O Sagrado Concilio do Vaticano II, entregou para toda a Igreja a reforma geral da liturgia. Reconheceu o Sagrado Concilio que o ano litúrgico é o centro do memorial da Páscoa de Jesus, colocando em destaque o domingo, dia do Senhor. Nos recordou sua importância, o santo Papa João Paulo II ao afirmar: O domingo, de facto, recorda, no ritmo semanal do tempo, o dia da ressurreição de Cristo. É a Páscoa da semana, na qual se celebra a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, o cumprimento n’Ele da primeira criação e o início da « nova criação » (cf. 2 Cor 5,17) (cf. Dies Domini,1). Então, a SC 6, afirmou ser o domingo o principal dia de festa, dia de alegria e de repouso na memória da santa ressurreição de Jesus, e o colocou como fundamento e núcleo do ano litúrgico.
Estamos vivendo o centro do ano litúrgico, que é o ciclo pascal, que engloba quaresma, tríduo pascal e tempo pascal. Na quaresma as comunidades se preparam para a grande celebração pascal, dedicando maior atenção à Palavra, à oração, e à solidariedade, sobretudo através da Campanha da Fraternidade: “Dai-lhes vos mesmos de comer”. A vigília pascal é coração do ano litúrgico, ponto alto do tríduo pascal. O tempo da Páscoa continua por 50 dias, o Pentecostes, compreendido como um só dia de festa.
O Brasil por sua extensão territorial, temos uma riqueza cultural e religiosa diversa. São tradições e devoções religiosas vividas, que nos aproximam do mistério celebrado, que nós agentes de pastoral devemos estar atentos pois elas nos ajudam a compreender a riqueza da experiencia religiosa e a fé de nosso povo. Assim sendo, é plenamente legítimo que no Brasil haja diferenças no jeito de celebrar a missa, importando que seja observado o que é substancial no rito da missa, conforme prescreve o Sagrado Concílio.
Tenho observado, via rede sociais, uma diversidade de missas do Domingo de Páscoa celebradas no Brasil. Cito dois exemplos que chamaram minha atenção: “Uma missa em que os fiéis leigos e ministro ordenados com “máscaras de coelhinho” e outra em que é realizada “primeira eucaristia” de catequisandos. A princípio, todos presentes parecem ficar satisfeitos e felizes, mas, o que não percebem e não entendem que isto é mais uma deformação litúrgica. Não é preciso falsear a dimensão simbólica com a intenção de tornar a missa participativa e alegre. Não é necessário realizar a “primeira eucaristia” de catequisandos neste dia, (no RICA descreve detalhadamente como celebrar os sacramentos da iniciação cristã na vigília ou tempo pascal) quando, temos ao logo do ano litúrgico várias outras oportunidades, para realizá-la.
Portanto, é importante observar que a Missa tem uma estrutura própria que lhe foi dada pelo próprio Senhor Jesus, na instituição da Eucaristia. As celebrações do ano litúrgico são portadoras de um sentido que pede toda a nossa atenção e nos conduz a uma vida nova. Torna-se evidente que a missa do Domingo de Páscoa tem sua centralidade própria. É o dia da ressurreição do Senhor. É o ressuscitado, na força do Espírito Santo, que se torna mistagogo e abre nossas mentes para a compreensão do mistério celebrado. Com efeito, a Igreja é fortalecida pelo Paráclito divino através da santificação eucarística dos fiéis (Ecclesia de Eucharistia 23).
Procuremos vivenciar cada celebração com sinceridade e com o coração de discípulos e discípulas, para receber de Deus luz e força para o caminho da nossa identificação com Cristo.
Padre Guanair da Silva Santos – Pároco e Mestre em Liturgia
Coronel Pacheco, MG, 14/04/2023