O aprendiz do feiticeiro

    Poder e liderança são matérias de quem busca um bom governo. Na arte e na vida. Delas somos aprendizes. Sem liderança não há poder, mas sem poder pode haver liderança. Esta sutil atribuição ao desempenho de um líder nato é que identifica por primeiro as motivações e pretensões de qualquer liderança. Se a aspiração primeira de um líder for galgar o poder e nele se locupletar, cuidado! Fatalmente seus liderados serão conduzidos às mais cruéis desilusões. Mas se o guia de um povo usa de seu poder de liderança por amor e respeito, nunca por vaidade e interesses próprios, siga seus passos! Sua liderança é que lhe dá poderes. Do povo emanam suas forças.
    A diferenciação que aqui apresento nasce de uma releitura dos fatos políticos que tem abalado o mundo desde sempre. Em especial nos nossos dias. Escândalos e prisões políticas – causa e consequência da disparidade entre poder e liderança – não necessariamente é nossa motivação primeira. Contribuem, sim, mas numa esfera de cunho moral e pessoal, que usa o caráter do indivíduo, nunca dos liderados por ele. A contribuição popular – daqueles que se deixam seduzir, enganar por promessas utópicas – vem muito mais de sua ingenuidade e analfabetismo político, do que propriamente de sua cumplicidade. O que mais assusta é a ascensão de lideranças portadoras das mais abjetas tendências elitistas e preconceituosas, que chegam ao poder ovacionados por uma grande maioria de seguidores. A volta ao passado de segregações e valorização de castas, clubes fechados de elites, admissão da eficiência dos muros que dividem mais que as fronteiras já existentes, tipificação de direitos conforme a origem, a religião e não a competência, e não a prática de uma fé fraterna, igualitária… ah!, para onde iremos? Por que voltar por um caminho que o mundo bem conhece com suas dores e desilusões?
    Qualquer retrocesso num caminho de conquistas – em especial quando estas custaram o sangue de muitos – só gera decepção. Avalie muitos dos fatos recentes. No Brasil, quem outrora se ufanava de seus poderes para prender, soltar, condenar ou promover, fazer cumprir a lei ou ignorá-la a seu bel prazer, agora chora e esperneia ou protesta quando lhe oferecem remédio idêntico ou obrigam-no a ocupar cadeias que seu poder construiu. No mundo novas lideranças nascem das cinzas de um passado não tão distante, onde a intolerância do poder cego e a cegueira de lideranças oportunistas fizeram milhões de vítimas. No país que se diz exemplo maior da mais pura democracia, a diretora de uma instituição de caridade (ajuda a Idosos), deixa clara a ascensão desse sentimento de intolerância racial, que nos preocupa, ao publicar em uma rede social: “Será revigorante ter uma primeira-dama elegante, bonita e digna. Estou cansada de ver uma macaca de salto”. Referia-se à surpreendente eleição presidencial americana, que substituirá no poder um casal de negros por um casal de brancos, como se a cor da pele fizesse a diferença do poder americano sobre o mundo…, ou coisa assim!
    Abramos nossos olhos, mas também nossos corações. É hora de avançarmos, não regredirmos. Muito já conquistamos neste longo aprendizado de muitas lutas, de sonhos partilhados ao custo do sofrimento, da dor, da paixão e morte de líderes verdadeiros, imortais, heróis na arte de conduzir seu povo e delimitar seus poderes. A estes devemos o mundo melhor que ainda buscamos, mas que vislumbramos de antemão. Não podemos deixá-lo fugir de nossos sonhos, justamente agora, com tantos avanços contabilizados. Ei-lo, ali, na esquina onde a caridade cristã sabe respeitar a experiência dos antepassados. Liderar não é para quem quer, mas para quem pode. Ou seja: Deus capacita, elege e dá poderes. A nós compete a escolha, o caminhar. Nesta arte, o líder que se preza será um eterno aprendiz.

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