Nos transfiguremos e sejamos santos e imaculados!

    No segundo Domingo da Quaresma, a Palavra de Deus define o caminho que o verdadeiro discípulo deve seguir para chegar à vida nova: é o caminho da escuta atenta de Deus e dos seus projetos, o caminho da obediência total e radical aos planos do Pai.

    O Evangelho (cf Mc 9,2-10) relata a transfiguração de Jesus. Recorrendo a elementos simbólicos do Antigo Testamento, o autor apresenta-nos uma catequese sobre Jesus, o Filho amado de Deus, que vai concretizar o seu projeto libertador em favor dos homens através do dom da vida. Aos discípulos, desanimados e assustados, Jesus diz: o caminho do dom da vida não conduz ao fracasso, mas à vida plena e definitiva. Segui-o, vós também.

    Jesus se transfigura diante de Pedro, João e Tiago. Seu corpo ficou luminoso e resplandecentes as suas vestes. Com isto Jesus quis manifestar aos discípulos que Ele era realmente o Filho de Deus, enviado pelo Pai. Jesus é o cumprimento de todas as promessas de Deus; é Deus conosco, a manifestação da ternura e da misericórdia do Pai entre os homens. A sua paixão e morte não serão o fim, mas tudo recobrará sentido quando Deus Pai o ressuscitar e o fizer sentar à Sua direita, na Sua glória. Tudo isto é dito de uma maneira plástica – luz, brancura, glória, nuvem… que indicam a presença de Deus.

    Jesus nos revela um Deus que surpreende. Fala da Glória. Todavia nos mostra que o caminho necessário para ela é o caminho da cruz, da paixão e morte, da entrega total de Sua vida pelo perdão dos pecados.

    Os três apóstolos ficaram surpreendidos no Tabor ao verem Jesus tão divinamente transfigurado, estando precisamente a rezar preocupado, como qualquer homem, com o que ia sofrer em Jerusalém. É neste mistério de luz que hoje a liturgia nos convida a fixar o nosso olhar. No rosto transfigurado de Jesus brilha um raio da luz divina que Ele conservava no seu íntimo. Esta mesma luz resplandecerá no rosto de Cristo no dia da Ressurreição. Neste sentido, a Transfiguração manifesta-se como uma antecipação daquilo que nós nos revestiremos quando tudo se consumar em todos. Aí sim celebraremos o mistério pascal.

     

    Na primeira leitura (Gn 22,1-2.9a.10-13.15-18) apresenta-se a figura de Abraão como paradigma de uma certa atitude diante de Deus. Abraão é o homem de fé, que vive numa constante escuta de Deus, que aceita os apelos de Deus e que lhes responde com a obediência total (mesmo quando os planos de Deus parecem ir contra os seus sonhos e projetos pessoais). Nesta perspectiva, Abraão é o modelo do crente que percebe o projeto de Deus e o segue de todo o coração.

    A segunda leitura(Rm 8,31b-34) lembra aos batizados que Deus os ama com um amor imenso e eterno. A melhor prova desse amor é Jesus Cristo, o Filho amado de Deus que morreu para ensinar ao homem o caminho da vida verdadeira. Sendo assim, o cristão nada tem a temer e deve enfrentar a vida com serenidade e esperança. “Se Deus é por nós, quem será contra nós (Cf. Rm 8,31b). São Paulo tem plena convicção de que Deus está do nosso lado, inabalável, totalmente empenhado em realizar o nosso verdadeiro bem. Ele encontra a prova irrefutável deste compromisso de Deus para conosco na morte de seu Filho, o qual Deus entregou à morte por todos nós, e na intercessão perpétua que Jesus faz por nós agora na presença do Pai como o Ressuscitado, o Vivente. Esta entrega e esta intercessão fazem de Paulo um homem de fé absoluto. Não há nada neste mundo, afirma ele, capaz de separar-nos do amor onipotente de Deus a nosso respeito (Cf. Rm 8,38-39). Este amor não apenas nos envolve, mas foi infuso em nossos corações pelo Espírito Santo, onde, segundo Paulo, ele está ativo e dinâmico, transformando-nos de um grau de glória para outro.

    Que possamos sair desta celebração com os olhos fixos em Jesus transfigurado no Monte Tabor. A glória que se irradia de toda a pessoa de Jesus é a glória reservada para nós na vida eterna. Assim caminhamos para a Páscoa pedindo que sejamos homens e mulheres santos quando nós possamos imitar o evento teofânico: “Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar” (Cf. Mc 9,3). Que esta luz perpétua ilumine a nossa vida a abandonarmos o pecado e, confiantes na graça divina, viver na intimidade e na presença da Santíssima Trindade.

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