O COMEDOR DE GAFANHOTOS

                Desde sempre, de quando em vez, Deus envia profetas ou santos para alertar seu povo. Mas, de todos os enviados até aqui, nenhum se compara à pessoa mística e curiosa do profeta João Batista, primo de Jesus. Figura realmente tosca e radical, com seus trajes que beiravam o ridículo (peles de animais e um cajado rude), com sua barba descuidada, seu olhar penetrante e sua voz possuidora do timbre de uma verdade cristalina, não era certamente uma pessoa que se aproximasse da normalidade e da sensatez das demais. Basta dizer que vivia no deserto e se alimentava de gafanhotos e mel silvestre. Porém, dentro dessa radicalidade existia uma voz. E essa voz atraia multidões! Possuía o imã de um alerta geral, a coerência que levava à conversão, ao batismo em novas águas!

                Só essa análise já nos prova a importância de sua missão: preparar o povo para um novo tempo, um caminho reto, certeiro, em direção ao Cristo que vem!. Endireitar, reconstruir as estradas, apresentar o cordeiro de Deus!

                Até aqui, a figura do Batista se nos assemelha à de um demente, um louco qualquer que grita em público seus sonhos e demências da alma, que foge das razões da lógica para apregoar uma verdade não tão cristalina. Eis que chega o Messias! Eis que o machado da devastação, a ira divina, já está a postos sobre as raízes das semeaduras humanas, essas árvores da insanidade que dominam muitos dos nossos campos! Chega a hora da Verdade. Chega o momento das mudanças necessárias, da conversão radical que dará espaço ao batismo de fogo que nos traz a fé cristalina do Cristo que passa. João apela ao bom senso da purificação, mas reconhece ser este o mínimo. É preciso também deixar-se consumir na radicalidade do fogo, na imersão de um Espírito novo que só Cristo pode oferecer. “Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3, 11). Só Ele tem o segredo da verdadeira fé, o “fogo que não se apaga”.

                Como vemos, o profetismo daquela voz a gritar no deserto ainda ecoa entre nós. Sua radicalidade ainda afeta nossos ouvidos e nos atrai com a mesma intensidade daquela época, pois que o mundo ainda não se deixou purificar na realidade de uma fé cristalina. Aqui reside o segredo do batismo de conversão. Nada superficial, porém estritamente transformador, radical. “Eu batizo com água, porém Ele batizará com fogo”. Equivale a dizer: “Eu purifico apenas o que nos contamina superficialmente, porém Ele abrasará nossos corações com a ardência de uma transformação interior, total, corpo e alma” …Penetrar nesse mistério é aceitar a verdadeira purificação que a fé cristã oferece ao mundo. É nessa atitude que reside a força de transformação derivada da fé cristã. Somos agentes de transformação do mundo. Somos, sim, vermes na insignificância de nossas fragilidades e pequenez, mas infinitamente mais poderosos no combate aos inimigos dessa fé.

                O comedor de gafanhotos encontrou forças na simplicidade de uma vida de contemplação e, com certeza, muita oração. Desde seu batismo no ventre materno, quando “pulou de alegria” ao sentir a presença de Jesus e Maria em sua “casa”, João Batista deixou-se conduzir pela vontade e planos divinos. Tornou-se o precursor, o preparador oficial da vinda do Messias. Reconheceu e apresentou ao povo o Cordeiro de Deus, aquele que “está com a pá na mão” para “limpar sua eira e recolher seu trigo no celeiro”. Sinta você também essa presença em sua vida. Pode pular de alegria, também!

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