O Advento.

    A primeira antífona da celebração vespertina do primeiro domingo do Advento aparece como abertura do tempo do Advento e ressoa como antífona de todo o ano litúrgico: “Transmiti aos povos este anúncio: eis que vem Deus, o nosso Salvador”. Tenhamos consciência de que a liturgia não usa o passado – Deus veio – nem o futuro – Deus virá – mas o presente: “Deus vem”. Como podemos comprovar, trata-se de um presente contínuo, ou seja, uma ação que se realiza sempre: está a acontecer, acontece agora e acontecerá também no futuro. A todo o momento “Deus vem”.
    “O tempo do Advento possui dupla característica: sendo um tempo de preparação para as solenidades do Natal, em que se comemora a primeira visita do Filho de Deus entre os homens, é também um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da segunda vinda do Cristo no fim dos tempos. Por este duplo motivo, o tempo do Advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa”(NALC, n. 39).
    Deus conhece o coração do homem. Sabe que quem O rejeita não conheceu o seu verdadeiro rosto, e por isso não cessa de bater à nossa porta, como peregrino humilde em busca de acolhimento. O Senhor concede um novo tempo à humanidade: precisamente para que todos possam chegar a conhecê-lo!
    A minha, a nossa esperança é precedida pela expectativa que Deus cultiva a nosso respeito! Sim, Deus ama-nos e precisamente por isso espera que voltemos para Ele, que abramos o nosso coração ao seu amor, que coloquemos a nossa mão na sua e nos recordemos que somos seus filhos. Esta expectativa de Deus precede sempre a nossa esperança, exatamente como o seu amor nos alcança sempre primeiro.
    Com o querido e sempre presente Papa Bento XVI “reflitamos brevemente sobre o significado desta palavra, que pode traduzir-se com “presença”, “chegada” e “vinda”. Na linguagem do mundo antigo, era um termo técnico utilizado para indicar a chegada de um funcionário, a visita do rei ou do imperador a uma província. No entanto, podia indicar também a vinda da divindade, que sai do seu escondimento para se manifestar com poder, ou que é celebrada presente no culto. Os cristãos adoptaram a palavra “advento” para expressar a sua relação com Jesus Cristo: Jesus é o Rei, que entrou nesta pobre “província” denominada terra para visitar todos; na festa do seu advento faz participar quantos nele creem, aqueles que acreditam na sua presença na assembleia litúrgica. Substancialmente, com a palavra adventus desejava-se dizer: Deus está aqui, não se retirou do mundo, não nos deixou sozinhos. Embora não O possamos ver nem tocar, como acontece com as realidades sensíveis, Ele está aqui e vem visitar-nos de múltiplos modos.  Portanto, o significado da expressão “advento” inclui também o de visitatio que, simples e propriamente, quer dizer “visita”; neste caso, trata-se de uma visita de Deus: Ele entra na minha vida e quer dirigir-se a mim. Na existência quotidiana, todos nós vivemos a experiência de ter pouco tempo para o Senhor e pouco tempo também para nós. Terminamos por ser absorvidos pelo “fazer”. Não é porventura verdade que com frequência é precisamente a atividade que nos possui, a sociedade com os seus múltiplos interesses que monopoliza a nossa atenção? Não é talvez verdade que dedicamos muito tempo à diversão e a distrações de vários tipos? Às vezes, a realidade “arrebata-nos”. O Advento, este tempo litúrgico forte que estamos a começar, convida-nos a refletir silenciosamente para compreender uma presença. Trata-se de um convite a compreender que cada um dos acontecimentos do dia é um sinal que Deus nos faz, um vestígio da atenção que Ele tem por cada um de nós. Quantas vezes Deus nos faz sentir algo do seu amor! Manter, por assim dizer, um “diário interior” deste amor seria uma tarefa bonita e saudável para a nossa vida! O Advento convida-nos e estimula-nos a contemplar o Senhor que está presente. Não deveria porventura a certeza da sua presença ajudar-nos a ver o mundo com olhos diferentes? Não deveria acaso ajudar-nos a considerar toda a nossa existência como uma “visita”, um modo como Ele pode vir ter conosco e estar ao nosso lado em cada situação? ” (http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/homilies/2009/documents/hf_ben-xvi_hom_20091128_vespri-avvento.html, acessado pela última vez em 25 de novembro de 2017).
    Eu gostaria de elencar doze pontos centrais do que se vive no advento, e propor como reflexão para os próximos doze dias, a partir do Catecismo da Igreja Católica:
    1.    A preparação para a vinda de Cristo(CIC 522).
    2.    João Batista prepara o caminho(CIC 523).
    3.    A primeira e a segunda vinda de Cristo(CIC 524).
    4.    Tempo de expectativa, de luta e de vigília(CIC 672, 673).
    5.    Tempo de reconhecer o Cristo na história(CIC 674).
    6.    Esperar a quem se conhece e em quem se crê(CIC 840).
    7.    O sofrimento e a glória na espera da segunda vinda(CIC 556)
    8.    O Pai osso e a Eucaristia: a oração do tempo de paciência e de espera(CIC 2771, 2772).
    9.    “Marana Tha”, apressa, Senhor, a vinda do seu Reino!(CIC 2816, 2817).
    10.    No retorno do Cristo, a libertação de todo o mal(CIC 2853, 2854).
    11.    Maria, a obediência da fé(CIC 148, 149).
    12.    “Nada é impossível a Deus”(CIC 494).
    Qualquer espera deve ser iluminada pela fé e pelo amor, de quem sabe a quem aguarda. Para nós, os batizados, o sentido último da vida tem nome e é uma pessoa: Jesus Cristo, o filho de Deus. A vida toda é advento, porque no tempo de cada um o Cristo vem nos salvar. Nos ajude a viver esta espera salvadora a Virgem do Advento que nos aponta para o Redentor.

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