Nascimento de João Batista: uma lição sobre o nosso plano de vida

Celebrar o nascimento de João Batista é isso: agradecer a oportunidade de nascer e de estar vivo

Você sempre soube o que queria ser quando crescer? Se sua resposta é sim, que bom! Mas eu nunca soube e duvido que alguém tenha tanta certeza.

Passei boa parte de minha vida executando o que aparecia de oportunidade. Diferente de alguém que é determinado em fazer medicina ou a profissão dos sonhos. Eu sabia apenas o que eu não queria e de minhas poucas habilidades. Gostava muito de matemática, e ainda gosto. Eu poderia ter desejado fazer faculdade de matemática e ser professora; mas eu nunca pensei no que eu realmente queria. Também jamais passou pela minha cabeça que eu pudesse fazer uma faculdade de música, naquela época tinha verdadeira aversão à partitura (aprendia tudo de ouvido). Escolhi então Engenharia Elétrica, mas não passei. Eu tinha 17 anos.

Meu pai vendo a situação e por já ter estudado na Escola Técnica (atual IFES – Instituto Federal do Espírito Santo) pediu para que eu me matriculasse em algum curso pois “lá todo mundo sai empregado”, diziam. Fiz a prova e passei! Que felicidade! Mentira!!! Na verdade a expressão foi: “Que alívio!” Alívio por não repetir de ano. Em meus pensamentos, estava feliz por continuar os estudos. Em um ano já estava estagiando em uma empresa de grande porte. Aumentei meu conhecimento técnico, tive experiências e cresci como profissional. Mal terminei o curso e já entrei para o de Engenharia de Produção (esse curso tem um leque de oportunidade, assim pensava).

Eu ainda não sabia o que queria. Certa vez o gerente da empresa, conversando sobre o trabalho, apresentou-me uma planilha com o planejamento estratégico de cinco anos de sua vida junto à sua família. Aquilo era fantástico! Ter um objetivo, um ponto onde chegar, dar “check point” nas fases da vida, avançar as etapas e crescer rumo à meta profissional. Olhando para ele com admiração e vislumbrando poder fazer a mesma coisa sai da sala de reuniões muito empolgada e decidi ter o meu plano de cinco anos. Passaram-se 20 anos… sem plano.

Você deve estar pensando que sou uma maluca que não faz planos. E talvez eu seja mesmo. O que me lembro e o que tinha mais certeza na vida era o de um plano nada profissional: casar e ter muitos filhos, afinal minha avó materna teve 18 filhos (ah… não se assuste! A minha família é bem grande!). Eu podia não saber sobre minha carreira profissional mas tinha certeza que queria casar e ter filhos, até surgirem as desilusões amorosas.

A minha vida andava toda errada. Eu realmente parecia sem rumo. A única palavra que tinha de consolo era de minha mãe que me oferecia seu colo para eu chorar. O tempo passou e eu conheci o Carmelo de Nazaré em Cariacica. Ver aquelas freiras lindas, felizes, aguçavam uma vontade de estar no meio delas. Com meu teclado algumas vezes ia tocar nas missas do Carmelo, e, como em toda missa, olhava Jesus, com pouca fé, mas pedia que desse um rumo na minha vida. Recebi a imposição do escapulário no dia 16 de julho de 2005. Olhei para minha mãe e disse que ia pro Convento ser freira! Rapidamente com voz forte ela disse: “Ser freira é vocação! Você não pode querer ser freira para fugir do mundo!!!”. Entendi o recado. Foi assim, sem procurar, que encontrei meu esposo, ambos perdidos em uma boate de música sertaneja.

Casei-me e hoje tenho um marido que é mais do que pedi a Deus e dois filhos com saúde (ainda quero mais). Na celebração do sacramento do meu matrimônio eu escolhi um tema: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor com alegria”. E assim estamos vivendo cada momento, procurando não desagradar a Deus, e isso é um tanto difícil, mas não desistiremos. Sonho realizado, check point! Mas ainda não sei o que eu quero para minha vida profissional e também nunca fiz o plano de cinco anos. Pelo menos descobri que não estou tão perdida!

Eu poderia me contentar de estar feliz e “realizada”, tendo mais do que pedi a Deus. Então começo a ligar os pontos de minha vida. Atualmente olho para traz e penso em tudo o que já fiz. Acreditem! Eu não me orgulho de muita coisa! Mas se eu não tivesse sido quem eu fui talvez não teria conhecido meu marido, não teria casado. E, se eu não tivesse trabalhado naquela grande empresa e conhecido aquele gerente, eu hoje não estaria trabalhando com ele novamente, depois de 20 anos, em uma empresa de consultoria.

Se você parar para refletir a sua vida, também encontrará as conexões. Por mais bagunçada e desordenada, tudo tem um motivo, um objetivo. A sensação é que tudo parece estar arquitetado para que você chegue a um determinado ponto e geralmente não é aquilo que você sonha.

A história do nascimento de João Batista vem nos ensinar sobre nossos planos de vida. Deus escolheu João (inclusive seu nome). Sabemos de sua missão lendo os Evangelhos. Ele que desde o ventre de sua mãe foi purificado quando recebeu a visita do Espírito Santo através do ventre de Maria que gerava o Salvador. O último profeta antes de Jesus! Aquele que apontou para Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!” (João 1, 29). Escolhido, cumpriu sua missão, como tantos outros santos e santas, mas cheio da graça desde antes do seu nascimento.

Nós também fomos escolhidos, com todos os nossos defeitos! Deus sonhou comigo e com você antes mesmo de sermos formados no ventre de nossas mães! (Jeremias 1, 5-7) Ele podia ter escolhido dentre outros tantos melhores que você, com mais talentos, mas escolheu você no meio de milhões; escolheu você e eu porque nos ama! Por isso propõe para nós uma missão cuja a meta é o céu. E não importa quais foram as suas escolhas do passado ou as desgraças que assolaram a sua vida. Deus quer você para o céu, para junto dele. Pelos nossos erros do passado precisamos cumprir com esta nossa missão e, purificados, habitar com Ele junto com todos os anjos e santos no céu. Sim, meu irmão, minha irmã, ainda não somos dignos, por isso existe missão, que é individual e insubstituível!

Você e eu temos uma missão com nossa família, com nosso próximo, com a nossa vida! Porque ela foi sonhada por Deus e ninguém veio a este mundo de bobeira! Celebrar o nascimento de João Batista é isso: agradecer a oportunidade de nascer e de estar vivo! Somos escolhidos e muito amados, caso contrário não existiríamos. Vamos pregar o Evangelho e fazer a vontade do Pai que nos espera no céu e ilumina nosso caminho para que possamos cumprir com SUA vontade, para isso, basta abrirmos os olhos.

Deus poderia ter permitido alguma doença grave sobre minha vida, assim, teria uma vida de restrições não tendo tempo; e mesmo assim isso não poderia ser um fardo e sim uma graça para crescimento interior, ou para conversão de pessoas próximas. O sofrimento de algumas pessoas podem servir de redenção para outras, não foi assim com Jesus? Só que a carga foi bem maior.

Mas peço que entenda que o fato de ter saúde é o que me possibilita trabalhar, cuidar de minha família, tocar e cantar nas missas, gravar os salmos, participar do Grupo de Mães, e escrever agora, dando minha contribuição para quem sabe despertar este mesmo desejo de compreender o querer de Deus para a sua vida. E ainda fazemos tão pouco do muito que nos é dado.

Que Deus desperte em você o mesmo que despertou em João Batista ainda no seio de Isabel. Aquele desejo ardente de ser instrumento da graça na vida do outro, cumprindo com sua missão aqui neste mundo, para um dia, ser merecedor da vida eterna. Que Viva João Batista! Que viva Cristo! Que Viva o Amor em nós!

Por Marcela Buback Del Antonio, do Hozana 

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