Cidade do Vaticano
Os restos mortais de Osman Cvrk, que em 11 de julho de 1995 tinha 16 anos, serão colocados em um pequeno caixão de lenha verde e enterrados no memorial do genocídio de Srebrênica, junto com outros 32 muçulmanos bósnios mortos no pior massacre da Europa desde a Segunda Guerra Mundial. No memorial já estão sepultadas 6.610 vítimas, mas segundo as autoridades internacionais na região de Srebrênica foram mortas 8.372 pessoas entre 11 e 16 de julho de 1995. Os crimes foram cometidos pelas milícias do exército sérvio bósnio guiadas pelo general Ratko Mladić, condenado em primeira instância à prisão perpétua por genocídio e crimes contra a humanidade pela Corte Internacional de Justiça das Nações Unidas (Corte de Haia) em novembro de 2017.
Depois de três anos de assédio, o massacre
Vinte e quatro anos atrás as tropas do general Mladić entraram na cidadezinha de Srêbrenica, que estava sob assédio há três anos e tinha sido decretada em maio de 1993 como “área protegida” pela ONU com a proteção dos Capacetes Azuis. Na cidade estavam refugiados os bósnios muçulmanos que tinham fugido dos vilarejos da região. Havia 40 mil pessoas, porque Srebrênica era o maior centro muçulmano de uma região com a maioria sérvia. Naquele dia cerca de 25 mil tinham se dirigido a Potocari, buscando refúgio na base dos capacetes azuis holandeses, mas os homens de Mladic já tinham começado o massacre. Reuniram todos os homens entre 15 e 65 anos, separando-os das mulheres, crianças e idosos.
Mulheres e crianças deportadas, homens assassinados
Mais de 23 mil foram deportados em ônibus e caminhões para a região de Tuzla na noite de 13 de julho. No mesmo dia os capacetes azuis holandeses obrigaram os refugiados a deixar a base. Entre 12 e 23 de julho uma parte dos homens e dos jovens fugiu para Tuzla atravessando a floresta, naquela que foi mais tarde chamada “a marcha da morte” porque foram mortos em emboscadas, devastados pelos bombardeios, por fim entregaram-se e foram presos. As primeiras execuções em massa começaram na tarde de 13 de julho com o fuzilamento de 150 muçulmanos em Cerska e se concluíram em 16 de julho, quando começaram as escavações das valas comuns. Depois de um mês e meio, militares e policiais sérvios bósnios, para ocultar as provas do massacre, desenterraram os corpos das vítimas e sepultaram em outra localidade da região.
As valas comuns encontradas graças aos sobreviventes
Valas comuns que puderam ser encontradas graças ao testemunho dos sobreviventes e documentos reunidos ao longo de dezenas de processos por crimes de guerra. Os processos foram realizados na Corte Internacional de Justiça das Nações Unidas (Corte de Haia) e também junto os Tribunais locais da região. Pelo genocídio de Srebrênica até agora foram condenadas por crimes de guerra 70 pessoas: 20 pela Corte de Haia e 50 pelo tribunal de Sarajevo. Treze condenados, entre os quais três comandantes militares sérvios e o chefe político dos sérvios bósnios Radovan Karadzic foram condenados a prisão perpétua.
Um genocídio para destruir na região a etnia bosníaca
Em 2007 a Corte de Haia estabeleceu que o massacre, por ter sido cometido com o objetivo de destruir o grupo étnico dos bosníacos (os muçulmanos bósnios), é considerado um “genocídio”. Em 21 de junho de 2017 a Corte de Apelo de Haia confirmou a sentença de primeira instância, ou seja, que o governo holandês é parcialmente responsável pela morte de 300 muçulmanos, porque os soldados holandeses obrigaram os refugiados que buscavam reparo na sua base a abandoná-la, entregando-os de fato aos carnífices, “privando-os da possibilidade de viver”.
As desculpas do parlamento de Belgrado e do presidente sérvio
Em 31 de março de 2010 o parlamento da Sérvia, com o então presidente Milosevic que sustentava e financiava o exército sérvio bósnio, aprovou , depois de quase 13 horas de discussão, uma resolução que condenava o massacre, sem defini-lo genocídio e pedia desculpas pelas vítimas. Em 25 de abril de 2013 o presidente sérvio Tomislav Nikolic, durante uma entrevista à emissora televisiva bósnia BHRT, ajoelhou-se pedindo perdão pelo massacre de Srebrênica.
Vítimas civis também nos vilarejos sérvios
Durante a guerra as tropas bosníacas (muçulmanos bósnios), guiados por Naser Orić, foram protagonistas de alguns ataques aos vilarejos sérvios nos arredores de Srebrênica. O Centro de Pesquisas e documentação de Sarajevo, centro de estudos independente com equipe de várias etnias, calculou, no município de Bratunac, 119 vítimas civis sérvio-bosníacas e 424 soldados.