Nossa missão é libertar

    As notícias que nos chegam de países do oriente médio não são nada animadoras. Beiramos um precipício sem volta para a humanidade. O fanatismo (não digo religioso, mas cego) de alguns grupos radicais se volta contra toda e qualquer expressão de liberdade, de culto, de esperança e fé – em especial contra a fé cristã – como cães raivosos contra suas vítimas indefesas. As ameaças ultrapassam o mundo islâmico e batem às portas do mundo cristão com o crescente martiriológio de crianças, mulheres, jovens e líderes que representam o pensamento pacifista do jovem Galileu. Os modos que usam para exterminar de seus domínios a sombra da cruz que rejeitam são deveras assustadores: degolas, tiros à queima roupa, quebra dos maxilares de crianças – abertura violenta de suas bocas com a força das mãos – crucificações públicas, incêndio de muitas igrejas com seus fiéis aprisionados dentro, envenenamento, fuzilamento às centenas e assim por diante. A criatividade de seus atos de barbárie não tem limites. Até o papa já recebeu ameaças, que “podem se concretizar na praça de São Pedro, numa quarta feira espetacular”, diz um texto enviado ao Vaticano.
    Diante desse quadro, um ouvinte assustado comentou: “Mas o que estamos esperando? Temos que acabar com essa raça!” Já outro, por sinal sacerdote, remendou: “Não podemos. Nossa fé nos ensina a dar a vida e só ela poderá nos libertar plenamente”.
    Coincidentemente, o papa nos escreve mais uma vez uma exortação à perseverança, exaltando antes a necessidade de testemunharmos nossa fé com alegria… Sua mensagem para o Dia Mundial das Missões é mais uma apelo a não entregarmos os pontos diante das adversidades, pois a missão evangelizadora da Igreja não pode se acovardar diante dos muitos desafios, em especial os que aqui se colocam. Anunciar com alegria também se faz com a vida. Neste mistério banhado de sangue e dor é que a fé cristã se agiganta, como Cristo em sua cruz, para exercer sua missão maior, ou seja: libertar o gênero humano de suas amarras mais humilhantes, a escravidão demoníaca.
    O papa nos lembra que a missão – privilégio de Jesus – nos foi confiada e possibilitada por Ele próprio. Mandou seus discípulos ao mundo dos gentios “para anunciar a boa nova, a chegada do Reino”. Voltaram alegres, felizes mesmos, pois “até os demônios nos obedecem”… Recebem então a recompensa maior: “Vosso nome está escrito no Céu”. Aqui não se tratam de recompensas transitórias, materiais, de poder ou glória terrena, mas a maior de todas, a eternidade ao lado de Deus. Verdade que não se revela aos que estão prisioneiros das limitações de uma fé apequenada, circundada às imperfeições humanas, à cegueira e compreensão das verdadeiras promessas divinas. São a esses “pequeninos” que a Igreja se dirige. “Por isso, a humanidade tem grande necessidade de dessedentar-se na salvação trazida por Cristo. Os discípulos missionários, que se deixarem conquistar mais e mais pelo amor de Jesus e pela paixão pelo Reino de Deus, serão portadores da alegria do Evangelho”. – diz o papa. Por isso, a missão é para libertar, mesmo ao custo de aparentes derrotas. O sangue dos mártires ainda é a melhor das sementes da fé, da alegria e da esperança que professam com suas vidas. Conservemos nossa alegria e nossa fé por um mundo melhor. “Conservemo-nos firmemente apegados à nossa esperança, porque é fiel Aquele cuja promessa aguardamos” (Heb 10, 23). Porque a missão cristã, diferentemente dos ideais mundanos, não termina na fragilidade do corpo. Ao contrário, começou na glória de um corpo ressuscitado, que está “no meio de nós”.
    Não há o que temer. Antes, “não nos deixemos roubar a alegria da evangelização” – conclui o papa. Porque a verdadeira liberdade “vence o ódio, supera a cruz, em virtude do sangue de Jesus”. Essa é nossa esperança, nossa alegria!