.

Sobre a relação da Igreja dos EUA com a América Latina o arcebispo Kurtz expressou que é muito singular, “dado que muitos dos católicos do meu país são latinos, a tal ponto que quando construímos pontes, o fazemos com os avós, com as famílias e com os seus filhos, cujos membros podem estar vivendo alguns em um país e outros em outro”.

E expressou, além do mais, a sua gratidão “com as irmãs, irmãos comprometidos, os sacerdotes e catequistas que vêm ao nosso país com a missão de servir a muitos, especialmente aos latinos”. Considerou também que existem muitos dons que as famílias latinas trazem aos EUA”.

Sobre a migração, o arcebispo Kurtz observou que “os bispos norte-americanos por muitas décadas estivemos na vanguarda da luta por uma reforma migratória integral”. E embora tenha dito que é necessária a segurança nas fronteiras, “nós queremos que se criem formas legais para que as pessoas possam vir aos EUA, de forma que as famílias separadas consigam reencontrar-se”.

O arcebispo norte-americano também disse que nesta quarta-feira, quando o Papa Francisco celebrar a sua última missa em solo mexicano, na Ciudad Juárez, ele estará na cidade vizinha de El Paso, com centenas de fieis que acompanharão a missa pela TV, dando assim uma demonstração de unidade dos povos, e da solidariedade de destinos entre ambos os lados, para a qual nos chama Jesus, através do Santo Padre.

A dra. Patricia Jimenez, líder nos EUA e Co-coodenadora da Equipe de Comunicações para o V Encontro Nacional de Pastoral Hispana, por sua vez, aprofundou o impacto da visita do Papa ao México de uma perspectiva comunicacional, especialmente graças às novas tecnologias.

“O povo hispano nos Estados Unidos acompanha a visita do Santo Padre no México por meio da programação da TV”, disse, embora “as gerações mais jovens e os que levamos adiante uma pastoral digital aproveitamos as novas tecnologias para ver vídeo ao vivo e divulgar pelas mídias sociais as nossas emoções, captar e compartilhar o que o povo mexicano está vivendo durante a sua visita”.

E concluiu dizendo que “tanto os mexico-norte-americanos, quanto os mexicanos, sentimos um grande orgulho ao poder ver o primeiro papa latino-americano celebrar na Basílica de Guadalupe e ao ver nossa bandeira mexicana sob a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe”.

“A visita do Papa Francisco ao México está sendo acompanhada com muita atenção por milhões de mexicanos que moram aqui nos Estados Unidos e por muitas outras pessoas de língua espanhola. Acompanhamos com atenção cada gesto e cada palavra do Santo Padre na sua visita à ‘casita de la madre’ e por extensão, a todo o seu povo”, disse a diretora executiva de Diversidade Cultural, da Conferência Episcopal dos EUA, Mar Muñoz-Visoso, ao ser entrevistada por ZENIT.

E observou como “o interesse das principais redes de televisão hispânicas nos Estados para dar uma ampla cobertura à visita indica o grande entusiasmo das pessoas em acompanha-lo daqui”. Além do mais “muitas centenas de milhares de pessoas estão seguindo tudo pelas redes sociais”.

Sobre a relação entre a Igreja do México e dos EUA, Muñoz-Visoso explicou: “O Santo Padre encorajou os bispos do México a fortalecer os laços com os bispos dos Estados Unidos e a fazer-se presente entre o seu povo que emigra para o norte. Os bispos de ambos os países levam anos colaborando em matéria de imigração, de atenção pastoral e social aos migrantes, em ambos os lados da fronteira”.

“Os bispos dos Estados Unidos, em um gesto de solidariedade – acrescentou Mar Munoz – quiseram estar presentes de maneira oficial em diferentes atos do Papa no México, como em outros atos solidários organizados pela diocese El Paso, Texas, do outro lado da fronteira com a Ciudad Juarez”.

Assim, “milhares de pessoas em El Paso estarão seguindo com atenção a missa na cidade Juarez retransmitida ao vivo a um estádio localizado neste lado da fronteira”. Pelo contrário, acrescentou, “outro grupo mais reduzido participará em um evento solidário em uma barragem ao longo do rio, pelo qual cruzam todos os dias muitos migrantes, colocando em risco as suas vidas, e muitas vezes, perdendo-as”.

“Também estarão lá em El Paso vários bispos, representantes da Conferência Episcopal dos EUA e de Catholic Relief Services, que realizam muitas tarefas de ajuda no México e toda a América Latina. Assim, poderão cumprimentar ao Santo Padre e os nossos irmãos mexicanos do outro lado da fronteira”, disse também a ativista.

Além disso, “em nome dos povos hispanos nos Estados Unidos, o Secretariado de Diversidade Cultural estará presente trazendo a Cruz dos Encontros que o Papa abençoou na Filadelfia, para estar com o Papa, com os nossos irmãos migrantes e com o povo mexicano. Porque para compartilhar a fé e para fazer o bem, não existem fronteiras”.

Por sua parte da Conferência Episcopal dos EUA, seu diretor para a Igreja na América Latina, o padre Juan Molina, em resposta ao impacto nos EUA da visita do Papa ao México, disse que “a visita do Papa nos EUA encorajou os hispânicos na fé católica e também na consciência de ser latinos nos EUA, para que vivam a sua fé, sintam-se incluídos neste país” e ao mesmo tempo “projetem-se a partir das suas próprias raízes, bem como na integração entre a Igreja em Roma, nos EUA e em toda a América Latina”.

Acrescentou que os bispos dos Estados Unidos estão muito felizes por esta viagem e por isso vários “viajaram para acompanha-lo e estar junto do povo latino que o recebe lá”.

Sobre as consequências previsíveis desta visita do Papa Francisco ao México, o padre Juan Molina disse: “Entendo que esta viagem é muito especial para a América Central e México. O Papa viajou para o sul, o centro e o norte, onde conclui com a visita à Ciudad Juárez, na fronteira norte. Acho que tudo isso tem muito significado, especialmente no que se refere à imigração, à problemática relacionada à indústria extrativa e o que se refere aos índios, motivo pelo qual foi ao sul do México”.

“Isso está ligado – acrescentou o sacerdote – à justiça social, mas como sempre também é essencial a animação da fé dos católicos, que é o trabalho do Santo Padre, como sucessor de Pedro”.

O encarregado pelas relações com a Igreja da América Latina recordou que aproximadamente o 83% dos mexicanos se consideram católicos. “Aqui temos também o testemunho da Virgem de Guadalupe. Ajudará a aprofundar bastante a fé. E ao falar dos temas sociais, podemos também ser conscientes da atração que continua exercendo o catolicismo, especialmente as constantes chamadas do Papa sobre a nossa responsabilidade social”. E concluiu: “Que além de ter uma profunda devoção por Jesus e Maria, também tenhamos preocupação e nos sintamos responsáveis pelo que acontece ao nosso redor, isso atrai muito”.

Fonte: Zenit

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